Estudos mostram mudanças nas relações sociais geradas por máscaras

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Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Uma das principais medidas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, as máscaras foram adotadas pela maioria da população, e devem continuar fazendo parte da rotina nos próximos meses. Porém, segundo cientistas, com a maior parte do rosto coberto, cresce, cada vez mais, a quantidade de pessoas relatando dificuldade para reconhecer faces.

Dois estudos, ainda não revisados pela comunidade científica, foram completados nos últimos meses para testar se esta dificuldade realmente ocorre. Em um deles, liderado pelo professor Erez Freud, da York University, no Canadá, cerca de 500 pessoas participaram de um jogo online de reconhecimento facial que mostrava pessoas com e sem máscara.

Os pesquisadores documentaram uma diminuição nas habilidades de reconhecimento quando se olhava para rostos com máscara, quando comparado às faces sem nenhum item. “Encontramos evidências qualitativas na maneira que o rosto com máscara é processado”, escrevem os cientistas no artigo.

“Baseado nesses resultados, prevemos que as máscaras podem atrapalhar a percepção da face e mudar a maneira como processamos o rosto”, dizem.

Segundo eles, estudos anteriores mostraram que a parte inferior da face (região da boca) tem uma contribuição “desproporcional” no reconhecimento de um rosto quando comparado à área dos olhos, apesar de toda a face ser usada no processo.

Porém, esse método não parece ser comum a todos os países no mundo. Na Ásia Oriental, onde há uma cultura antiga de uso de máscaras, o reconhecimento de emoções acontece principalmente pelos olhos.

No outro estudo, feito pela Universidade de Stirling, na Escócia, os participantes precisavam julgar se duas faces, uma de máscara e outra sem, eram da mesma pessoa. Foram mostrados rostos familiares e desconhecidos.

“Descobrimos que as máscaras causam um grande detrimento no reconhecimento facial. Surpreendentemente, esta dificuldade é similar para faces familiares e desconhecidas”, afirmam os pesquisadores.

A principal preocupação dos cientistas é, na verdade, com as crianças pequenas que estão crescendo durante a pandemia. Tendo contato com poucas pessoas sem máscara, a capacidade de reconhecer um rosto pode não se desenvolver corretamente.

Em entrevista ao The New York Times, o médico Richard Cook, da Universidade de Londres, questiona se esta situação trará problemas a longo prazo, ou se a maneira de reconhecimento facial da nova geração acontecerá de forma completamente diferente. “Se há alguma forma de efeito, vai ser observado nas crianças que estão crescendo agora”, afirma.

Porém, apesar de uma mudança na maneira como o cérebro processa e reconhece rostos, o uso de máscaras não deve interferir nas interações entre as pessoas. À CNN, a professora Ursula Hess, da Universidade Humboldt, na Alemanha, conta que a tendência é que o cérebro procure a área “de ação” da face para entender o que o outro está sentindo.

Com a boca tampada, os olhos servem de canal para muitas emoções. E, se não forem suficientes, a voz pode ajudar — o som passa de forma diferente de acordo com a abertura da boca e, por isso, podemos identificar quando o interlocutor está sorrindo ao telefone, por exemplo.

Metrópoles