Pastores evangélicos têm pouca influência nas redes

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Foto: RODOLFO BUHRER/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Lançados à disputa eleitoral deste ano pelos braços da Igreja Universal, Marcelo Crivella, que tenta a reeleição no Rio de Janeiro, e o deputado Celso Russomanno, que encara pela terceira vez o pleito em São Paulo, não contam até o momento com o empurrão de influenciadores religiosos no mundo digital para alavancar as respectivas candidaturas.

Dos 10 principais influenciadores digitais evangélicos no Instagram no Rio, nenhum apoia Crivella. Em São Paulo, o movimento na plataforma é muito focado em bombardear Joice Hasselmann (PSL). Já no YouTube, uma base conservadora religiosa, alinhada com o governo federal, mira o governador João Doria (PSDB), que apoia a candidatura do prefeito Bruno Covas à reeleição.

A pedido do Valor, a FGV-Dapp (Diretoria de Análises de Políticas Públicas) monitorou, entre 21 de setembro e 20 de outubro, perfis e páginas de pastores, igrejas, parlamentares e lideranças evangélicas, em várias plataformas, e concluiu que nenhum dos dois candidatos do partido Republicanos conta com forte base de apoio no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.

Influenciadores evangélicos preferem atuar predominantemente no Instagram e no YouTube, mas o tema da disputa eleitoral, até então, não tem se misturado aos debates rotineiros da religião. “Até o momento, é muito baixa, no cenário eleitoral de ambas as capitais, a presença direta de canais e páginas de influenciadores da base evangélica, que em geral é muito ativa no debate político e com impacto bastante superior ao de fontes católicas”, concluíram os pesquisadores.

Segundo Lucas Calil, coordenador de Linguística da FGV-Dapp, uma das hipóteses para explicar a ausência de engajamento talvez seja o fato de não haver “uma única candidatura de matriz conservadora com apoio unânime em nenhuma das duas cidades”.

“Canais e influenciadores religiosos têm, há anos, muita força no engajamento de discussões nacionalizadas no país, sobretudo em relação a segurança pública, aborto, direitos LGBTQIA+ e a agendas associadas a valores familiares, mas, nesse caso, não estão atuando direto em interlocução com as eleições”, conclui.

O levantamento, no entanto, captou uma curiosidade sobre a ação de conservadores católicos, com forte alinhamento ao governo federal, no YouTube. Esse grupo mobiliza fortemente suas páginas para criticar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

As ações desse segmento religioso na plataforma visa dar um caráter nacional aos comentários. A FGV-Dapp mapeou 250 mil vídeos de conteúdo político e eleitoral, em mais de 15 mil canais. Em apenas 11 deles foi detectada explícita associação religiosa com as disputas eleitorais. Porém, todas as discussões têm uma agenda nacional. “O principal influenciador é o católico conservador “Canal Professor Bellei, alinhado ao núcleo olavista pró-governo”, diz a pesquisa. Com um discurso anti-China agressivo, Bellei faz ataques constantes a Doria.

A agenda conservadora serve de munição também para atacar a esquerda, “identificada como potencial organizadora de mudanças morais, caso vença nos municípios”, aponta o relatório. A Dapp constatou que, no Instagram, prevalece um forte debate nacional em São Paulo, mas o mesmo fenômeno não se repete no Rio. “Monitoramento de páginas de parlamentares da bancada evangélica mostra forte atuação dos deputados Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Bia Kicis em rejeição a Doria e, também, à candidata de Joice Hasselmann (PSL)”, aponta a pesquisa.

Ainda que a maior parte dos pastores, padres, igrejas e páginas cristãs permaneçam “discretos na discussão eleitoral” – mas muito alinhados ao governo federal -, sempre há exceções. Uma delas é o pastor Silas Malafaia, “cujo canal foi identificado no mapa de debate político-eleitoral no YouTube”, aponta a FGV-Dapp.

No Twitter, a partir da análise de 2,2 milhões de postagens sobre as eleições, a FGV-Dapp identificou apenas três lideranças que fazem a ponte entre religião e eleições: o próprio Crivella, o deputado federal Otoni de Paula, opositor do atual prefeito, e o deputado federal mineiro Cabo Junio, de forte perfil bolsonarista.

Valor Econômico