Bolsonaro vê Fux como aliado de Moro

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Foto: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

O presidente Jair Bolsonaro foi aconselhado por auxiliares a não comprar briga com o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luix Fux. Animado pelo aumento dos índices de popularidade nas pesquisas, Bolsonaro isolou Fux, a quem enxerga como um aliado do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, e faz questão de mostrar que tem amigos na Corte.

Agora, o palco do confronto é o destino da Lava Jato e de seus investigados. Os movimentos dos últimos dias pareceram sincronizados. Mesmo antes do desfecho do duelo “Bolsonaro versus Moro” – que entrou em cena após o ex-juiz da Lava Jato acusar o presidente de interferir na Polícia Federal para proteger seus filhos e amigos –, o Palácio do Planalto se prepara para a guerra, às vésperas das eleições municipais.

Primeiro, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) cometeu um sincericídio ao traduzir o “acordão” para estancar a “sangria” da Lava Jato, termo usado em passado não muito distante por Romero Jucá, que também virou réu da operação.

Renan disse que Bolsonaro está deixando um “legado” com o desmonte do “estado policialesco” e citou as recentes iniciativas tomadas pelo presidente. Incluiu nesse pacote a indicação do desembargador Kassio Marques para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria do decano Celso de Mello no Supremo. Marques tem afirmado não ser um “juiz midiático” e defende a necessidade de “aparar excessos” nas diligências da Lava Jato.

“Ele (Bolsonaro) já encadeou várias medidas, desde o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a questão da Receita, a nomeação do Aras (Augusto Aras) para a chefia do Ministério Público, a demissão do Moro e, agora, a nomeação do Kassio. É o grande legado que ele pode deixar para o Brasil: o desmonte desse sistema”, afirmou Renan na terça-feira, 6 em entrevista à emissora CNN Brasil.

Um dia depois, Fux fez uma articulação interpretada por muitos como um xeque-mate para “salvar” a Lava Jato. O magistrado surpreendeu o grupo de Dias Toffoli e Gilmar Mendes, amigos de Bolsonaro no Supremo, ao levar à sessão administrativa da Corte, nesta quarta, 7, uma proposta que transferiu o julgamento de ações penais para o plenário.

Com a mudança do regimento, que acabou sendo aprovada por unanimidade – apesar das queixas de Gilmar sobre a forma como o assunto foi abordado – , a análise de casos da Lava Jato, por exemplo, sai agora da Segunda Turma do STF. Esses julgamentos voltam a ser submetidos ao plenário da Corte, composta por 11 ministros.

Presidida por Gilmar, a Segunda Turma abriga uma maioria de magistrados “garantistas”, que costumam defender o direito de o réu apelar em liberdade até o último recurso. O colegiado tem imposto sucessivas derrotas à Lava Jato e foi apelidado pelo ministro Herman Benjamin de “Jardim do Éden” em resposta a Gilmar, que se referiu à Primeira Turma como “Câmara de Gás”.

No Planalto, interlocutores de Bolsonaro afirmam que, ao contrário de Moro, ele nunca confiou em Fux, visto como fiel aliado do ex-ministro da Justiça. O presidente sempre cita a frase “In Fux we trust” (“Em Fux nós confiamos”), que teria sido dita por Moro, quando ele era juiz da Lava Jato, em troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol, então coordenador da operação.

De qualquer forma, pouco depois da primeira vitória de Fux como presidente do Supremo para blindar a já combalida Lava Jato, Bolsonaro reagiu. “Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo”, disse o presidente em mais uma frase que chamou a atenção pelo timbre do confronto.

Nesta quinta-feira, 8, dia em que o Supremo julga se ele deve prestar depoimento presencialmente ou por escrito no inquérito aberto para investigar as acusações de Moro, o tom da disputa prosseguiu.

“Não tenho dado motivo para a Polícia Federal ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado”, afirmou Bolsonaro, que também negou nomeações por apadrinhamento. Resta saber até quando o “acordão” vai continuar produzindo efeitos políticos.

Estadão