Especialistas criticam propostas de candidatos de SP para mobilidade

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Foto: Fábio Vieira / FotoRua

As propostas dos principais candidatos à prefeitura de São Paulo para os transportes são fracas, populistas e não atacam os verdadeiros problemas do trânsito na maior metrópole do país. É a conclusão de especialistas da área que analisaram as promessas de Bruno Covas (PSDB), Celso Russomanno (Republicanos), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), líderes nas pesquisas de intenção de voto.

A área é considerado um dos maiores desafios da cidade, com problemas que perduram há décadas e se refletem em congestionamentos e acidentes de trânsito, como a da cicloativista Marina Harkot, morta no último sábado, 7.

O GLOBO pediu as três principais propostas sobre transporte e mobilidade aos candidatos. As 12 ideias foram analisadas e ranqueadas por especialistas, sem que soubessem o autor de cada uma, de acordo com dois critérios: relevância para a cidade e viabilidade de execução (veja abaixo rankings e como cada candidato se saiu).

“Irrelevante”, “inviável”, “um sofisma” e “o mínimo que se espera de uma gestão” foram alguns dos termos utilizados pelos analistas para descrever as propostas que são o carro-chefe das candidaturas para a área dos transportes. Elas incluem monitoramento da frota, implementação de tarifa zero, uso do Bilhete Único em apps como Uber e criação do transporte sobre rios.

Melhores propostas para a mobilidade de São Paulo por relevância para a cidade, segundo os especialistas

Modernização dos semáforos (França)

Melhorar a acessibilidade dos ônibus para portadores de deficiência (Russomanno)

Fiscalização e auditoria dos contratos da área (Boulos)

Integração máxima dos diferentes modais de transportes (Covas)

Implementar o BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva (Covas)

Ampliar e qualificar a infraestrutura de mobilidade (Boulos)

Monitoramento inteligente das linhas de ônibus (Russomano)

Plano cicloviário integrado, com expansão da malha (Russomanno)

Criação do sistema de transporte público por barcos (Covas)

Integrar o saldo do Bilhete Único para uso nos aplicativos e nos táxis (França)

Zerar a tarifa de ônibus nos domingos (França)

Implementação gradual da tarifa zero (Boulos)

Com nenhuma proposta que busque reduzir o número de acidentes de trânsito na cidade ou leve em conta os efeitos da pandemia sobre o número de veículos, os especialistas afirmam que os candidatos podem estar perdendo chance única de reavaliar o trânsito de São Paulo. E alertam que os políticos parecem, há anos, ter medo de perder capital político se atacarem os principais gargalos da cidade: a precariedade e superlotação dos ônibus, más condições de calçadas, insegurança de pedestres e ciclistas e o excesso de veículos individuais.

As propostas consideradas mais relevantes para a cidade foram a de modernização dos semáforos (de Márcio França), melhoria de acessibilidade para deficientes (de Russomanno) e fiscalização e auditoria de contratos da área (de Boulos).

Mas mesmo estas apresentam falhas, apontam os experts. Os semáforos inteligentes de França são promessa recorrente nas eleições municipais, mas não saem do papel pela dificuldade em encontrar modelo de concessão que interesse à iniciativa privada. A acessibilidade maior prometida por Russomanno exige adaptações de frota e análise da real demanda e impacto das mudanças. E a fiscalização e auditoria de contratos com empresas de ônibus, proposta pelo candidato do PSOL, é considerada viável e urgente, mas de complexa negociação.

— O maior foco hoje deve ser melhorar a qualidade do serviço de ônibus, que é caro e ruim. É preciso investir na integração com o metrô, em corredores de ônibus e em melhorias nos veículos — defende Paulo Bacaltchuk, consultor e engenheiro de Tráfego e Transporte.

Melhores propostas para a mobilidade de São Paulo, por viabilidade da ideia, segundo os especialistas

Fiscalização e auditoria dos contratos da área (Boulos)

Monitoramento inteligente das linhas de ônibus (Russomanno)

Plano cicloviário integrado, com expansão da malha (Russomanno)

Ampliar e qualificar a infraestrutura de mobilidade (Boulos)

Melhorar a acessibilidade dos ônibus para portadores de deficiência (Russomanno)

Integração máxima dos diferentes modais de transportes (Covas)

Implementar o BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva (Covas)

Criar o sistema de transporte público por barcos (Covas)

Zerar a tarifa de ônibus nos domingos (França)

Integrar o saldo do Bilhete Único para uso nos aplicativos e nos táxis (França)

Modernização dos semáforos (França)

Implementação gradual da tarifa zero (Boulos)

A implementação da tarifa zero gradual nos ônibus (de Boulos) e de tarifa zero aos domingos (de França), por outro lado, foram consideradas as proposta menos relevantes e menos viáveis para a cidade. Os especialistas afirmam que falta esclarecer de onde sairia o dinheiro que bancaria os ônibus gratuitos e que é preciso levar em conta consequências negativas, como eventual aumento da demanda num serviço que já é superlotado.

— Não temos nenhuma cidade de grande porte no mundo que ofereça isso e não é à toa. E não tem por que dar tarifa zero para quem pode pagar. Teria que ser só para quem precisa — diz Flaminio Fichmann, urbanista e consultor de trânsito.

Outras propostas também foram consideradas de baixa relevância e viabilidade, como a ideia de Márcio França de uso dos créditos do Bilhete Único em apps como Uber e táxis (que, segundo os especialistas, transformaria o subsídio do vale-transporte em lucro para as empresas de app) e a implementação de transporte sobre rios, proposta por Covas e criticada pela baixa demanda de usuários.

Com décadas de experiência no setor, os experts ouvidos acreditam que as reais soluções para o trânsito paulistano não foram colocadas pelos candidatos ouvidos. Elas incluem, por exemplo, novas regras para remuneração das empresas de ônibus. A renegociação de contratos poderia incluir índices que dessem mais peso para a satisfação do usuário e tempo de viagem, por exemplo.

Outras sugestões incluíram aumento nos investimentos em corredores exclusivos de ônibus, para garantir fluxo livre do modal que transporta mais passageiros, e a criação de “faixas solidárias” piloto, exclusivas para motoristas em carros com mais de um passageiro.

Sua proposta de modernização dos semáforos através de parceria público-privada foi considerada a mais relevante, mas uma das menos executáveis. Semáforos inteligentes poderiam facilitar o trajeto de pedestres e aumentar a eficiência dos ônibus. Mas o formato pode não ser atraente para a iniciativa privada.

— Nos últimos anos todos candidatos propõem essa renovação, mas não conseguem implementá-la — explica Fichmann.

As outras duas ideias de França — tarifa zero aos domingos e integração do saldo do bilhete único para uso em apps e táxis — foram consideradas pouco relevantes ou viáveis. A integração com os apps, segundo França, ajudaria a combater a prática ilegal de venda do crédito do cartão por 50% do valor para atravessadores, comum em grandes cidades.

— Um corrida de app para qualquer lugar próximo não sai por menos de R$7,00 ou R$ 8,00. Se o saldo fosse integrado ao aplicativo, perderia valor e o subsídio da prefeitura viraria lucro para as empresas de app. A venda para atravessadores pode ser combatida com tecnologia — rebate Bacaltchuck.

A proposta de melhorar a acessibilidade para deficientes nos ônibus da capital foi considerada a segunda mais relevante, mas faltou detalhar quantos seriam beneficiados e como as mudanças na frota seriam viabilizadas em contrato. As promessas de monitoramento inteligente das linhas de ônibus para ajuste de frota e plano viário com expansão das ciclovias também foram consideradas viáveis, mas pouco relevantes para resolver os verdadeiros problemas da cidade na área.

— Gestão de frota não pode ser promessa de campanha, é ajuste do dia-dia — diz Horácio Figueira, engenheiro de transportes e consultor. — E as ciclovias têm grande importância pedagógica e de lazer, mas representam menos de 1% da demanda. Investir na segurança de pedestres e ciclistas e nas faixas e corredores de ônibus é mais urgente para desafogar o trânsito.

A proposta de implementação gradual de tarifa zero, com a concessão, ainda no primeiro ano de governo, do passe livre para desempregados, estudantes, gestantes e mulheres com filhos de até 2 anos, foi uma das mais criticadas pelos especialistas, especialmente pela pouca viabilidade econômica.

— De onde virá o dinheiro? E o metrô, que é de competência estadual, continuaria pago. A conta tem que fechar — critica Bacaltchuk.

A promessa de fiscalizar e auditar contratos da área, no entanto, foi bem avaliada: os analistas defendem que um novo modelo de concessão para empresas de ônibus, que melhore a qualidade do serviço e desestimule a superlotação, é essencial. O candidato prometeu também “ampliar e qualificar a infraestrutura de mobilidade, incluindo corredores de ônibus, ciclovias e calçadas”.

— É uma proposta genérica, mas precisa ser feito. A cidade gasta 4 bilhões em subsídios de custeio para os ônibus, mas precisa de investimentos em mobilidade intermodal, como corredores de ônibus e calçadas. Um terço das viagens são feitas à pé — explica Fichmann.

As promessas do atual prefeito de integração máxima dos diferentes modais, a partir da nova concessão para ônibus já realizada pela prefeitura, e implementação do BRT na avenida Aricanduva, foram consideradas relevantes, mas pouco viáveis. O BRT pode direcionar mais pessoas para linhas do metrô que já estão saturadas e a nova concessão foi criticada pela demora e a ineficiência em exigir das empresas melhores condições para os passageiros.

A terceira proposta de Covas inclui a criação de um transporte aquático em parceria com a iniciativa privada. Apesar de encurtar tempo de viagem de quem realiza deslocamentos entre as represas de Guarapiranga e Billings, é mal avaliada em relevância e viabilidade.

— No geral, as propostas de todos são fracas. A ideia de criação do Aquático é bonitinha, mas é como propor oferecer balinhas nas catracas. Não resolve nenhum problema da cidade e não deveria estar entre as propostas principais — diz Fichmann.

As 12 propostas foram ranqueadas pelos especialistas, sem que soubessem o autor de cada uma, de acordo com os dois critérios: relevância para a cidade e viabilidade de execução da ideia. Foram atribuídas notas para cada proposta, idênticas à sua posição em cada ranking. Quanto maior a nota, pior a proposta. As notas foram somadas e geraram um único ranking. Em caso de empate, a proposta melhor colocada foi aquela que recebeu pelo menos uma nota maior.

Horácio Figueira (Professor e especialista em Engenharia de Transportes), Flamínio Fichmann (Urbanista e consultor de trânsito) e Paulo Bacaltchuk (Consultor e Engenheiro de Tráfego e Transporte).

O Globo 

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