Advogado de Bolsonaro vira réu da Lava Jato
Foto: Adriano Machado / Reuters
A juíza substituta da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Caroline Vieira Figueiredo, aceitou denúncia contra os advogados Frederick Wassef, Luiza Nagib Eluf e Marcia Carina Castelo Branco Zampiron, o ex-presidente do Sesc/RJ, Orlando Diniz e o empresário Marcelo Cazzo. Com isso, eles tornam-se réus junto com outros acusados pela força-tarefa Lava -Jato a partir da Operação E$quema S. A primeira denúncia do caso contra 26 pessoas tramita na mesma vara.
Na denúncia, o MPF narra a prática de peculato e lavagem de dinheiro envolvendo R$ 4,6 milhões desviados das seções fluminenses do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), entre dezembro de 2016 e maio de 2017, sob o manto de uma prestação de serviços advocatícios à Fecomércio/RJ. Além do peculato cometido, a Lava-Jato cita três conjuntos de fatos para acusar os cinco por lavagem de ativos.
A decisão favorável ao recebimento da denúncia foi atribuída pela juíza à existência de um amplo conjunto de provas, que inclui análises da Receita Federal sobre movimentações reveladas a partir da quebra judicial de sigilos bancários, elementos obtidos na Operação Zelotes e compartilhados pela 10ª Vara Federal/DF, material arrecadado pela Polícia Federal a partir de buscas e apreensões, além de declarações de um dos réus.
A denúncia não foi analisada pelo juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal, porque ele está de férias.
Wassef foi citado na delação do empresário Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio. O grupo foi acusado de desviar R$ 4,6 milhões das seções fluminenses do Serviço Social do Comércio (Sesc), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e da Federação do Comércio (Fecomércio). Wassef ficou com R$ 2,6 milhões do total.
O MPF afirma que o grupo de réus se valia do uso de contratos falsos em que serviços advocatícios declarados não eram, de fato, prestados, mas remunerados por elevados honorários.
Foram seis pagamentos, entre 2016 e 2017, do escritório Nagib Eluf para Wassef. O GLOBO apurou que o escritório foi contratado por Diniz e depois subcontratou Wassef para supostamente atender casos de vazamento e falsificação de documentos.
Segundo o MPF, a contratação de Eluf foi apenas uma forma de dissimular a contratação de Wassef. A suspeita é que o ex-advogado dos Bolsonaros tenha lavado dinheiro desviado do esquema da Fecomercio-Rio.
“O contexto descrito revela que o escritório ELUF & SANTOS ADVOGADOS foi o recebedor ostensivo do dinheiro que foi, em verdade, destinado a FREDERICK WASSEF e MÁRCIA ZAMPIRON. Assim, aquele ocultou os reais proprietários dos valores, em típica atividade de lavagem de capitais”, escreveram os procuradores no pedido de busca e apreensão.
Diniz relatou na colaboração premiada que o escritório da procuradora Luiza Eluf foi “contratado para coordenar sindicâncias internas relativas a vazamentos já em andamentos”.
Diniz afirmou aos procuradores que Luiza Eluf “indicou Frederick Wassef para tratar do objeto do contrato, atuando em nome do escritório dela” e que “acredita que Frederick Wassef não podia ser contratado diretamente porque a esposa dele era dona de uma empresa de tecnologia de informação com problemas na justiça”. Diniz admitiu frequentar a casa de Wassef e da ex-mulher dele Maria Cristina Boner, em Brasília, e que o advogado também esteve na sede da Fecomércio.
No entanto, Diniz disse que não aprovou os serviços de Wassef e que ele “sumia por longos períodos” e que “isso provocou desgaste”. Questionado pelo MPF sobre “a real prestação de serviços”, Diniz disse que a contratação “não valeu a pena, tampouco pelos valores que foram cobrados pelo contrato”.
O MPF também citou um novo relatório do Coaf que também apontou mais repasses de Bruna Boner, filha de ex-mulher de Frederick Wassef para o ex-advogado da família Bolsonaro. O relatório registra um total de quatro repasses entre março e setembro do ano passado no valor de R$ 437 mil e foi repassado por Bruna a partir de valores oriundos de uma empresa dela chamada Peach Tree Empreendimentos Imobiliários. O Coaf também detectou uma transação suspeita de U$ 300 mil com uma offshore do Panamá.
Em agosto, o GLOBO mostrou que Bruna fez repasses no valor de R$ 2,3 milhões para Wassef entre dezembro de 2018 e maio deste ano. Wassef alegou que os repasses eram o pagamento de um empréstimo. Bruna Boner é filha de Maria Cristina Boner, fundadora da holding Globalweb Outsourcing, empresa de Bruna.
O advogado Frederick Wassef defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) até junho deste ano no caso das rachadinhas no MP-RJ. Ele saiu depois que Fabrício Queiroz foi preso em sua casa em Atibaia, no interior de São Paulo.
Procurado, Wassef não retornou.
Já a advogada Luiza Eluf “lamenta profundamente a genérica decisão da Justiça Federal”. A advogada disse que foi denunciada sem jamais ter sido ouvida pelos procuradores da República e reafirmou com “veemência sua inocência, confiante de que comprovará sempre ter trabalhado de forma correta e transparente, e não permitirá que falsas acusações maculem sua vida pública”.
As advogadas Izabella Borges e Maíra Fernandes, defensoras de Luiza Eluf, acreditam em “perseguição” e que tudo é “fruto da chamada Justiça do espetáculo, que é extremamente danosa ao nosso país. Luiza Eluf reforça que não praticou crime algum, que o serviço foi prestado conforme contrato, as notas emitidas, os tributos recolhidos”.