Reeleição de Maia vai gerar resistências

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Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é visto como favorito para comandar a Casa em 2021 caso o Supremo Tribunal Federal (STF) permita sua reeleição – o que a maioria dos deputados considera improvável, já que há vedação explícita na Constituição-, mas já foi avisado de que enfrentará resistências mesmo se ele for autorizado.

Dentro da oposição, uma das principais bases de apoio de Maia e que conta com 130 votos, há dois grupos: os defensores de um apoio a ele ou alguém apoiado por ele já no primeiro turno, para “manter a independência” do Legislativo; e os que pregam o lançamento de candidatura própria para marcar território para a eleição nacional de 2022.

Um petista influente afirma que a maioria da bancada do PT é favorável à aliança, mas que a presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), é contra. O Psol também pretende, novamente, lançar candidato próprio – Marcelo Freixo (RJ) teve 50 votos ano passado, apesar de a sigla ter só dez deputados. Alessandro Molon (RJ), atual líder do PSB, também é outro que se movimenta para aglutinar a oposição em torno de seu nome.

Maia já teria sido alertado sobre erros durante a atual gestão que poderiam fazer com que perdesse o apoio dos opositores, caso decida disputar a eleição. Além da recente aproximação com o presidente Jair Bolsonaro, a pauta econômica liberal e recentes declarações de que nenhum dos pedidos de impeachment é forte o suficiente para avançar têm irritado deputados da esquerda.

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) afirmou que Maia é o favorito se puder concorrer, mas que o apoio não seria automático e que há os defensores de uma candidatura única da oposição ao governo. “São dois anos de preparação para a eleição presidencial e a agenda econômica do Rodrigo vai na contramão do que achamos necessário”, disse. Mas ressaltou que a tática eleitoral não está definida e será debatida nos próximos meses.

Por outro lado, Maia tem aliados fiéis na oposição e espera-se que o PDT seja um dos primeiros a embarcar na aliança. O DEM se aproximou da sigla ao negociar apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT) para 2018 e a relação estreitou na eleição municipal deste ano. O atual presidente da Câmara também deu espaço de atuação para a oposição e barrou parte da agenda do presidente Jair Bolsonaro.

Ele também ouviu de PP e Republicanos, que apoiaram sua última candidatura, que não desistirão de concorrer mesmo que o STF autorize a reeleição. Eles afirmam que parte dos deputados resistirá a uma “eternização” no poder – Maia iria para o quarto mandato consecutivo na presidência – e que ele não contaria com votos em seus partidos.

O PP deve lançar como candidato o deputado Arthur Lira (AL), líder da bancada da Câmara e articulador informal do governo Bolsonaro, e o Republicanos concorrerá com Marcos Pereira (SP), presidente do partido e vice-presidente da Câmara. Ao lado de Maia, ficariam Solidariedade, MDB, DEM, Cidadania e PSDB, projetam seus adversários.

Maia sinalizou a esses partidos que só se houvesse um apelo das siglas que lhe deram sustentação na última eleição ele aceitaria concorrer de novo. Mas, no fundo, aliados de Maia e seus possíveis adversários afirmam que é muito cedo para traçar os cenários. Um dos deputados que trabalhava para se viabilizar como alternativa disse ao Valor que já tirou o pé. “Eu preciso antes saber quais são as regras do jogo para poder jogar”, comentou.

Alcolumbre tem conversado com ministros do STF para receber a permissão para disputar um novo mandato. Maia estava fora dessas articulações, mas uma ação protocolada pelo PTB para impedir a candidatura deu a ele, justamente, a chance de o assunto ser debatido e modificado pelo Supremo. Eles se reuniram em São Paulo com o ministro Alexandre de Moraes antes de o Senado propor ao STF uma tese para tentar permitir a reeleição de ambos – o que foi visto por seus adversários como a comprovação dessas articulações.

O presidente da Câmara tem negado reiteradamente isso. “Foi só uma conversa. Nada de reeleição, nada desse assunto. Não sou candidato a reeleição”, disse à imprensa na semana passada. “Toda hora que eu encontrar um ministro do Supremo agora vou estar tratando da possibilidade de reeleição, do que já é proibido? Eu já disse várias vezes que não sou candidato à reeleição”, afirmou.

Valor Econômico