Deputado diz que bajulação a Bolsonaro na TV estatal lembra Coreia do Norte

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Foto: Daniel Apuy/EFE

A vitória do Brasil sobre o Peru por 4 a 2, transmitida pela TV Brasil, serviu para agrados ao governo federal. O narrador André Marques mandou “abraço especial” para o presidente Jair Bolsonaro, ainda no primeiro tempo. A transmissão foi elogiada por governistas, que destacaram os picos de audiência da emissora que o chefe do Planalto já prometeu extinguir ou privatizar. Por outro lado, a exibição foi criticada por opositores. A pedido do governo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) fez a intermediação com a federação peruana e a TV Brasil foi o único canal aberto a transmitir o jogo.

No segundo tempo, o narrador voltou a fazer uma saudação oficial e ainda leu uma nota. “Em nome da Secretaria Especial de Comunicação Social da Empresa Brasil de Comunicação e do secretário Fábio Wajngarten, agradecemos à CBF, nas pessoas do presidente Rogerio Caboclo, do secretário-geral Walter Feldman e do diretor Eduardo Zerbini. E um abraço especial também ao presidente Jair Bolsonaro, que está assistindo ao jogo”.

No intervalo do jogo, houve repercussão da sanção, por Bolsonaro, do projeto que mudou as regras da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e da audiência pública do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre o Pantanal no Senado.

No Twitter, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) usou de ironia para comentar a partida: “Jogo da seleção passando no canal estatal. Narrador mandando abraço pro presidente. No intervalo, notícias do governo. Não, você não está na Coreia do Norte, é o Brasil mesmo”.

 

Filho do presidente da República, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) destacou os picos de audiência que a emissora pública recebeu. Na imagem compartilhada pelo deputado, a TV Brasil tinha 12,8% do total da audiência em Brasília às 22h12, na frente da Record (3,6%) e atrás da Globo (23%), líder dos canais abertos. A Kantar Ibope Media, que faz a medição, não divulgou oficialmente os resultados de audiência. “Se @tvbrasilgov não tivesse sido sagaz e fechado a transmissão de Peru x Brasil ficaríamos sem ver esse jogo em tv aberta”, escreveu Eduardo no Twitter.

 

A oposição, por outro lado, criticou a postura da emissora pública. “No dia em que Carol Solberg é proibida de se manifestar politicamente, a transmissão do jogo da seleção na TV Brasil manda um abraço pro Bolsonaro e no ‘show do intervalo’ divulga os esforços do Salles pra salvar o Pantanal. Dia sombrio para o esporte brasileiro”, comentou Chico Alencar (PSOL-RJ), em referência ao caso da jogadora de vôlei punida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportivo (STFJ) por ter gritado “Fora, Bolsonaro” durante entrevista ao vivo, e às declarações de Salles no Senado.

Ao ser eleito em 2018, Bolsonaro prometeu privatizar ou mesmo extinguir o canal oficial do governo – apelidado de “TV do Lula” por gastar verbas públicas para uma audiência pequena. Nas redes sociais, internautas compartilharam vídeos com declarações do presidente sobre o assunto. “E tem gente que diz que a transmissão do jogo do foi ‘de graça’. Nada disso. Foi você que pagou, para variar”, publicou o deputado estadual Daniel José (Novo-SP).

As negociações para que a TV Brasil transmitisse a partida entre Brasil e Peru envolveram o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, que ligou para o secretário-geral da CBF, Walter Feldman. Após o governo federal fazer o pedido à CBF para poder transmitir o jogo, a resposta oficial foi de que a entidade não tinha os direitos do confronto, que pertenciam à Federação Peruana de Futebol, mandante do jogo, através de sua representante, a GolTV Peru.

A CBF, no entanto, atendeu ao pedido do governo e abriu negociação direta com a Federação Peruana. Restando pouco mais de uma hora para o início da partida, a entidade, então, conseguiu a liberação dos direitos desde que o jogo fosse transmitido exclusivamente por uma TV pública e também pelo site oficial da entidade. A princípio, o jogo seria transmitido apenas pelo sistema de pay-per-view EI Plus, da Turner, que acertou a compra dos direitos de transmissão das duas primeiras rodadas das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo do Catar.

A Globo tem o direito de transmitir os jogos das seleções brasileira e argentina como mandantes nas Eliminatórias e não chegou a um acordo para a partida de terça-feira contra o Peru. A polêmica sobre os direitos de transmissão se dá pelo fato de a Fifa ter alterado a forma de negociação. Antes, o interessado em passar as partidas acertava a compra dos direitos com os organizadores da competição. Agora não é mais assim. O canal precisa negociar diretamente com cada federação nacional.

Estadão