Partido da Universal tenta emplacar presidente da Câmara

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Foto: Jorge William/Agência O Globo – 19/2/2020

Com o governo do presidente Jair Bolsonaro e o grupo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se digladiando pelo controle da Câmara em 2021, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), tenta se manter com um pé em cada canoa até fevereiro para se viabilizar como candidato à sucessão.

O Republicanos participou, junto com PP e PL, da formação da base do governo no Congresso em troca de cargos do segundo escalão, mas Pereira se reaproximou de Maia logo em seguida – para aliados, por perceber que o movimento pró-governo foi catalisado pelo líder do PP, Arthur Lira (AL), outro pré-candidato a comandar a Câmara e que usou os cargos para compor uma base mais ampla com partidos nanicos, como o Patriota.

Em conversas com deputados de oposição, Pereira tenta passar a imagem de candidato independente que, apesar de aliado de Bolsonaro, não é “submisso”. Seria um perfil parecido com o de Maia, que pauta e apoia a agenda econômica do governo, mas respeita o espaço de atuação da oposição, faz críticas à gestão e segura alguns projetos.

Ele cita, nesses encontros, medidas tomadas como vice-presidente da Câmara que comprovariam isso, como prorrogar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das “Fake News” a contragosto do governo e despachar para o Palácio do Planalto o requerimento do PT que questionava se Bolsonaro tinha ou não contraído covid-19.

Além disso, estaria conduzindo as sessões no lugar de Maia sem atropelar a oposição para votar os projetos do governo. O afastamento do atual presidente da Câmara por covid-19, que o deixará fora por cerca de duas semanas, dará ainda mais espaço para que ele presida as sessões, função que ele vinha exercendo com apoio do atual presidente.

Ao Valor, dois influentes líderes da oposição citaram Pereira como alternativa ao presidente e líder do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), visto hoje como favorito para obter o apoio de Maia em fevereiro. Outro possível nome é o relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

A decisão sobre quem será apoiado só deve ocorrer em dezembro, e isso se Maia não for autorizado a concorrer novamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que analisará uma ação do PTB sobre a vedação à reeleição para a presidência da Câmara e do Senado. A Constituição proíbe, mas uma corrente defende permiti-los com o argumento de que se trata de questão interna do Congresso, sobre a qual não cabe ao Judiciário decidir.

Maia conta com muita força e apoio entre os partidos da oposição, que somam 130 deputados e são considerados o fiel da balança na eleição para a presidência da Câmara diante da divisão dos grupos dele (DEM, MDB, PSDB e Cidadania) e do governo (PP, PL, PSD, PTB e bolsonaristas). Marcos Pereira sonha unir as duas alas, hipótese considerada improvável pela maioria dos deputados.

Dentro da oposição, um grupo grande sugere votar no candidato apoiado por Maia para manter a independência da Câmara em relação a Bolsonaro, mas também existe a parcela favorável a candidatura própria de alguém da esquerda para marcar posição sobre a agenda eleitoral de 2022. Hoje, o líder do PSB, Alessandro Molon (PSB-RJ), é o que mais tem trabalhado para ser esse candidato.

Parte da oposição também vê com muitas restrições apoiar Pereira por causa do Republicanos, partido que abrigou dois filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos e o senador Flávio (RJ), após a briga com o PSL no ano passado. A sigla é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus e tem agenda conversadora, o que, na visão dos oposicionistas, poderia destravar a pauta de costumes barrada por Maia. Essa relação com a Universal também gera resistência em outros setores da Casa, inclusive em parte dos evangélicos.

As eleições municipais podem atrapalhar ainda mais as chances de que ele concorra como independente à presidência da Câmara e atraia a oposição. Bolsonaro tem sinalizado apoio a candidatos do Republicanos nos dois principais colégios eleitorais do país: a reeleição do prefeito Marcelo Crivella no Rio de Janeiro e do deputado Celso Russomanno em São Paulo.

Valor Econômico