Arminio Fraga diz que desmatamento prejudica economia

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Foto: Reprodução

O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga avaliou que o desmatamento vai prejudicar cada vez mais o agronegócio, as exportações e os investimentos estrangeiros no Brasil. Segundo ele, o mesmo “obscurantismo” que prejudicou o combate à pandemia de Covid-19 no país atrapalha o enfrentamento aos problemas ambientais. Disse também que o Brasil, pelas ações tomadas, tem merecido a imagem negativa que tem no cenário internacional. Afirmou ainda que existe o risco de o país virar um “pária”, mas destacou que é possível reverter isso.

Ele participou na manhã desta terça-feira de uma audiência virtual organizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para analisar uma ação em que os partidos PSB, PSOL, PT e Rede Sustentabilidade acusam o governo federal de omissão por não adotar providências para o funcionamento do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima.

— O desmatamento e outros crimes ambientais, além de agravarem o problema global, trazem enorme risco para o ecossistema do agronegócio, nosso setor mais bem-sucedido, e também para a oferta de energia no nosso país. Prejudica também cada vez mais o acesso a mercados a nossos produtos. Basta lembrarmos o acordo com a União Europeia. E, por fim, em face da crescente ênfase por parte das melhores empresas do mundo, do trio chamado em inglês ESG, traduzindo meio ambiente social e governança, essa crescente ênfase reduz a atratividade do Brasil como destino de investimentos — disse Fraga

Depois afirmou:

— Em função da piora concreta das taxas de desmatamento e de sinais abundantes que prevalece hoje uma certa tolerância com a questão, o Brasil tem merecido uma imagem bastante negativa na cena internacional. O mesmo obscurantismo que nos prejudicou e nos prejudica no combate à pandemia nos afeta também nos temas ambientais. Qualquer hesitação portanto nessa área reforça essa percepção negativa que hoje e abate sobre nós. Não estamos condenados à condição de pária, que é o risco que hoje corremos.

O debate está está sendo usado para falar da política ambiental do governo federal como um todo, em especial o desmatamento e as queimadas. Fraga destacou inclusive que são temas interligados.

—A persistir o aumento da temperatura do planeta, as consequências serão devastadoras. O trem já partiu, e todo cuidado é pouco. Estima-se que o impacto econômico e social ao longo do tempo será maior que o da pandemia. Imagino até bem superior — afirmou Fraga.

O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, defendeu o trabalho do órgão. Em 2019, ele foi demitido do cargo após embate com o presidente Jair Bolsonaro, que pôs em dúvida os dados divulgados mostrando o aumento do desmatamento na Amazônia. Recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão também atacou o trabalho do Inpe. Galvão criticou inclusive o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, por não defender com mais veemência o órgão que faz parte da estrutura da sua pasta.

— Os resultados produzidos até recentemente no monitoramento e controle do desmatamento em vários biomas brasileiros se deve ao trabalho árduo e dedicado de várias instituições nacionais, em particular Ibama, ICMBIO e Inpe. Por isso, é com grande tristeza que vemos a forma como essas instituições são tratadas no atual governo. Em particular, o Inpe voltou a ser fortemente criticado por autoridades governamentais e várias iniciativas estão sendo adotadas para diminuir seu protagonismo no programa espacial brasileiro e na atividade de monitoramento dos biomas nacionais por satélites de observação da terra. Infelizmente, em sua manifestação o ministro Marcos Pontes apesar de corretamente mencionar que os dados do instituto são auditados e transparentes evitou contestar as críticas de forma mais veemente — disse Galvão.

Na semana passada, a ministra Ana Arraes, do Tribunal de Contas da União (TCU), suspendeu um contrato de R$ 49 milhões em que o Ministério da Justiça contratou a empresa Planet para fornecer imagens de satélite para monitorar desmatamento e queimadas. Ela destacou que o Inpe já fornece esse serviço de forma gratuita. Nesta terça, Galvão reconheceu que a resolução do sistema da Planet é melhor, mas ressaltou que o do Inpe tem outras vantagens que o tornam mais adequado para a tarefa.

— Esse sistema [da Planet] não é adequado para o sistema de alertas Deter [do Inpe] que está baseado em imagens de menor resolução, mas com ampla faixa de varreduras e com câmeras que têm calibração espectral confiável. Os sensores da Planet são instrumentos de prateleira, de muito menor qualidade, e de difícil calibração entre câmeras por diversos satélites que compõem a constelação. Essas imagens são certamente de suficiente qualidade para interpretação visual e monitoramento das atividades humanas ilícitas, como garimpo ilegal, por exemplo, mas seu uso em processamento automatizado é muito difícil, exigindo muitas calibrações cruzadas Em conclusão, reitero ser essencial ao país reforçar a atuação do Inpe como avançada instituição de desenvolvimento científico e tecnológico, responsável por monitoramento por satélite de nossos biomas e pela execução das aplicações civis do programa espacial brasileiro, atendendo demandas especiais dos diferentes órgãos do governo — disse Galvão.

O Globo