“Deixa o Bolsonaro no galho dele”, diz Joice Hasselmann

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

No momento em que candidatos de centro-direita e até mesmo o ex-governador Márcio França (PSB) buscam se vincular a Jair Bolsonaro em São Paulo, a candidata do PSL à prefeitura paulistana, deputada Joice Hasselmann, quer distância do presidente nas eleições. Com uma candidatura divulgada como a da “direta racional”, Joice rejeita qualquer tipo de proximidade com Bolsonaro e afirma não manter mais contato com o presidente, depois que o bloqueou em seu WhatsApp.

Ex-líder do governo no Congresso, Joice e Bolsonaro romperam no ano passado, e a parlamentar tornou-se alvo de ataques dos filhos do presidente e de bolsonaristas. “Nem o PT fez comigo o que essa gente ligada aos filhos do presidente fez”, diz. Questionada sobre qual tipo de relação espera ter com Bolsonaro nesta eleição, é categórica: “Nenhuma proximidade”, afirma, em entrevista ao Valor.

“Na campanha, cada macaco tem que estar no seu galho. Deixa o presidente no galho dele e eu fico aqui tocando a campanha, e depois tocando São Paulo”, diz. “Seria desrespeitoso o presidente deixar a administração de um país tão complexo, em meio a uma pandemia, para virar cabo eleitoral para qualquer um que seja, ou para tentar destruir a candidatura de qualquer um que seja”, afirma a candidata do PSL, partido que elegeu Bolsonaro.

Joice afirma que Bolsonaro “tem dificuldade” para entender o papel de um presidente e diz que o ex-aliado “rasgou” bandeiras que defendia em 2018. Uma das principais apostas do PSL nestas eleições, a candidata é contra a volta de Bolsonaro à legenda e defende que o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que continua na sigla, seja expulso.

A candidata começa a campanha com ataques a quase todos seus adversários, sinalizando que se for para um eventual segundo turno, poderá ter dificuldade para negociar apoios. Com uma chapa “puro sangue”, escolheu o empresário Ivan Leão Sayeg como vice e tem o apoio apenas do Democracia Cristã.

Para Joice, os partidos do Centrão, que se aliaram à pré-candidatura à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), são a origem do “mensalão” e do “petrolão” e rejeita essas siglas.

A deputada federal procura distanciar-se também do governador João Doria (PSDB), a quem apoiou na eleição para o governo de São Paulo em 2018. Joice diz que esteve ao lado de Doria, pregando o voto “BolsoDoria”, com aval e incentivo de Bolsonaro. “Eu só me expus no segundo turno com a autorização do presidente da República. Ele tem que ser homem o suficiente para admitir isso porque ele me disse isso: ‘vá você e apoie [Doria], porque eu não posso apoiar. Você tem a minha autorização’”, afirma. A candidata diz que seu apoio a Doria foi para evitar a vitória do então governador Márcio França, candidato nesta eleição pelo PSB. “França é o pior que tem na esquerda, é gângster.”

O gangsterismo de França, segundo a deputada, seria provado por um gesto de França comum no meio político e distante de caracterização como atividade criminosa. Logo após a eleição de 2018, França chamou Joice para conversar e ofereceu a ela a oportunidade de indicar o secretário estadual de Justiça e representantes do governo paulista. Diante do desinteresse de Joice pela oferta, a aconselhou a não se indispor com alguém que poderia vencer a eleição estadual.

Joice critica o lado “marqueteiro” de Doria quando foi prefeito de São Paulo por um ano e três meses, entre 2017 e 2018, e disse que o tucano serviu de cavalo de Troia para Bruno Covas, a quem chama de “nulidade”. “João deixou para a gente um moleque muito legal, muito bacana, bom de balada e só. A minha mãe também é legal, também é bacana, mas não serve para ser prefeita de São Paulo. Não pode misturar as coisas”, diz.

“ A candidata minimiza as chances eleitorais de outros nomes da direita e, ao falar sobre os adversários da esquerda, diz que Jilmar Tatto, do PT, “não existe”. Guilherme Boulos, do Psol, “é o candidato do PT” e “tem o coração” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diz. “Boulos é o maior risco para São Paulo e ninguém vai ter coragem de enfrentá-lo porque todos eles [candidatos] têm o rabo preso, tem alinhamento com a esquerda, em maior ou menor grau”, afirma. Joice diz ainda que, se eleita, “prenderá” Boulos se o candidato do Psol e líder do MTST promover alguma ocupação. “Vai em cana.”

Ao falar sobre suas propostas, Joice promete ampliar investimentos, sem aumentar a carga tributária, apesar da crise econômica enfrentada com a pandemia. “É facinho. [Os prefeitos] Não fizeram porque não quiseram.” A candidata diz que “nunca vai aumentar” tributos e se fizer isso, “renunciará”. “Quero diminuir carga tributária”, diz. “Não sou irresponsável e não prometo nada do que eu não possa cumprir.”

Uma parte dos recursos para investimentos, afirma, virá do fim do subsídio às empresas de transporte público, de cerca de R$ 3 bilhões. Joice, no entanto, diz que mesmo sem o subsídio a passagem de ônibus, de R$ 4,40, não aumentará. “É do [valor da passagem] que temos hoje para menos, mas não vou ser irresponsável de prometer diminuir R$ 0,20 ou R$ 0,30”. A candidata diz que uma de suas primeiras ações será mudar a licitação do transporte público e “romper com a máfia”. “Tem até PCC nisso.” A postulante afirma que acabará com a SPTrans e que a prefeitura administrará garagens de ônibus.

Joice diz que revisará também contratos com Organizações Sociais na área da saúde e que a redução do valor pago pela prefeitura às entidades será outra fonte de recursos para investimentos. “Vou fazer uma peneira das organizações sociais. Quero briga de foice pelo menor preço.”

Para educação, prevê a distribuição de “voucher” para pagar creches para as crianças, e reforço aos alunos prejudicados com a pandemia. Ao falar sobre a cracolândia, diz apostar na internação compulsória de dependentes químicos. “Não tem outro jeito, é internação compulsória. Não adianta vir a turma do mimimi. Pode porque eu já estudei, mas há protoloco e prazo para que o município diga porque foi internada compulsoriamente.”

Valor Econômico