Senado quer retardar posse de filho de senador da cueca

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Foto: Reprodução

Ao pedir licença do mandato, Chico Rodrigues (DEM-RR) abriu espaço para que seu primeiro suplente e filho, Pedro Arthur Rodrigues, assuma a vaga de senador por Roraima. A posse depende, no entanto, de uma notificação da Secretaria-Geral da Mesa (SGM), o que não deve acontecer nos próximos dias. A cúpula do Senado sabe que a polêmica tende a reacender assim que Pedro Arthur ocupar o espaço do pai e, por isso, não vai acelerar os trâmites burocráticos.

O Valor apurou que a Secretaria-Geral da Mesa do Senado ainda nem começou a preparar toda a documentação necessária para a notificação do suplente e esse processo deve se estender pelas próximas semanas. Apesar disso, nos bastidores, alguns senadores já admitem que o filho de Chico Rodrigues terá que ocupar o cargo em algum momento. Para alguns parlamentares, ele não pode ser sacrificado, mesmo tendo sido alvo da mesma busca e apreensão que atingiu o seu pai e titular da vaga.

“Qual o problema dele assumir? Sim, [ele] vai assumir em algum momento. Não podemos culpá-lo”, disse um senador próximo ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em caráter reservado.

Na quarta-feira, durante entrevista coletiva, Alcolumbre foi questionado justamente sobre quando a Casa iria intimar o primeiro suplente de Rodrigues, mas desconversou. “Não estou pensando nisso agora”, disse.

O assunto ainda tem incomodado parte dos senadores por conta do desgaste para a instituição. Na prática, depois de notificado, Pedro Arthur Rodrigues terá 30 dias para decidir se quer ou não assumir o mandato parlamentar. Caso ele se recuse a ocupar a cadeira ou não responda a intimação, a SGM do Senado vai preparar uma nova documentação para, em seguida, intimar o segundo suplente do senador de Roraima, Onésimo Cruz.

Diante dessa burocracia, alguns parlamentares torcem para que o suplente apareça apenas no ano que vem, na expectativa de que o caso perca força.

Interlocutores de Chico Rodrigues admitem que, por enquanto, a ideia é que seu filho ocupe, sim, a vaga deixada por ele. Mas, as mesmas fontes também não rechaçam completamente a possibilidade de ele recuar com o avançar das investigações.

Segundo o portal “G1”, os investigadores acreditam que Rodrigues liderava o esquema que desviava recursos da pandemia destinados ao Estado de Roraima. Em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal, a PF diz que o parlamentar atuava como se fosse um “gestor paralelo” da Secretaria de Saúde, cobrando a liberação do dinheiro de emendas parlamentares para o pagamento a empresas investigadas no esquema.

Chico Rodrigues foi pego com R$ 33,1 mil escondidos na cueca durante operação da Polícia Federal. O senador alega que tentou esconder o dinheiro na roupa íntima por um “impulso”, pois teria lido no mandado de busca e apreensão a autorização para que a polícia apreendesse, se encontrasse, “montante superior a R$ 20 mil, que pode ser útil tanto para a comprovação dos delitos, como para o decreto de perdimento ou a reparação dos danos em casos de eventual condenação”. O senador tinha R$ 10 mil e mais U$S 6 mil em seu cofre. Segundo aliados, contudo, havia separado um outro montante que estava em cima da mesa de sua residência para pagar funcionários. O senador tentou botar esse dinheiro dentro das calças.

O caso gerou constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro, pois ele ocupava o cargo de vice-líder do governo e precisou se afastar da função. Seu partido, o DEM, também tenta se desconectar do caso e isolá-lo.

O episódio também colocou Alcolumbre em uma situação delicada, num momento em que o presidente do Senado tenta o respaldo do Supremo Tribunal Federal para concorrer à reeleição e precisa evitar um confronto direto com a Corte e também com os seus pares.

A repercussão negativa do caso provocou discussões sobre um possível retorno do Conselho de Ética do Senado. Pressionado, o presidente do colegiado, Jayme Campos (DEM-MT), defendeu que o órgão volte a funcionar mesmo neste período, no qual as comissões temáticas da Casa estão paralisadas devido à pandemia de covid-19. Ele jogou a responsabilidade sobre o retorno dos trabalhos para a Mesa Diretora do Senado, presidida por Alcolumbre. De acordo com o senador, o Conselho de Ética precisa de autorização da Casa para voltar a trabalhar.

Valor Econômico