Candidatas negras sofrem ataques racistas em MG

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Foto: Reprodução

As candidatas a vereadoras pelo PSOL Tainá Rosa e Lauana Nara entraram com uma representação no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) após serem vítimas de ofensas racistas durante uma plenária virtual no último sábado (26). Os suspeitos ingressaram na reunião que visava debater o programa de campanha conjunta das duas e enviaram mensagens como “Negro macaco” e “brancos no topo”.

Durante a plenária, os autores do ataque ainda inseriram músicas de apelo sexual e com apologia ao estupro. A tentativa de excluí-los da sala virtual ou silenciar seus áudios foi em vão, já que o encontro acontecia por uma versão gratuita de uma plataforma que ofertava recursos limitados de controle.

“Achamos que era sem querer, que alguém tinha deixado uma música tocando. Mas aquilo foi se intensificando. Desligamos o microfone da pessoa, mas outras começaram a fazer. Foi quando vimos que tinha um trio. Tiramos as pessoas da sala e elas retornavam. Ficou incontrolável”, disse Tainá, que precisou migrar para o Facebook para continuar a reunião.

Segundo ela, a plenária era aberta ao público, que deveria se inscrever por um formulário online. As pessoas que se cadastraram receberam o link por e-mail, que foi disponibilizado minutos antes em uma plataforma que agrupa endereços eletrônicos.

“Não era uma pessoa só, era um grupo organizado. Eles iam no chat chamar a gente de macaco, falando que brancos estão no topo. Aí ficou insustentável”, afirmou a candidata.

A plenária tinha o intuito de discutir um dos eixos de atuação do programa de campanha, cuja espinha dorsal é o enfrentamento ao racismo. Em pauta, estavam questões de mobilidade urbana, cultura periférica e saúde mental. Os temas eram debatidos por ativistas, professores e artistas que participavam do encontro.

Tainá e Lauana compõem uma candidatura conjunta à vereança em Belo Horizonte, capital mineira. Como a legislação não permite o registro duplo, Tainá foi oficializada como candidata, embora as duas pretendam exercer o mandato em colaboração, caso eleitas.

Entre os 41 vereadores em exercício na Câmara de Belo Horizonte, apenas quatro são mulheres — nenhum delas negra. As candidatas se apegam nessas estatísticas para não arrefecerem e levarem suas ideias adiante.

“Essa é a primeira vez que eu e Luana nos colocamos (como candidatas). Sempre fizemos ativismo, construímos movimentos nacionais de luta das mulheres negras. Nesses lugares, a pauta da violência sempre aparece, na perspectiva de ter cuidado, condição psicológica e social de enfrentar e superar isso. Mas tem limite. Sou uma professora, trabalho com teatro. É difícil de imaginar que a minha existência e a minha pele causem tanta repulsa nas pessoas”, disse Tainá. “A gente não vai recuar. Isso reforça a narrativa de que é importante ocuparmos esse espaço”.

Após a representação, o Ministério Público de Minas Gerais disse que vai tomar as devidas providências para apurar o ocorrido. As vitimas, no entanto, almejam mais do que apenas a punição dos responsáveis.

“Não é só punir, excluir e penalizar. É para aprendermos coletivamente para que não aconteça mais”, afirmou Tainá.

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