Polarização Lula x Bolsonaro pautará eleições em SP e Rio

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Foto: Agência O Globo

Com apoio do presidente Jair Bolsonaro ou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidatos a prefeituras de capitais como Rio e São Paulo apostam na reedição do debate polarizado das eleições de 2018, entre bolsonaristas e petistas, como atalho para chegar ao segundo turno nas disputas municipais. A estratégia que beneficia os dois polos da disputa política no plano nacional serve também à tentativa de esvaziar candidaturas mais ao centro, como Bruno Covas (PSDB) e Eduardo Paes (DEM), que evitam nacionalizar a campanha e pretendem levar a pauta para as questões locais.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que articulou candidaturas alinhadas ao presidente em cidades paulistas, afirmou a correligionários que a eleição deste ano marca uma “guerra contra a esquerda”, repetindo o discurso da candidatura do pai à presidência há dois anos. O discurso ocorreu em um evento conservador em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, na noite de segunda-feira. O PT, por sua vez, planeja uma participação ativa de Lula nas campanhas de grandes cidades. Além de ter articulado alianças eleitorais na reta final do registro de candidaturas, Lula gravará mensagens de apoio a Jilmar Tatto, em São Paulo, e Benedita da Silva, no Rio. A avaliação de dirigentes do PT é que o apoio de Lula tem potencial para cativar pelo menos um terço do eleitorado.

— Lula estará presente intensamente. Somos amigos e parceiros de lutas contra a fome e a desigualdade. Ele virá presencialmente, se houver condições de segurança sanitária — disse Benedita.

Lula participou das conversas, no início deste mês, que levaram o PCdoB a desistir de sua candidatura no Rio para indicar a vice, Enfermeira Rejane, na chapa de Benedita. O PT já havia declarado apoio a candidatos do PCdoB em Porto Alegre, indicando Miguel Rossetto como vice na chapa de Manuela D’Ávila, e em São Luís, com a candidatura de Rubens Jr. A ação de Lula no Rio ocorreu cerca de uma semana depois de o ex-ministro Orlando Silva (PCdoB) lançar sua candidatura à prefeitura de São Paulo, quebrando a tradição de apoio da legenda ao PT na capital paulista. Com a aliança, a expectativa de Benedita é também contar em seu programa eleitoral com o governador do Maranhão, Flávio Dino, principal liderança do PCdoB.

Apesar da fragmentação da esquerda em São Paulo e do desempenho tímido de Jilmar Tatto nas primeiras pesquisas, sem passar de 2%, aliados de Lula esperam que a participação do ex-presidente melhore os números do petista. A expectativa é de que o ex-presidente mergulhe na campanha no começo da propaganda eleitoral na TV. Em um primeiro momento, Lula deve se concentrar em apresentar Tatto, que é desconhecido do eleitor, em vez de usar o espaço para criticar Bolsonaro.

Tatto, no entanto, tem atacado o presidente nos primeiros dias da campanha, com o objetivo de evitar que Guilherme Boulos (PSOL) tome a dianteira na crítica ao bolsonarismo. Boulos, que somou 18% das intenções de voto entre os que rejeitam Bolsonaro, segundo o Datafolha, afirma que “o início da derrota do bolsonarismo” passa por sua eleição.

Outro ponto no radar de Tatto é que Celso Russomanno (Republicanos), que vem recebendo sinais de apoio do presidente, tem bom desempenho eleitoral entre petistas. Segundo o Datafolha, 32% dos simpatizantes do PT declaram voto em Russomanno. A ideia é que as aparições constantes de Lula servirão para desfazer esse cenário.

No lado bolsonarista, a polarização com o PT em São Paulo é parte da estratégia para minar candidaturas apoiadas pelo governador João Doria, desafeto de Bolsonaro. Na segunda-feira, no 1º Simpósio Conservador do Alto Tietê, realizado em Guarulhos, o nome de Doria foi vaiado algumas vezes pela plateia.

O comício, que contou com discurso de Eduardo Bolsonaro, serviu para impulsionar a candidatura de Rodrigo Tavares (PRTB) na cidade. Tavares é genro de Levy Fidelix, presidente da sigla, candidato na capital paulista, e tenta dividir os votos bolsonaristas com Russomanno.

Candidato à reeleição, o prefeito Bruno Covas (PSDB) tem evitado a nacionalização do debate e a associação de sua imagem à de Doria, que registra alta rejeição na capital paulista. Covas, que terá sozinho cerca de 40% do tempo de propaganda eleitoral, pretende usar o espaço para pontuar fragilidades em propostas de Russomanno para a cidade.

Na terça-feira, depois que Russomanno lançou a proposta de criar um auxílio emergencial exclusivo para moradores de São Paulo no pós-pandemia, aliados de Covas começaram a fazer cálculos numa tentativa de apontar a inviabilidade econômica da proposta.

No Rio, Eduardo Paes tem se concentrado nas críticas à gestão de Crivella. O slogan de sua campanha é dizer que ele pretende “consertar o Rio”. No domingo, o ex-prefeito declarou que não pretende “puxar saco” de Bolsonaro, Lula ou Doria, antecipando que não relacionará sua imagem a nenhum “padrinho”, o que, espera, lhe renda a vantagem conseguinte de não herdar também a rejeição dos políticos nacionais.

O Globo