Empresa de entrega de comida cria fundo para apoiar negros

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Foto: Reprodução

Quando a pandemia obrigou o fechamento do comércio, em março, a Free Soul Food, delivery de comida saudável em São Paulo, já estava parada há 15 dias, devido à mudança de sede e reforma da cozinha. A obra foi interrompida, e a empresa, sem previsão de retorno às atividades, se viu à deriva, com faturamento zero. Cerca de um mês depois, chegou um primeiro socorro: R$ 2 mil do fundo Emergências Econômicas, levantado pela coalizão Éditodos para ajudar micro e pequenos empreendedores negros e periféricos a se manterem durante a crise do coronavírus e se organizarem para a retomada. Com doações de grandes como Assaí Atacadista, Itaú-Unibanco, J.P. Morgan e Mercado Livre, o R$ 1,6 milhão arrecadado já beneficiou 300 negócios, a maioria liderado por mulheres, das regiões metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador, Porto Alegre, Belém e Fortaleza. Outros 200 ainda receberão auxílio financeiro com a quantia, e uma nova onda de captação de recursos está em andamento, com a busca de investidores de dentro e fora do Brasil. A ideia é que os parceiros possam contribuir também com oferta de tíquetes promocionais para campanhas de marketing digital ou de matérias-primas.

São apoiadas somente empresas já pertencentes à rede das seis organizações sociais que compõem a Éditodos, cuja missão é formar e acelerar empreendedores negros e periféricos: Agência Solano Trindade, Afrobusiness, Feira Preta, FA.Vela, Instituto Afrolatinas e Vale do Dendê. A única contrapartida pedida pelo acesso ao dinheiro — R$ 2 mil pagos em parcela única — é a participação em mentorias focadas em transformação digital, oferecidas pela própria coalizão. “O fundo perdido visa atacar as duas maiores dores desses negócios: a dificuldade de obter financiamento e o nível baixo de digitalização. A maior parte deles é estruturada localmente e não tem fluxo contínuo na internet. Estamos enfatizando a importância de implementar processos digitais, porque a pandemia mostrou que isso veio para ficar”, diz o diretor fundador do Fa.Vela, João Souza. Para mulheres acima dos 50 anos, ainda há acompanhamento com profissionais de saúde mental.

“A ajuda foi fundamental para que nós não entrássemos em desespero. Conseguimos manter nossas cinco funcionárias, que são todas imigrantes. Terminamos a reforma em julho e voltamos a funcionar em agosto”, conta Janete Costa, sócia da Free Soul Food. O movimento, no entanto, ainda está baixo: se, antes da pandemia, 50 refeições eram vendidas por dia; hoje, a média é 20. Sem os eventos para os quais fornecia comida, serviço que representava 50% do faturamento, a empresa tem incrementado a receita com a comercialização da Cesta Inclusiva, produto criado no período em que a cozinha ficou fechada para garantir algum ganho com vendas pelo site. Trata-se de um kit com uma seleção especial de alimentos saudáveis, crus ou pré prontos, para os consumidores cozinharem em casa. “Nossa loja virtual já existia, mas vimos necessidade de dar corpo a ela nesses últimos meses. Quanto mais digital é o negócio, mais fácil fica a comunicação com o cliente e mais se pode crescer, porque se elimina a limitação do espaço físico”, completa Janete.

O Globo