Sem Lava Jato, PIB seria 27% maior

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Foto: Claudio Belli/Valor

Se nos sete anos terminados em 2020 a economia brasileira tivesse continuado a crescer no ritmo médio anterior a 2014, o país teria um Produto Interno Bruto (PIB) R$ 1,8 trilhão maior agora, ou 27% acima do nível atual. Os cálculos são da MB Associados, que comparou a expansão real do PIB acumulada de 2014 a 2020 – considerando a projeção da consultoria para este ano – com a trajetória que teria sido observada se o país tivesse crescido, no período, na mesma velocidade média anual registrada de 1997 a 2013, de 3,2%.

Para a MB, a economia vai encolher 6,4% este ano, após aumento de 1,1% em 2019. Em 2015 e 2016, o PIB encolheu 3,5% e 3,3%, pela ordem. O exercício mostra o que se perdeu em termos de crescimento nos últimos anos, mas também o desafio da recuperação à frente, especialmente em setores importantes como investimentos e construção civil, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria.

“Desde 2013, o Brasil tem sofrido solavancos de diversas formas que levaram a uma queda importante e histórica do PIB e do PIB per capita no período”, afirma ele. “Com a probabilidade de maior queda do PIB da história, 2020 não ficará sozinho na contabilidade de desastres econômicos que têm afetado o país”, comenta Vale.

A análise por componentes do PIB evidencia que mesmo o agronegócio, que tem dinâmica mais favorável que outros segmentos, poderia ter mostrado desempenho melhor no período sem os “desajustes” na economia, aponta Vale. Em suas estimativas, o PIB efetivo da agropecuária estaria 8% aquém do que poderia ter crescido, ou R$ 24,2 bilhões abaixo. E este é o resultado menos negativo entre os setores do PIB.

Na ponta mais negativa, a indústria teria “perdido” 31% de crescimento desde 2014, ou R$ 411,8 bilhões de PIB. Dentro do PIB industrial, a construção “perdeu” 49%, o equivalente a R$ 181,5 bilhões a menos. Na indústria de transformação e no setor extrativo mineral, os percentuais são de 32% e 15,8%, respectivamente. “Mesmo setores competitivos, como o agronegócio ou a indústria extrativa mineral, que teve bons resultados recentes em petróleo e mineração, foram afetados pela crise”, ressalta Vale.

Por fim, nos serviços, o crescimento registrado desde 2014 ficou 26% inferior ao ritmo verificado de 1997 a 2013. Se o setor tivesse continuado a crescer no ritmo anterior a 2014, seu PIB real estaria R$ 1 trilhão mais alto ao fim de 2020. Dentro do PIB dos serviços, o pior comportamento foi observado no segmento de intermediação financeira e seguros (34,7% a menos de crescimento), e o melhor, na administração pública, com distância de 15,6% ante o crescimento potencial.

Do lado da demanda, chama atenção a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção e inovação). O investimento avançou 52% abaixo de seu ritmo potencial de 2014 para cá, destaca o economista. “Se tivesse mantido o ritmo, a taxa de investimento estaria em 22% do PIB hoje, e não nos 14% em que se encontra”, estimou. No consumo das famílias, a diferença é de 25%, e, nas exportações, de 32,3%. Já as importações teriam crescido 52% mais se tivessem seguido no padrão de 1997 a 2013.

Todos os cálculos consideram como base o PIB de 2013 e aplicam o crescimento real desde então até o ano atual. “Não se deve considerar o período entre 1997 e 2013 especialmente forte em crescimento na média, o que coloca o resultado em situação ainda pior”, destaca Vale.

“No final, todos os setores têm sido impactados negativamente pelas crises recorrentes desde 2014”, resume o economista-chefe da MB. Analisando a série histórica do PIB brasileiro, é possível identificar três momentos diferentes, observa ele: o que vai até 1980, com forte crescimento; o da década de 80 até 2013, marcado por desaceleração significativa, e o iniciado em 2014.

“O período atual é uma incógnita. Ele pode ser a continuidade de anos medíocres vistos nas décadas anteriores ou um novo período de piora econômica mais profunda”, alerta Vale. “Mudar isso certamente depende da continuidade das reformas que têm sido feitas, mas também de uma estabilidade política que nos falta há alguns anos.”

Valor Econômico