Cientista que liderou estudo sobre vida extraterrestre tem carreira densa

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Foto: Reprodução

Há vida fora da Terra? A ciência nunca esteve tão perto de responder a essa pergunta. Um grupo de pesquisadores anunciou nesta segunda-feira (14) a detecção de fosfina na atmosfera de Vênus. A presença do gás, que na Terra é fruto de ação biológica, pode ser um forte indicador da presença de vida microbiana no planeta vizinho. Por trás dessa descoberta histórica, está uma mulher: a astrônoma Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, no Reino Unido, que liderou o estudo.

— Eu fiquei muito surpresa. Estupefata, na verdade — disse a cientista, que há mais de 20 anos atua estudando e observando os planetas. O trabalho envolveu pesquisadores de diversas áreas do Reino Unido, Japão e EUA e foi publicado no periódico científico Nature Astronomy.

A descoberta do gás fosfina em Vênus foi feita pelos cientistas no Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, e confirmado por meio do radiotelescópio Alma, no Chile. Esta é a primeira vez que este composto é descoberto em um planeta telúrico do Sistema Solar, com exceção da Terra. Por aqui, o composto químico só é produzido na atividade industrial (altamente tóxica) ou por bactérias que vivem em ambientes sem oxigênio (como é o caso da atmosfera venusiana).

Greaves explica que os pesquisadores avaliaram possíveis fontes não biológicas do composto, como atividade vulcânica, meteoritos e diversas reações químicas, mas nenhuma pareceu viável. As pesquisas continuarão com o intuito de confirmar a presença de vida no planeta ou encontrar uma explicação alternativa.

A cientista que liderou os estudos trabalha há mais de 20 anos pesquisando os planetas e as conexões do Sistema Solar, particularmente observando o planeta-anão Plutão e as luas geladas de Júpiter e Saturno, que podem abrigar vida, como explica em seu currículo disponível no site da Universidade de Cardiff. Antes de dar aulas na instituição galesa, em 2015, ela atuou na Universidade St. Andrews, no Observatório Real de Edinburgo, no Telescópio James Clerk Maxwell, na Universidade de Massachusetts e na Queen Mary University of London. Em seu currículo, ela acumula dezenas de publicações e uma série de outros feitos importantes para as ciências planetárias, além de se dedicar extensivamente, segundo ela própria, por justiça para as mulheres cientistas.

Além de liderar o estudo que pode permitir que a ciência responda se de fato há vida fora da Terra, mostramos em CELINA outras cinco realizações de Jane Greaves:

A pesquisadora se dedica à observação de formação de planetas em torno de estrelas jovens e lidera um projeto de pesquisa (o Planet-Earth Building-Blocks Legacy eMERLIN Survey – PEBBLeS), que estuda regiões de formação de estrelas próximas ao Sistema Solar para encontrar locais que têm o maior potencial para a formação de planetas.

Ela fez a primeira imagem de um disco de detritos em torno de uma estrela similar ao Sol
Jane Greaves foi a primeira a capturar em imagem um cinturão de detritos de colisões de cometas em torno de estrelas semelhantes ao Sol, em 1998. A pesquisadora usou esses dados para analisar como o impacto dessas colisões poderiam prejudicar ou ajudar a vida em planetas. O trabalho pioneiro lhe rende um reconhecimento pelo Instituto de Física do Reino Unido.

Em 2017, Jane Greaves foi premiada com a medalha e o prêmio Fred Hoyle, do Instituto de Física do Reino Unido, pela sua contribuição significativa para a compreensão da formação dos planetas e habitabilidade de exoplanetas, por meio da primeira imagem de discos de detritos ao redor de estrelas semelhantes ao Sol, feita em 1998, e outros corpos do sistema Solar, usando telescópios infravermelhos.

No ano 2000, a astrônoma mapeou a estrutura magnética da galáxia M82, uma galáxia irregular localizada a cerca de doze milhões de anos-luz de distância na direção da constelação de Ursa Maior. O estudo visava observar o nascimento de estrelas em meio as nuvens de gás. As observações também foram feitas pelo Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí.

No meio do mapeamento, o time de pesquisadoras encontrou uma gigante bolha magnética envolvendo a galáxia. “Esta é uma nova característica das galáxias que não conhecíamos antes e pode mostrar como os campos magnéticos ajudam a moldar a evolução das regiões de explosão estelar”, dissa a pesquisadora à BBC, na época.

Em 2011, quando ainda estava na Universidade de St. Andrews, também no Reino Unido, a cientista liderou um estudo que não só confirmou a presença de monóxido de carbono altamente tóxico na atmosfera de Plutão como mostrou que a quantidade dobrou desde o ano 2000, fato pouco comum, mas que, segundo a cientista, pode ter relação com estações extremas no planeta-anão.

O Globo