Partidos apostam nos candidatos conhecidos

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Foto: Divulgação/PSB

Na largada das eleições, os partidos estão privilegiando na distribuição de verbas candidatos veteranos e caciques locais. Quem foi eleito em 2018, 2016 ou 2014 recebeu quase cinco vezes a verba dos fundos eleitoral e partidário em relação aos que não foram eleitos nesses pleitos. O primeiro grupo recebeu uma média de R$ 232 mil e o segundo, R$ 49 mil até agora.

Primeiro colocado entre os candidatos que mais receberam recursos, João Campos (PSB) recebeu R$ 7,5 milhões, 36% da verba distribuída pela legenda até agora. Deputado federal, Campos é o herdeiro político do pai, o ex-governador Eduardo Campos, e lidera a disputa para a prefeitura de Recife. Em segundo lugar, está um velho conhecido da política do Amazonas: Alfredo Nascimento (PL) já foi deputado federal, senador, ministro dos Transportes nos governos Lula e Dilma e agora tenta retornar à prefeitura de Manaus, que já comandou entre 1997 e 2004. Em 2018, ele disputou o Senado, mas ficou apenas em quarto lugar.

Outros nomes que estão entre os dez candidatos mais beneficiados são ligados ao comando de seus partidos, como José Sarto (PDT), que tentará manter a hegemonia do clã Ferreira Gomes em Fortaleza, no Ceará, e Bruno Reis (DEM), que ocupa o posto de vice-prefeito de Salvador e tenta suceder ACM Neto, presidente nacional da sigla. Apesar do mau desempenho nas pesquisas eleitorais, Jilmar Tatto (PT), candidato em São Paulo, é o petista que mais recebeu até agora. O grupo dos dez concentram, até agora, 18% de todo o dinheiro distribuído pelos partidos, ou R$ 40 milhões — somando os fundos eleitoral, especial para as eleições, e o partidário.

O senador José Maranhão, presidente do MDB na Paraíba, diz que a desigualdade verificada no início dessa corrida eleitoral é “um absurdo”, mas reconhece que o dinheiro pode até parecer muito, mas não é o suficiente para subsidiar todas as campanhas. O senador é o responsável por dividir R$ 148 milhões para todos os candidatos do seu estado.

— Não pode ter privilégio — afirma Maranhão.

A desigualdade na distribuição repete o que ocorreu em 2018, primeiras eleições com uso de um fundo especial para o financiamento de campanha. A média de recursos públicos a candidatos já eleitos antes foi cinco vezes maior do que aquela recebida por novatos, identificou o GLOBO.

Luma Franco, candidata a vereadora em Lagoa Grande (MG) pelo PSB, achava que teria recursos do fundo eleitoral, mas foi avisada pelo partido que contará apenas com uma doação de 5 mil santinhos e uma funcionária. Ela tem 28 anos, trabalhava na prefeitura e é candidata pela primeira vez.

— Pensei em desistir, mas estou recebendo ajuda da minha família. Fiz um orçamento de R$ 6,7 mil. Não é muito, mas para mim é muito dinheiro, sou pobre. Minha mãe e minha família estão me ajudando a fazer as visitas — diz Luma, pontuando que, como mulher, já é difícil concorrer com pessoas com mais histórico no meio político.

No início da distribuição da verba, o PP enviou mais dinheiro ao diretório do Piauí, de onde é o presidente do partido, o senador Ciro Nogueira. O estado recebeu R$ 11 milhões, 26% do distribuído pela sigla até agora. O partido tem direito a R$ 140 milhões.

Ciro diz que a distribuição depende de que os dirigentes estaduais assinem um termo se comprometendo a respeitar a cota das mulheres e raciais para a repartição do dinheiro, o que ainda não ocorreu em todos os estados.

— Eu só libero o dinheiro para os estados quando esse termo chega para a (direção) Nacional. O Piauí já mandou, por isso já recebeu. No fim da distribuição, o Piauí vai ficar com uma fatia mínima — garante.

Para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, os repasses ainda estão no início e os dados são insuficientes para concluir se há ou não concentração — os partidos distribuíram apenas uma fatia de R$ 202 milhões dos R$ 2 bilhões a que têm direito no fundo eleitoral. O caso de João Campos é excepcional, diz ele, porque o diretório estadual já pediu que o partido fizesse o repasse direto ao candidato, o que ainda não ocorreu com outros nomes.

Presidente do PCdoB na Bahia, o deputado federal Daniel Almeida disse que adotou algumas medidas para não criar desigualdades. Todos os candidatos terão direito a material impresso pelo diretório estadual, por exemplo. Na distribuição de verba, serão privilegiados candidatos a prefeito.

— Temos 1.800 candidatos a vereador. Se fosse dividir igualmente, seria um valor muito pequeno, então a gente transformou isso nessa doação de material. Ninguém vai dizer que não recebeu recursos do fundo eleitoral.

O PL transferiu até agora R$ 20 milhões. Metade foi para Alfredo Nascimento, em Manaus, e a deputada federal Christiane Yared, em Curitiba. O partido afirmou em nota que “sos critérios adotados pelo partido foram aprovados pelo TSE e estão dentro da previsão da legal. Tais critérios constam da estratégia traçada pela legenda para maximizar resultados nas eleições de 2020”.

O Globo