Outro jovem negro preso “por engano”

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Foto: Reprodução

O auxiliar administrativo Danilo Félix Vicente de Oliveira, completará 25 anos, nesta terça-feira, sentindo o gosto amargo de estar atrás das grades, há mais de 50 dias, por um crime que segundo seus advogados , ele nunca cometeu. A defesa do rapaz sustenta que Danilo, um jovem negro, morador de um comunidade pobre de Niterói, e sem qualquer antecedente criminal, foi reconhecido por engano por conta de uma foto, feita em 2017. A imagem originária de uma rede social do jovem, foi parar em um inquérito da 76ªDP (Niterói), que apura crime de roubo, ocorrido na noite do dia 2 de julho de 2020.

Uma vitima apontou a fotografia como sendo a de um assaltante de cabelo curto e bigode, que levou uma motocicleta, celular e dinheiro. O crime ocorreu, por volta das 22h, no Centro de Niterói. Há mais de um ano, no entanto, Danilo usa cabelo grande com cachos trançados. Alem disso, de acordo com a defesa, no dia e horário do roubo, ele estava em casa com a família.

Nesta segunda-feira, uma audiência de instrução e julgamento poderá selar o destino do jovem. Pai de um filho de um ano, o rapaz poderá continuar preso ou conseguir a liberdade. Danilo trabalhou até março, por uma empresa terceirizada, na reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF). Por conta da pandemia, ele perdeu o emprego e passou a vender roupas, após criar uma loja virtual. Ele foi preso, no dia 6 de agosto, no Centro de Niterói.

—Meu marido é uma pessoa tranquila. A gente não sabe como a foto dele foi parar na delegacia. Temos um filho de 1 ano, e o Danilo é um pai super presente. Meu filho pergunta direto pelo pai e eu não respondo, fujo do assunto. Eu fico sem saber o que dizer para o menino. Peço a Deus que o presente de aniversário do Danilo seja a liberdade dele — disse Ana Beatriz Sobral Farias, de 21, mulher do auxiliar administrativo.

Além de sustentar a inocência de Danilo, os advogados Cristiane Lemos e Breno Guimarães, alegam que a prisão do seu cliente foi ilegal. Segundo a defesa do auxiliar administrativo, quando Danilo Félix foi preso não havia ainda um mandado de prisão expedido pela Justiça.

—A prisão foi ilegal não havia mandado. Havia apenas um pedido de prisão preventiva, que foi feito baseado numa de fotografia de 2017. Ele foi preso no dia 6, mas o mandado só foi expedido dia 7 de agosto. Entramos com um pedido de relaxamento de prisão e revogação da preventiva, que foi inicialmente negado pela Justiça. Mas, temos esperanças que o Danilo ganhe a liberdade. Temos provas da inocência dele — disse a advogada Cristiane Lemos.

Em protesto contra a prisão de Danilo, a família do jovem e organizações não governamentais programaram uma manifestação em frente ao Fórum de Niterói. O ato contará com o apoio do movimento negro e da Orquestra de Cordas da Grota. Esta última, chegou a ter um violoncelista preso também por engano, durante quatro dias.

Ele responde em liberdade pelo crime que não cometeu e não comparecerá ao protesto. O ato também será marcado por apresentações artístico-culturais entremeadas por falas de familiares, amigos e militantes antirracismo.

Segundo a família do auxiliar administrativo, Danilo Félix está preso atualmente no Presídio Evaristo de Moraes, também conhecido como galpão da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Ele divide uma cela com mais de 50 pessoas.

Antes passou pelo Presídio José Frederico Marques, em Benfica, e pelo Presídio Tiago Teles, em São Gonçalo.

—Só tem notícias do Danilo pelos advogados. Ele inicialmente ficou muito abalado e triste. Chorava muito e chegou até a ter febre. Agora, ele está melhor. Ele tem esperança que tudo isso acabe logo— disse a mulher de Danilo, Ana Beatriz.

O Globo procurou a Polícia Civil e o Tribunal de Justiça(TJ). Este último enviou uma resposta apenas confirmando a previsão da realização da audiência de Danilo na 1ª Vara Criminal de Niterói. Já a Polícia Civil ainda não se pronunciou.

O Globo