Bolsonaro diz que pediu pra supermercados trabalharem de graça

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Foto: Marcos Corrêa

O presidente Jair Bolsonaro disse ter feito “um apelo” aos donos de supermercado para que a margem de lucro sobre os produtos essenciais seja próxima de zero. O setor tem reportado pressão da indústria para aumentar os preços de alimentos e outros itens da cesta básica.

Bolsonaro fez a afirmação durante encontro com médicos no Palácio do Planalto. O comentário surgiu quando ele disse que, se não fosse o auxílio emergencial pago a pessoas vulneráveis, “poderíamos ter seríssimos problemas sociais no Brasil”.

“Tenho conversado com alguns donos de grandes redes de supermercados desde a semana passada, com o presidente da associação também dos supermercados, fazendo um apelo. Nós criamos aí o auxílio emergencial para exatamente poder dar oportunidade para o pessoal que perdeu emprego comer”, afirmou.

“Então, tenho apelado para eles… Ninguém vai usar a caneta Bic para tabelar nada, não existe tabelamento. Mas [estamos] pedindo para eles [para] que o lucro desses produtos essenciais nos supermercados seja próximo de zero”, completou.

O presidente criticou a orientação dada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, hoje seu desafeto, para que as pessoas ficassem em casa no início da pandemia de covid-19.

“Imaginemos se o pessoal do campo tivesse ficado em casa. Hoje não teria… O arroz sei que está caro, a óleo soja subiu, sei disso… Mas nem teríamos isso para comer, e um povo com fome é um povo que não tem razão”, afirmou.

Bolsonaro disse acreditar que, com a nova safra de arroz, “a ser colhida em dezembro, janeiro, […] a tendência é normalizar o preço”.

Entretanto, 70% da produção nacional de arroz é no Rio Grande do Sul, e a colheita só começa em fevereiro. Os Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás começam suas colheitas em janeiro, mas com impacto menor sobre as cotações do produto.

“Outras medidas estão sendo tomadas pelo ministro da Economia [Paulo Guedes], bem como pela ministra Tereza Cristina, para nós, o mais rápido possível, darmos uma resposta a esses preços que dispararam no supermercado”, disse o presidente.

Horas antes, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi questionada por uma criança de dez anos – convidada a fazer perguntas aos ministros por Bolsonaro – sobre se os preços do arroz cairiam.

“Agora, ele está alto, mas nós vamos fazer ele baixar. Se Deus quiser, vamos ter uma supersafra ano que vem”, respondeu.

Uma das razões para a alta do arroz é a elevada demanda pelo cereal durante a quarentena. Além disso, com o dólar atrativo e a quebra da safra da Tailândia, o Brasil teve exportações excepcionalmente altas, que contribuíram para a disparada dos preços internos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção de arroz alcançará 12 milhões de toneladas na safra 2020/21, 7,2% mais que a colheita deste ano (2019/20).

Durante encontro o com médicos no Palácio do Planalto, Bolsonaro se queixou de carregar a “pecha de genocida” por conta das mais de 127 mil mortes por covid-19 no país e disse que foi impedido de agir como gostaria pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente referiu-se à decisão do STF que deu a prefeitos e governadores a autoridade de decretar medidas de isolamento social, às quais sempre se opôs.

Bolsonaro também afirmou que a hidroxicloroquina poderia ter salvo 30% das vidas perdidas por conta da covid-19. Ele disse que sua afirmação se baseia em “alguns estudos”, mas não fez referência a estudo nenhum.

Contraindicada pela comunidade médica de todo o mundo para o tratamento da covid-19, a hidroxicloroquina, além de ineficaz contra a doença, aumenta o risco de arritmia cardíaca, que pode levar à morte.

Os médicos presentes no encontro, porém, somaram-se ao presidente na defesa do uso do medicamento. O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), outro apologista da hidroxicloroquina, acompanhou o presidente.

Valor Econômico