Bolsonaro teme uso eleitoral de dinheiro de seu aliado na cueca

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Foto: Reprodução

A operação da Polícia Federal que apreendeu dinheiro na cueca do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), nesta quarta-feira, 14, tem potencial para causar impacto na disputa municipal. O temor do Palácio do Planalto é de que o escândalo, um dos mais comentados no Twitter, também seja explorado nas campanhas de aliados do governo, como na de Celso Russomano, candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo. Na tentativa de conter o desgaste em várias frentes, o presidente Jair Bolsonaro agiu rápido e, nesta quinta-feira, 15, tirou Rodrigues da vice-liderança do governo no Senado.

Até agora, Russomanno está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e colou sua imagem à de Bolsonaro com a narrativa do combate à corrupção. A apreensão de R$ 30 mil na cueca do homem que até hoje era um dos vice-líderes do Planalto – em uma investigação que apura desvio de recursos destinados ao combate da covid-19 – não apenas desmonta esse discurso como promete causar mais estragos.

Desde que a operação da Polícia Federal em Boa Vista (RR) veio à tona, no mesmo dia em que Bolsonaro prometeu “dar uma voadora no pescoço” de quem se envolver em corrupção no seu governo, o assunto se tornou um dos mais comentados do Twitter com as hasthags #PropinaNaBunda e #DinheiroNaBunda.

Bolsonaro agora tenta virar o jogo sob o argumento de que nunca interferiu nas ações da Polícia Federal para proteger amigos e parentes, como acusou em abril o então ministro da Justiça Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato. O inquérito “Moro versus Bolsonaro” tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Alguns acham que toda a corrupção tem a ver com o governo. Não. Nós destinamos dezenas de bilhões de reais para Estados e municípios, tem as emendas parlamentares também e, de vez em quando, não é muito raro, a pessoa faz uma malversação desse recurso. Agora, a CGU (Controladoria-Geral da União) está de olho, a nossa Polícia Federal está de olho”, disse ele em conversa com apoiadores, nesta quinta-feira, na entrada do Palácio da Alvorada.

Embora aliados do governo nas disputas municipais se movimentem para deixar o escândalo bem longe de suas campanhas, a oposição já se articula para explorar o episódio, mesmo com a dispensa de Rodrigues. Em conversas reservadas, adversários de Bolsonaro dizem agora, em tom irônico, que os apoiadores do “Mito” – apelido do presidente – precisam arcar com “o bônus e o ônus” de ser governo.

Antes mesmo da demissão do senador do cargo de vice-líder do Planalto, um levantamento produzido pela agência AP Exata nas mídias digitais já mostrava que internautas associam o caso de Chico Rodrigues à gestão Bolsonaro.

A oposição também aproveita o escândalo para destacar que um dos assessores de Rodrigues é Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro. Leo Índio é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), apontado como comandante do “gabinete do ódio”, e já trabalhou com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), alvo de investigações no caso das “rachadinhas”.

Na redes, internautas falam até mesmo em “nepotismo cruzado”, prática que consiste em nomeações de parentes e expectativa de troca de favor ou vantagens políticas entre agentes públicos.

Bolsonaristas alegam, por sua vez, que a escolha de Chico Rodrigues foi feita pelo DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e tentam atingir o deputado, embora o senador seja amigo do presidente há mais de 20 anos.

Em um vídeo antigo que circula nas redes, Bolsonaro diz ter “quase uma união estável” com Rodrigues. Em outro, Flávio Bolsonaro afirma ser “uma grande honra” ter o senador “no time do governo”.

 

O Estadão apurou que o DEM, presidido pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, planeja afastar Rodrigues, que também pode ser alvo de uma Comissão de Ética do Senado. “Estamos atentos a todos os detalhes da investigação e, havendo a comprovação da prática de atos ilícitos pelo parlamentar, a Executiva Nacional aplicará as sanções disciplinares previstas no estatuto do partido”, diz nota divulgada nesta quinta pela cúpula do DEM.

Um amigo de Bolsonaro disse à reportagem que ele ficou “triste” e “abalado”, porque sempre confiou no senador. Em nota, Rodrigues afirmou que acredita na Justiça. “Vou provar que não tenho, nem tive nada a ver com qualquer ato ilícito”, escreveu. Os valores encontrados pela Polícia Federal na casa do antigo aliado do presidente podem chegar a R$ 100 mil, segundo informações obtidas pelo Estadão. Em um ano eleitoral, o escândalo tem todos os ingredientes para provocar muita crise política.

Estadão