Partido da Igreja Universal se pendura em Bolsonaro

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 Foto: Hermes de Paula / Agencia O Glob / Agência O Globo

O Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, ensaia uma associação de seus candidatos à prefeitura com a imagem do presidente Jair Bolsonaro, de olho em dividendos nas urnas. Nesta segunda-feira, ao lançar sua candidatura à reeleição, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, saudou o presidente e sua família. Já em São Paulo, o beneficiário seria o deputado federal Celso Russomanno, pré-candidato na capital, que esteve com Bolsonaro três vezes na última semana.

O próprio presidente, no entanto, tem alternado acenos políticos ao Republicanos, que tem 34 deputados e integra a base do governo, a sinais de desvinculação, de olho na manutenção do compromisso, assumido publicamente, de não participar do primeiro turno das eleições municipais. O apoio do presidente também é cortejado por candidatos de outras siglas da base, como PTB, PSD e até o PSL, do qual Bolsonaro se reaproximou nos últimos meses.

Antes mesmo dos movimentos eleitorais, o Republicanos já havia filiado dois filhos do presidente: o senador Flávio e o vereador Carlos, que tentará um novo mandato no Rio.

Ao discursar nesta segunda-feira, Crivella disse ter conseguido se unir a um “grupo espetacular”, citando a família presidencial. Rogéria Bolsonaro, ex-mulher do presidente e mãe de seus três filhos políticos (Flávio, Carlos e o deputado federal Eduardo) discursou ao lado de Crivella — ela será candidata a vereadora pelo partido. Carlos, embora vá concorrer pela legenda, não participou da convenção, assim como Flávio. Outra ausência foi a do secretário municipal de Ordem Pública, Gutemberg Fonseca, articulador direto da aliança entre o prefeito e a família Bolsonaro.

No seu discurso, Crivella criticou a cobertura da imprensa sobre problemas da cidade e alegou que ele e Bolsonaro seriam alvos de “perseguição”, o que teria se tornado “a força” a uni-los com “mais energia”. O prefeito também comparou sua situação na campanha à facada sofrida por Bolsonaro na eleição presidencial de 2018, durante um ato em Juiz de Fora (MG), e repetiu elogios a Rogéria. Nas redes sociais, Crivella adotou, em vídeos recentes, a passagem bíblica que Bolsonaro usou como slogan de campanha em 2018: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

O prefeito é sobrinho do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal e com forte influência no Republicanos — Macedo, depois de apoiar governos petistas, aliou-se a Bolsonaro em 2018 e permaneceu fiel ao presidente.

— Rogéria nos deu um senador com 4 milhões de votos e um vereador com dezenas de milhares (de votos). Ela não deu seus filhos para si mesma, mas para o povo. Da mesma forma, nossa candidatura não nos pertence. O que nos move é o que moveu o presidente quando acordou naquela UTI, esfaqueado — disse Crivella.

No início do ano, o nome de Rogéria chegou a ser aventado para o posto de vice de Crivella, que segue indefinido. O veto, contudo, partiu de Bolsonaro, que não deseja uma vinculação tão direta assim com a administração municipal. Segundo um aliado do presidente, “uma coisa é ter um Bolsonaro filiado ao mesmo partido do prefeito, outra é ter um Bolsonaro como vice-prefeito”. Na convenção, Rogéria disse que a votação nesta eleição municipal é “uma forma de continuar acreditando e dando apoio” ao presidente.

Estrategista eleitoral de Crivella, o ex-deputado Rodrigo Bethlem foi mais direto:

— Vamos enfrentar uma guerra. É uma prévia da eleição de 2022. Nossos inimigos se uniram do outro lado.

Russomanno, integrante da bancada do Republicanos na Câmara, reuniu-se no sábado com Bolsonaro e tratou do apoio à sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo. Foi um dos três encontros com o presidente na semana passada — a lista inclui duas agendas em Brasília. Interlocutores usaram o termo “enamorados” ao tratar do estágio da relação e afirmaram que um “casamento”, termo usado frequentemente por Bolsonaro para definir alianças eleitorais, ainda está em aberto.

A candidatura de Russomano seria oficializada na quinta-feira, mas a escolha foi adiada para 16 de setembro, prazo-limite para que as legendas indiquem os candidatos. Segundo interlocutores do deputado, há a preocupação de não fechar as portas a possíveis negociações de alianças. O Republicanos faz parte da base do prefeito Bruno Covas (PSDB), apoiado pelo governador de São Paulo, João Doria, desafeto de Bolsonaro. Russomanno chegou a ser cotado como vice de Covas.

Após um café da manhã com deputados do partido na semana passada, outro pré-candidato do Republicanos externou o desejo de contar com Bolsonaro. Segundo o deputado Alberto Neto (AM), que tentará ser prefeito de Manaus, o presidente sinalizou que poderá apoiá-lo em um eventual segundo turno.

A ligação atual entre Republicanos e o bolsonarismo, no entanto, é apenas uma parte da história do partido, que participou das gestões dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — Crivella foi ministro da Pesca de Dilma.

Em 2018, PRB e o bispo Edir Macedo apoiaram inicialmente a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência. Diante do fracasso do candidato tucano, Macedo migrou de última hora para a campanha de Bolsonaro, uma semana antes do primeiro turno. Na ocasião, o presidente recebeu amplo apoio do mundo evangélico: os pastores Silas Malafaia, R. R. Soares e o bispo Manoel Ferreira estiveram ao seu lado. (Colaboraram Gustavo Schmitt e Silvia Amorim).

O Globo