Calheiros usa Bolsonaro para voltar à ribalta

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Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) observava todos os passos da gestão Jair Bolsonaro. Recluso politicamente e sem voz ativa no atual governo, o aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — o petista fez questão de visitar o emedebista na unidade de saúde após o procedimento cirúrgico para a retirada de um tumor no rim direito —, decidiu voltar aos holofotes.

Próximo do ministro da Economia, Paulo Guedes, desde o final de 2018, Calheiros agendou logo para os primeiros dias depois da alta médica uma reunião em Brasília com a colega Kátia Abreu (PP-TO) e o superministro. A pauta era para buscar mais recursos para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Mas, do encontro, veio um pedido de socorro.

Segundo interlocutores, Guedes aproveitou o contato com a “velha política” para se aconselhar sobre a então conturbada relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Foi naquele 24 de setembro que surgia a ideia de um jantar de reaproximação entre Maia e Guedes, duas placas tectônicas que insistiam em se chocar, tirando o sossego da República e do mercado financeiro.

Ex-presidente do Senado, Renan Calheiros decidira então sair da reclusão política. Além de intermediar o encontro que selaria a paz entre dois Poderes, se agarrou à bandeira de Guedes e defendeu publicamente o teto de gastos e o aumento de impostos desde que o governo se comprometa a combater também os altos salários do funcionalismo público. O limite para uso dos recursos públicos é visto hoje como uma das principais preocupações do governo, por “imobilizar” as novas ações de Bolsonaro.

“A ampliação do Bolsa Família passa por cortar subsídios ineficientes, eliminar salários acima do teto no serviço público e alíquotas de IR maior para salários de R$ 50, R$ 70, R$ 100 mil. É minha visão, que depende da aceitação da maioria da política”, postou.

Com a nova roupagem, o emedebista já vinha, de forma reservada, tecendo elogios a Bolsonaro. A aliados, Calheiros disse considerar melhor “um Bolsonaro com popularidade do que um Bolsonaro impopular pensando em golpe”. Nesta terça-feira, o emedebista elogiou o presidente por combater um “estado policialesco” no país. “Não estou apoiando o Bolsonaro. Não sou da base do governo. Mas entendo que o Jair Bolsonaro, para além das diferenças que temos, pode deixar um grande legado para o Brasil, que é o desmonte do estado policialesco que tomou conta do país”, afirmou Renan em entrevista à CNN Brasil.

Investigado pela Lava Jato e crítico da operação, Calheiros ainda listou uma série de medidas tomadas por Bolsonaro. “Ele (Bolsonaro) já encadeou várias medidas, desde o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a questão da Receita, a nomeação do Aras para a chefia do Ministério Público, a demissão do Moro e agora a nomeação do Kassio (Nunes Marques, desembargador indicado para o STF). É o grande legado que ele pode deixar para o Brasil: o desmonte desse sistema, que causou muitas vítimas nos últimos anos e tentou substituir a política nacional. Graças a Deus não conseguiu”.

As declarações do símbolo da velha política ganharam destaque nas redes sociais com a hashtag #JairCalheirosBolsonaro, que esteve em primeiro lugar nos Trending Topics do Twitter, nesta quarta-feira. Mas as movimentações de Renan Calheiros lhe colocam de novo ao tabuleiro do xadrez político. Seu nome passa a ser visto como uma opção o caso de Davi Alcolumbre (DEM-AP) não consiga concretizar seu plano de reeleição à Presidência do Senado. A quem pergunta, Calheiros nega interesse neste momento em sentar na principal cadeira da Casa.

Para os senadores, o emedebista repete que o adversário que o derrotou em fevereiro de 2019 numa votação cheia de polêmicas é a melhor opção para o momento e garante que o apoiará caso o Congresso consiga aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para possibilitar a recondução ou caso o Supremo Tribunal Federal decida favorável à mais um mandato de Alcolumbre. Porém, nem todos os colegas demonstram acreditar na retórica.

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