Bolsonaristas se dividem em contra e a favor de indicado ao STF

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Foto: Reprodução

Com Jair Bolsonaro decidido a não recuar na indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal (STF), a base de apoio do presidente nas redes sociais se fragmentou de maneira incomum, mostram dados do Twitter levantados pela consultoria Arquimedes obtidos pelo GLOBO.

Das 165 mil menções à indicação de Marques analisadas entre a oficialização da indicação, na sexta-feira, e o início da noite de ontem, 50,5% foram desfavoráveis. As críticas, no entanto, foram feitas em maior quantidade por apoiadores do presidente (16,3% do total de menções), e não por seus opositores (11,7%).

Entre as principais críticas da base, segundo a Arquimedes, as mensagens incluem referências ao fato de que Marques teria sido “indicado pelo centrão” e não representa a parcela conservadora da sociedade que apoia o Bolsonaro. Discursam dessa maneira, conforme indica a consultoria, aliados como o pastor Silas Malafaia e influenciadores como o jornalista Augusto Nunes e Allan dos Santos, sócio do site Terça Livre.

Por motivos diferentes, as reclamações foram endossadas por “ex-bolsonaristas” (22,5%) que abriram mão do apoio ao governo diante da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e do enfraquecimento da Operação Lava-Jato.

A percepção deste grupo é que a indicação não reflete um compromisso de Bolsonaro com o combate à corrupção, uma de suas principais bandeiras na campanha eleitoral de 2018.

Para Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes e responsável pelo levantamento, a repercussão da indicação de Marques ao Supremo expõe um comportamento incomum à base de usuários que diariamente sustenta na web posições assumidas por Bolsonaro.

— Os apoiadores do governo, ao contrário da oposição, agem de maneira coesa e organizada. Não é comum ver esse tipo de racha no grupo. A última vez que houve uma cisão grande na base governista foi na saída de Moro — afirma Bruzzi.

Entre as menções analisadas pela consultoria, 49,5% são favoráveis ao presidente — o outro lado do “racha”. Esse grupo — formado por bolsonaristas, incluindo influenciadores de amplo alcance, como os deputados federais Otoni de Paula (PSC-RJ) e Caroline de Toni (PSL-SC) — afirma que o presidente “sabe o que está fazendo” e teria dificuldades para aprovar a indicação para o Supremo de um nome alinhado com o conservadorismo. Os usuários também sustentam que, há um ano, Moro figuraria como o indicado de Bolsonaro, mas que isso não ocorre hoje porque o presidente teria identificado uma dissonância entre os valores do ex-ministro e os da sua base — uma narrativa, conforme destaca Bruzzi, endossada pelo próprio Bolsonaro. Em meio às publicações desses apoiadores mais resignados, a expressão “Bolsonaro Tem Razão” é frequentemente mencionada.

Entre os temas mais comentados do Twitter, a hashtag #BolsonaroTraidor foi mencionada mais de 43 mil vezes. Do outro lado, #FechadoComBolsonaroAté2026 teve mais de 56 mil repetições.

Ainda de acordo com Bruzzi, mensagens publicadas por usuários de fora do espectro bolsonarista com conteúdos favoráveis à nomeação de Marques não tiveram aderência suficiente ao debate para serem identificadas na amostra colhida pela Arquimedes. Publicações de membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de integrantes do mercado financeiro, por exemplo, podem ter criado repercussões institucionais positivas para a escolha de Bolsonaro, mas não formularam um movimento com potencial para impactar a discussão online.

O Globo