Indigenista leva flechada no peito e morre

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Foto: Reprodução/ O Globo

Considerado um dos indigenistas mais respeitados da Fundação Nacional do Índio (Funai), o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, Rieli Franciscato, morreu com uma flechada no peito nesta quarta-feira após encontrar com índios conhecidos como “Isolados do Cautário”, na região conhecida como Linha 6, no município de Seringueiras, em Rondônia.

A informação foi confirmada ao GLOBO por várias entidades indigenistas, entre elas a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que atua na região. A entidade afirma que os indígenas isolados não sabem distinguir protetores de inimigos. “O território deles está sendo invadido e eles estão tentando sobreviver”, diz nota. Os “isolados do Cautário” já haviam sido vistos na mesma região no último mês de junho.

Rieli, que atuava por mais de 10 anos na fundação, chegou ao local após moradores terem avisado a Funai que um grupo de indígenas isolados havia aparecido próximo de suas casas, na zona rural de Seringueiras, que fica a mais de 500km da capital Porto Velho. O GLOBO teve acesso a um áudio de um dos policiais que acompanharam Rieli e viu o momento em que ele foi flechado.

“Ele subiu num morro que tinha e de repente a gente começou a ouvir barulho de flechas. Foi neste momento que ele deu um grito, arrancou a flecha do peito e voltou para trás correndo, conseguiu correr uns 60 metros e já caiu praticamente morto. Nosso amigo se foi, infelizmente”.

A morte de Riele abalou servidores da Funai e referências do meio indigenista que o reconheciam e nutriam muito carinho e respeito por sua dedicação aos povos isolados.

Em nota enviada ao GLOBO, o ex-presidente da Funai Sydney Possuello afirmou que perdeu um grande amigo e criticou a política indigenista do atual governo.

“Recebi agora a notícia do falecimento do sertanista, meu companheiro e amigo Rieli Franciscato. A circunstância da sua morte demonstra o descaso e a irresponsabilidade do governo Bolsonaro com relação às questões que envolvem os índios e os funcionários das Frentes de Proteção Etno Ambiental, que são a vanguarda dos trabalhos na selva. Rieli pediu auxilio à Policia por que não tinha funcionários para acompanhá-lo”, diz a nota, continuando:

“A culpa da sua morte é o descaso e a incompetência da FUNAI e dos que hoje orbitam em volta desse Presidente da FUNAI e do Coordenador de Índios Isolados. Realmente o governo consegue destruir a FUNAI como instituição, desamparando os funcionários que estão na missão mais difícil e perigosa e, acelerando o processo de destruição dos Povos Indígenas Isolados ou não”.

O sertanista José Meirelles, que já foi flechado no rosto pelos índios isolados no Rio Envira, no Acre, em 2004, lamentou a morte do amigo.

– Meu amigo velho se foi. Um flechado triste vivo, chorando o amigo flechado morto… A vida não é justa – afirmou Meirelles.

Procurada, a Funai ainda não se manifestou.

O Globo