Russomanno inventa “efeitos medicinais” da FALTA DE BANHO!

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Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

O candidato do Republicanos a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, sugeriu, ontem, que moradores de rua têm mais “resistência” à covid-19 do que a classe média alta, “porque não têm como tomar banho todos os dias”.

Russomanno participou de um debate promovido pela Associação Comercial de São Paulo e durante sua fala arriscou uma explicação para o fato de, segundo ele, o coronavírus atingir a população pobre com menor intensidade.

“Não foi feito o raio-x adequado para entender como o coronavírus afeta as pessoas. Veja que na periferia tem quatro, cinco pessoas dividindo um mesmo cômodo. Distanciamento social de que jeito? As pessoas mais pobres não foram tão afetadas pela pandemia porque têm mais resistência, andar de pé descalço não é um hábito das classes mais altas”, concluiu.

Na sequência, Russomanno deu a entender que acredita que o coronavírus não é fatal para os miseráveis. “E, engraçado, a covid-19 não acometeu os moradores de rua, que estão aglomerados, não acometeu a Cracolândia, com algumas exceções. Está faltando um pouco de discernimento. E aí acabaram com os eventos da cidade”, afirmou.

No fim do evento, o Valor pediu a Russomanno que esclarecesse sua fala sobre o modo como a pandemia afetou populações mais pobres, como as de rua.

“Todo mundo esperava que a covid tomasse conta de todo mundo, até porque eles [moradores de rua] não têm esse afastamento que foi pré-estabelecido por orientações da Organização Mundial da Saúde e pelo governo. E eles estão aí, nós temos casos pontuais, não temos uma quantidade imensa de moradores de rua com problema de covid. Talvez eles sejam mais resistentes do que a gente, porque eles convivem o tempo todo nas ruas, não têm como tomar banho todos os dias etc e tal, mas não é o que se esperava”, afirmou.

Na entrevista, o candidato disse ainda que é preciso adotar o modelo de distanciamento social verticalizado – o mesmo defendido pelo presidente Jair Bolsonaro no começo da pandemia.

“Se sair para a periferia, você vai ver que o isolamento não existe. O isolamento existe na classe média alta. Nas periferias não. Esse isolamento, depois dos primeiros 30 dias, deveria ter sido feito de forma vertical, cuidando das pessoas com problemas respiratórios, das pessoas cardíacas, dos idosos, das pessoas com deficiência. E não fechando o comércio do jeito que foi feito, quebrando e desempregando todo mundo”, afirmou.

Russomanno disse também que “a gente tem de estudar bastante ainda sobre a covid para entender por quê algumas pessoas são acometidas com graves problemas respiratórios e de embolia e uma série de outras coisas, e outras não”.

Na corrente contrária da lógica de Russomanno, médicos e pesquisadores têm associado maior fatalidade do coronavírus entre populações negras e pobres. Em maio, o diretor do FGV Social, Marcelo Neri, apontou ao Valor números que indicam que jovens mais pobres são mais vulneráveis à covid-19.

Em julho, uma reportagem da BBC News Brasil afirmou que o coronavírus mata mais pessoas negras e pobres no Brasil e em outros países, como Reino Unidos e Estados Unidos.

Valor Econômico