Russomanno põe saúde de Covas na campanha

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Foto: Reprodução site celsorussomano

Em queda nas pesquisas de intenção de voto na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) sugeriu ontem que o prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas (PSDB), seu principal adversário neste momento, poderá não terminar o mandato, se reeleito. Covas luta contra um câncer na cárdia há um ano, mas seu estado de saúde é bom, segundo a equipe médica que o acompanha. A campanha do tucano classificou as declarações de Russomanno como “desespero”.

As duas pesquisas de intenção de voto mais recentes indicam que Covas ultrapassou numericamente Russomanno. Segundo Datafolha divulgada na semana passada, o tucano passou de 21% para 23% das intenções de voto em duas semanas, e Russomanno caiu de 27% para 20%. De acordo com pesquisa XP-Ipespe, publicado hoje pelo Valor, Covas foi de 25% para 27% em uma semana e Russomanno, de 27% para 22%.

Russomanno mudou o tom e passou a atacar Covas diretamente. Ontem, disse a uma plateia de empresários que o vice na chapa tucana, vereador Ricardo Nunes (MDB), está sendo preparado. “E agora eles [campanha de Covas] já prepararam o novo vice, que deve ser o que vai assumir, cheio de rolo na vida. Pior, ganhando dinheiro em cima de crianças, de creches”, disse Russomanno, em café da manhã da União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios. Nunes é investigado pela Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que apura suposto esquema de superfaturamento em creches conveniadas da prefeitura. Antes de citar o vice, Russomanno lembrou que Covas foi eleito como vice-prefeito na chapa de João Doria, em 2016, e assumiu quando Doria deixou o cargo para disputar – e ganhar – o governo paulista em 2018.

Depois do evento, o candidato foi questionado se acredita que Covas não terminará o mandato, se reeleito, e indicou que a saúde do prefeito pode ser um problema. “Eu não vou fazer considerações, porque quem tem que fazer é o médico dele”, disse. Perguntado se estava se referindo ao estado de saúde do prefeito, Russomanno repetiu: “Eu não acho nada, tem que falar com o médico do prefeito”, afirmou. “Conversa com o médico dele”, disse. “Só o médico dele pode responder.”

O médico oncologista Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, que acompanha o tratamento do prefeito desde outubro, quando ele foi diagnosticado com um câncer na cárdia, afirmou que a equipe médica foi orientada pelo próprio político a não omitir informações sobre a doença. Em outubro de 2019, além do tumor na cárdia, foram detectadas lesões no fígado e nos linfonodos ao lado do estômago. Covas fez oito sessões de quimioterapia e as lesões cancerígenas regrediram, mas não desapareceram. Desde fevereiro, ele passou a fazer uso da imunoterapia.

De acordo com Pfiffer, a avaliação clínica realizada a cada três semanas, quando ele toma as injeções do tratamento de imunoterapia, revelam que Covas está saudável. “Clinicamente ele está super bem, bem melhor agora do que na época em que estava fazendo quimioterapia”, disse.

Covas fará um novo exame de imagem, segundo Pfiffer, em dezembro. O último, feito 10 dias antes do início da campanha, indicou que o tumor havia regredido, afirmou o médico. Questionado sobre a possibilidade de cura definitiva do câncer no caso do prefeito, o médico disse que “essa estratégia [de imunoterapia] é recente para a doença dele, há cerca de um ano e meio que está sendo utilizada, e os resultados têm sido muito bons e promissores”.

Em outros tipos de câncer, como melanoma, lesões de células renais, ou câncer de intestino, “a cura é uma possibilidade real” e já documentada. No caso de tumores no estômago, a abordagem é mais recente, mas muito promissora, enfatizou. O médico previu que Covas fará a imunoterapia por pelo menos dois anos.

Aliados de Covas e coordenadores da campanha tucana enxergam na estratégia de Russomanno um sinal de desespero. Segundo um aliado do prefeito, a agenda de saúde de Covas não é assunto da campanha porque ele sempre foi extremamente transparente em relação à doença, ao diagnóstico, aos tratamentos realizados e em curso. Os médicos que acompanham Covas, enfatizou esse aliado, nunca omitiram informações sobre o estado de saúde dele nem detalhes do tratamento.

Já a equipe de Russomanno avalia que Covas usou a doença para tentar minimizar sua rejeição entre os eleitores. Nas primeiras peças de propaganda eleitoral, quando a biografia de Covas foi apresentada, o diagnóstico e o tratamento do câncer foram abordados.

Sempre que questionado sobre o fato, Covas explica que está se submetendo a imunoterapia. O prefeito disse ao Valor, no início do mês, que nunca cogitou deixar a vida pública, após ser diagnosticado com câncer, e que tal recomendação jamais foi feita pelos médicos.

Valor Econômico