Eleição se acirra em SP e Rio

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Foto: Montagem O GLOBO

A menos de 20 dias do primeiro turno das eleições municipais, as propostas perderam espaço na propaganda dos candidatos na TV e deram lugar a tentativas de desconstruir os adversários em crescimento. Em muitas inserções, não há sequer menção do candidato responsável pelos ataques — os dados da coligação aparecem apenas em letras miúdas, uma exigência da legislação eleitoral.

No Rio, Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos), que iniciaram a campanha na frente, eram os principais alvos, mas, nesta semana, ganharam a companhia de Martha Rocha (PDT), que cresceu e está numericamente empatada com Crivella em segundo lugar, de acordo com a última pesquisa Datafolha. Já em São Paulo, Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição e líder nas pesquisas, é atacado por Celso Russomanno (Republicanos), em queda, e Márcio França (PSB), que tenta uma vaga no segundo turno.

O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) tornou Martha seu alvo preferencial nesta semana, após a pedetista aparecer à sua frente em simulações de segundo turno. Em um dos vídeos, sem que Paes seja citado, é lembrada a atuação dela como chefe da Polícia Civil na gestão de Sérgio Cabral, quando “não prendeu nenhum figurão corrupto da polícia ou da política”. “Chega de arriscar. O Rio não merece um novo Crivella”, finaliza a peça. Outra propaganda de Paes aponta pioras nos índices de roubo de veículos, de crimes sem solução e de estupros no período em que Martha chefiou a Polícia Civil.

O ex-prefeito, por sua vez, é alvo de Crivella. O candidato à reeleição mira no seu antecessor no cargo e em Luiz Lima (PSL), com quem tem dividido o eleitorado bolsonarista. Contra Paes, Crivella usa suas propagandas para veicular um vídeo no qual o ex-prefeito usa palavras de baixo calão na entrega de uma casa popular a uma beneficiária, em 2015, e também recorre a um depoimento de Alexandre Pinto, secretário de Obras na gestão de Paes e delator da Lava-Jato. As duas peças foram derrubadas pela Justiça Eleitoral, a pedido de Paes. Já contra Luiz Lima, o prefeito chegou a divulgar, no início da campanha, uma peça na qual afirma que o adversário entrou na política pelas mãos de Leonardo Picciani (MDB) e que “traiu” Bolsonaro ao anunciar que permaneceria no PSL.

Para o cientista político e professor Paulo Baía (UFRJ), usar o tempo de televisão para agredir adversários sem que o agressor apareça é uma forma de minimizar o que chama de “efeito bumerangue”.

— Agredir alguém prejudica o agressor. Quando se ataca abertamente o outro, você pode fazer disso um bumerangue. Não são raros os casos de eleições nas quais quem atacou acabou se prejudicando. Por isso, há essa estratégia do ataque “sem assinatura”.

— Obviamente, nenhum candidato conta o que tem de ruim. Então, faz parte das campanhas mostrar as fragilidades dos adversários, até para a população conhecer com mais clareza. A regra é não ter fake news — disse Rodrigo Bethlem, estrategista de Crivella.

Luiz Lima, por sua vez, mira nos três mais bem colocados para tentar crescer. Em uma de suas propagandas, um locutor afirma que Paes “esconde processos onde é réu”, chama Crivella de “falso conservador”, afirmando que o hoje bolsonarista foi ministro de Dilma Rousseff (PT) e diz que Martha oculta Leonel Brizola em sua campanha, para esconder sua posição de esquerda. Apenas nos segundos finais, a logomarca com o número de Lima aparece. Para Cacá Colonese, marqueteiro responsável pela campanha de Lima, não se trata de “assassinato de reputação”, mas de “chamamento à reflexão”.

— Não tem nenhum trabalho de desconstrução que não seja baseado em fatos. Há muitos ataques este ano porque é uma campanha muito curta, atípica, sem envolvimento das pessoas na rua. Nesse cenário, os candidatos mais conhecidos, que têm mais recall, são favorecidos — afirma Colonese.

Em São Paulo, Russomanno, em queda nas pesquisas, tem intensificado os ataques contra Covas, que disputa a reeleição. No horário eleitoral, a principal estratégia de Russomanno é associar o prefeito ao governador João Doria (PSDB). Ao se referir ao rival, ele usa o termo “Bruno Doria”. Na noite de segunda-feira, dedicou 51 segundos do programa para indagar sobre a ausência do governador na campanha do prefeito. A rejeição a Doria é alta entre os paulistanos desde 2018, quando ele deixou a prefeitura para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Segundo o instituto Datafolha, 60% dos entrevistados não votariam em candidato apoiado por ele.

Quarto colocado nas pesquisas de intenção de voto, Márcio França prefere usar a internet para atacar Doria e Covas. Nas suas redes, quase diariamente há vídeos ironizando os tucanos. Até uma música, em ritmo de pagode, para criticar as ações do atual prefeito à frente da cidade de São Paulo. O fato de Doria ter abandonado a prefeitura também é lembrado. Já na TV, o tom é mais comedido.

Covas, por sua vez, começou a reagi aos ataques. A campanha tem, ao menos, dois comerciais no ar com críticas à postura dos concorrentes, embora sem nominá-los. Em uma das inserções, o prefeito aponta para o “jogo sujo” na disputa pela prefeitura de São Paulo. Em outro, ele critica a divulgação de notícias falsas e disponibiliza um canal em seu site para o eleitor fazer denúncias de conteúdos mentirosos. Nas duas propagandas, é o próprio candidato quem faz as críticas contra os adversários.

O Globo