Mulheres têm menos acesso a celular que homens

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Foto: Insights / Universal Images Group via Getty

As mulheres sem acesso a celulares são maioria em 75% dos principais países da América Latina e do Caribe, segundo estudo realizado pela Universidade de Oxford com apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

A pesquisa “Desigualdade digital de gênero na América Latina e no Caribe” apontou que o público feminino que relatou não ter aparelhos móveis é superior ao masculino em 17 das 23 nações analisadas na região. A discrepância se acentua ainda mais de acordo com o local de residência. Mulheres que vivem no campo e possuem escolaridade baixa constituem o grupo menos conectado às novas tecnologias.

O estudo, capitaneado pela cientista social italiana Valentina Rotondi, mostra que a desigualdade digital de gênero vinha sendo reduzida gradualmente, mas apresentou piora nos últimos cinco anos. A análise se baseia em dados anuais da Pesquisa Mundial Gallup entre 2006 e 2017, combinados a indicadores da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Também foi feito um rastreamento digital sobre composição de gênero dos usuários do Facebook, cujos dados estão disponíveis em sua plataforma publicitária.

De acordo com os pesquisadores, no entanto, os resultados mascaram uma heterogeneidade observada entre alguns países. Enquanto Argentina e Brasil se aproximaram da paridade de gênero quanto à posse de aparelhos celulares desde 2010, Peru e Guatemala, por exemplo, seguem atrasados nesse aspecto. Já no Chile e no Uruguai, a proporção tende a favorecer o público feminino.

“Apesar dos avanços, as mulheres ainda estão atrasadas no acesso digital. De acordo com o último informe divulgado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), na maioria dos países as mulheres ainda estão atrás dos homens no sentido de se beneficiar do poder de transformação das tecnologias digitais. Mais da metade da população feminina global (52%) ainda não usa internet, em comparação com 42% de todos os homens”, escreveram os autores no relatório.

A análise dos dados do Facebook referentes a 35 países da América Latina e do Caribe revelou que o uso da rede social é mais equilibrado entre homens e mulheres se comparado a regiões como Ásia e África. Em nações como Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Suriname, além da maioria dos Estados caribenhos, as mulheres estão mais propensas a usar a plataforma. Já no México, Guatemala e Nicarágua, os homens são mais ativos.

Na região, havia 422 milhões de assinantes individuais de telefonia móvel em 2019, de acordo com dados da GSMA, organização que representa interesses das operadoras de redes móveis em todo o mundo. A previsão é que esse número chegue a 484 milhões até 2025, o que corresponderia a 73% da população total.

Os pesquisadores ressaltam que a desigualdade de acesso às tecnologias prejudica o empoderamento feminino. Eles concluem que, quanto menor a diferença de gênero na posse de aparelhos, melhores são as perspectivas para as mulheres se inserirem no mercado de trabalho. Isso reduziria a discrepância em indicadores como desemprego juvenil e trabalhos vulneráveis, sobretudo no campo.

“O estudo dos hiatos de gênero no acesso à telefonia móvel nas zonas rurais é de suma importância para a identificação de ações afirmativas que os reduzam e abordem a relação entre esse acesso e o empoderamento das mulheres rurais, que, de forma geral, enfrentam mais situações de pobreza e desvantagens econômicas, sociais e políticas mais graves que as mulheres urbanas”, salientam os autores Francesco Billari, Luca Pesando e Ridhi Kashyap, além da líder da pesquisa Valentina Rotondi.

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