Dallagnol nega pretensões políticas

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Foto: Reprodução

Um dia depois de deixar o comando da Lava-Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol defende que a força-tarefa que atua no berço da operação precisa ser prorrogada, rebate as críticas de que optou por uma “saída honrosa” em meio a uma série de questionamentos internos, e nega que tenha pretensões eleitorais para 2022.

“Continuarei a lutar contra a corrupção como profissional e cidadão, como acredito que todos devem fazer. Não estou considerando ou planejando outras possibilidades”, diz ao ser questionado sobre se pretende disputar alguma cargo eletivo.

O procurador respondeu por escrito as perguntas enviadas pelo Valor. Anteontem, ao anunciar que havia pedido para deixar a coordenação da força-tarefa, ele apontou como motivo o fato de que vai precisar se dedicar mais à família, porque sua filha pequena está apresentando regressão no desenvolvimento.

Deltan também diz esperar que o procurador-geral da República, Augusto Aras, prorrogue os trabalhos da força-tarefa e mantenha a dedicação exclusiva dos 14 procuradores que atuam hoje em Curitiba. A PGR tem até a próxima semana para tomar uma decisão definitiva sobre isso. Para ele, a Lava-Jato precisa seguir “firme”, porque ainda “há muito trabalho por fazer”.

Apesar dos embates com o PGR e dos processos que responde no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Deltan classifica como “completamente equivocada” a avaliação de que a sua decisão de deixar o cargo foi uma espécie de “saída honrosa”. “Honroso é lutar por aquilo em que se acredita, ganhando ou perdendo. Sofremos todo tipo de pressão na Lava-Jato há anos e já demonstramos nossa coragem e perseverança ao longo de seis anos de dedicação intensa”, diz.

Segundo ele, agora será necessário direcionar as horas extras que investia no trabalho para a sua família. “A Lava-Jato é expressão de um sonho por um país melhor, mas sonho também em ser o pai que a minha filha precisa. Há muitos procuradores competentes para servir a sociedade, mas sou o único pai dela.”

Ele também afirma que em nenhum momento ficou com medo de ser afastado do cargo por uma decisão do CNMP. “Se eu tivesse aplicado essa lógica, teria tomado a decisão antes de o ministro Celso de Mello [do Supremo Tribunal Federal] ter suspendido os processos no CNMP.”

Ele aponta ainda “que jamais se instauraram processos disciplinares contra procuradores na Lava-Jato por atos em investigações e processos, mas sim por manifestações na imprensa ou redes sociais”.

Deltan também rebate as críticas de que tem um perfil “midiático”. Segundo ele, a estratégia de comunicação da Lava-Jato “foi a de buscar apoio da sociedade”. “Nós entendemos que jamais seria possível avançar contra pessoas tão poderosas sem conscientização e debate públicos sobre os desafios do trabalho.”

O procurador afirma ainda que trabalhou para que houvesse mudanças para além da Lava-Jato, para fortalecer o Estado de direito. “Tudo isso levou a uma exposição maior, a um custo pessoal maior, mas acreditamos que contribuiu para os resultados inéditos alcançados.”

Valor Econômico