Governadores investigados perdem força como apoiadores nas eleições

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Foto: Ricardo Wolffenbüttel/Divulgação

Governadores que se tornaram alvos de investigações por desvios de recursos públicos, especialmente durante a pandemia da Covid-19, perderam espaço como cabos eleitorais na disputa municipal deste ano, o que tem balançado candidaturas a prefeituras. O panorama é observado em capitais de pelo menos seis estados: Rio, Amazonas, Pará, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Amapá.

Em Florianópolis, diante da ameaça de impeachment ao governador Carlos Moisés, o PSL deverá concorrer isolado após lançar o ex-secretário estadual de Comunicação Gonzalo Pereira. O ex-comandante da PM de Santa Catarina Araújo Gomes chegou a ser cotado como candidato, mas não vai concorrer.

Segundo um deputado que faz oposição a Moisés, “o apoio do governador tornou-se kriptonita”. Araújo Gomes tentou também assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), vinculada ao Ministério da Justiça, mas seu nome foi vetado por bolsonaristas em Brasília por conta de sua proximidade com Moisés, que rompeu com Bolsonaro. O governador é investigado por suspeita de direcionamento ilícito na compra de 200 respiradores pelo valor de R$ 33 milhões.

Em Manaus, as suspeitas de fraude em compras emergenciais envolvendo o governador Wilson Lima (PSC) levaram o partido a desistir de lançar a ex-secretária de Justiça Caroline Braz, que havia se exonerado do governo do estado para concorrer. Lima foi alvo de operação, em junho, no âmbito da investigação que apura desvios de R$ 2,2 milhões na compra de respiradores de uma empresa que trabalha com vinhos.

Em Belém, a operação da PF contra o governador Helder Barbalho (MDB), também em junho, por suspeita de superfaturamento em compra de respiradores, abriu uma disputa interna no PSD. O partido havia indicado como pré-candidato o deputado estadual Gustavo Sefer, aliado de Barbalho. Com o abalo na imagem do governador, o deputado federal Eder Mauro já afirmou que apresentará seu nome na convenção do partido, ainda sem data definida. Aliado do presidente Jair Bolsonaro na Câmara, Éder Mauro argumenta que seu nome é mais viável eleitoralmente neste momento.

— Um partido deve ter a meta de lançar um candidato com chance de êxito — afirmou o deputado.

No Rio, a ex-juíza Glória Heloíza Lima da Silva conseguiu manter sua candidatura pelo PSC mesmo após o afastamento do governador Wilson Witzel (PSC). Investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), Witzel é alvo de processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por suposto favorecimento a fornecedores na área da Saúde em troca de propina, que seria paga através do escritório de advocacia da primeira-dama, Helena.

No Amapá e em Mato Grosso do Sul, investigações contra os governadores são anteriores à pandemia ,mas ainda produzem impacto eleitoral. O PSDB de Reinaldo Azambuja desistiu de lançar à prefeitura de Campo Grande o deputado federal Beto Pereira e estuda um apoio à reeleição de Marquinhos Trad (PSD). Azambuja foi indiciado em julho deste ano sob acusação de ter recebido propina de R$ 67 milhões da JBS. O PSDB vem pleiteando um posto de vice na chapa de Trad, mas aliados do prefeito resistem a abrir o espaço.

Em Macapá, Waldez Góes (PDT) acena com um apoio discreto a Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, David Alcolumbre. Em novembro, o governador foi condenado a seis anos de prisão por crime de peculato, mas a decisão foi suspensa em janeiro por liminar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli. Roberto Góes, ex-prefeito e irmão de Waldez, deixou o PDT para se filiar ao DEM, partido de Alcolumbre, mas tem dito que não será candidato. Adversários políticos não acreditam que o governador estará no palanque de Josiel.

— Waldez está, como se costuma dizer, com a corda no pescoço — afirmou o deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP), filho do pré-candidato Capi, do PSB.

O Globo