Outdoors pró e contra Bolsonaro se espalham pelo país

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Foto: Reprodução

Com manifestações de rua esvaziadas pela pandemia, mensagens de apoio e de oposição ao presidente Jair Bolsonaro foram parar em outdoors em várias cidades do país. Em alguns deles, Bolsonaro virou garoto propaganda da cloroquina e até a ema do Palácio da Alvorada, que ficou conhecida por bicar o presidente, ganhou o seu momento de fama. As formas de custear os protestos são diversas, desde financiamento coletivo pela internet a patrocínio de empresários na região.

Em Palmas, no Tocantins, um grupo de moradores instalou dois outdoors de oposição ao governo. Um deles traz a mensagem “Ai meente! Vaza Bolsonaro. #OTocantinsQuerPazJá!” e o outro “Não vale um pequi roído. Palmas quer #Impeachment já!”.

O cientista social Tiago Rodrigues, de 36 anos, é um dos idealizadores da iniciativa. Segundo ele, a arte foi desenvolvida pelo próprio grupo, que optou por anúncios mais divertidos, com mensagens diretas e trazendo referências locais. Nos cartazes, Bolsonaro aparece com um pequi, fruta famosa na região, laranjas e caixas de cloroquina. Ao todo, 60 pessoas colaboraram com a iniciativa, que arrecadou R$ 2,5 mil reais.

“Optamos por fazer uma coisa limpa e que pega. “Ai mente” e “não vale nem um pequi roído” são gírias bem populares aqui. A ideia era fazer só um outdoor, mas conseguimos arrecadar mais do que imaginávamos. Completamos o valor e resolvemos colocar um segundo cartaz”, conta Tiago, acrescentando como a ideia nasceu. “Vimos um outdoor no interior e achamos importante ter um aqui. Via que as pessoas tinham muita vontade mas não tinham ação. Então, eu dei a ideia”.

Antes, Palmas recebeu um outro outdoor de oposição ao governo Bolsonaro, instalado pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). Segundo Tiago, a peça foi rasgada por bolsonaristas, que também questionaram o tom da crítica e fizeram acusações de uso de dinheiro público para o financiamento. Agora, há também cartazes de apoio na cidade.

“Não colocamos como resposta a nenhum outro outdoor. Nosso movimento foi coletivo, apartidário. Depois do cartaz do sindicato, tivemos a preocupação de não ser ligado a nenhuma instituição e mostrar que somos um movimento popular amplo. Pensamos em uma comunicação que não fosse criticada por ser pesada, por exceder nas críticas”, conta Tiago.

Em Recife, as mensagens foram de apoio ao governo. Uma delas, fixada pelo menos desde julho, dizia “obrigado, presidente: por salvar a economia pós-pandemia”. No sábado, o Brasil atingiu a trágica marca dos 100 mil mortos pelo coronavírus. Alguns outdoors também agradeciam o auxílio emergencial e defendiam a liberdade de expressão: “Somos mais de 57 milhões. Respeitem-nos!”.

Em Vitória (ES), Bolsonaro virou garoto propaganda da cloroquina. A imagem do presidente foi estampada junto com mensagens que sugeriam a eficácia do medicamento contra a covid-19. O outdoor foi removido por ferir a legislação de propaganda de medicamentos. A peça, que anunciava que “tratamento precoce salva vidas”, não discriminava a autoria.

Ainda na onda da cloroquina, a ema, apelidada na internet de “ema antifascista”, também entrou no cabo de guerra, saindo do jardim do Palácio da Alvorada direto para outdoors em Sete Lagoas (MG).

O momento de fama começou ainda em Brasília, quando, no jardim do Palácio da Alvorada, o presidente exibiu uma caixa do medicamento na direção do animal, que deu as costas para Bolsonaro. Em outro momento, o presidente chegou a levar uma bicada enquanto insistia em interagir com a ave.

Sete Lagoas ficou marcado por embates entre cartazes de apoio, financiado por lojistas da região, e de oposição, financiado por um grupo de moradores.

Após a peça bolsonarista ser instalada exibindo a mensagem “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e “7 Lagoas apóia (sic) Bolsonaro”, os opositores responderam com outdoors que mudavam a frase original para “7 Lagoas apoia a ema que bicou Bolsonaro” ao lado de uma foto do presidente riscada com um X.

O cartaz do grupo de oposição ainda lembrou algumas frases ditas por Bolsonaro ao longo da pandemia do coronavírus — como “E daí”, “É só uma gripezinha”, “Quer que eu faça o que?” e “não sou coveiro” — ao lado do registro da marca de 80 mil mortos alcançados pelo Brasil à época.

Em Assis (SP), a empresa responsável pela instalação das peças em apoio ao presidente teve os muros pichados. Foram cerca de 20 cartazes financiados por um empresário da região. A cidade também recebeu cartazes de apoio ao SUS, em defesa da democracia e luto pelas vítimas da Covid-19.

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