PSOL quer que gestão Boulos vire “vitrine” para 2022

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Foto: Kelly Queiroz/Divulgação/CNN Brasil

No lançamento de uma frente progressista em defesa de Guilherme Boulos (Psol) à Prefeitura de São Paulo, o presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, diz que a aliança com PT, PCdoB, PDT, PSB e Rede é um “sinal para o Brasil”, em uma eleição que “transcende as fronteiras” da capital. “Queremos fazer de São Paulo uma vitrine para o Brasil, para demonstrar que a unidade das forças democráticas é possível”. De olho na eleição presidencial de 2022, o dirigente afirma que a vitrine apontará para o futuro não só da cidade, mas do Brasil.

A passagem de Boulos para o segundo turno da disputa em São Paulo é um dos principais marcos eleitorais do Psol em seus 15 anos. Independentemente do resultado nas urnas no domingo, o partido já comemora o feito e projeta Boulos como a “principal liderança da esquerda” em São Paulo. A repetição da frente de esquerda em 2022, no entanto, é outra história, com poucas chances de se repetir.

A disputa dentro da esquerda vai continuar, diz Medeiros. O dirigente do Psol evita embates com o PT e afirma que o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a hegemonia na esquerda, mas avalia que foi o Psol quem melhor conseguiu captar a demanda pela renovação. “O Psol fez 20% em São Paulo. Não tem 20% de ‘psolistas’ na cidade. Nós só somos parte do processo de renovação da esquerda, onde uma nova geração de eleitores busca se identificar com um projeto de esquerda alternativo”, avalia.

A conquista de 1,08 milhão de votos (20,24% dos votos válidos) pela chapa Boulos/ Luiza Erundina representa um salto da sigla. Em 2008, ao disputar a primeira eleição na capital, o candidato do Psol, Ivan Valente, recebeu 42,6 mil votos (0,67%). Quatro anos depois, Carlos Giannazi teve 63,4 mil (1,02%). Em 2016, Erudina recebeu 184 mil votos (3,18%).

A votação de Boulos foi maior do que os 967,1 mil votos recebidos em 2016 por Fernando Haddad (PT), candidato à reeleição, derrotado no primeiro turno. E maior do que o próprio Boulos recebeu no país em 2018, quando disputou a Presidência: foram 617,1 mil votos no país e na capital, 76,9 mil votos.

O desempenho do Psol em São Paulo e Belém, onde disputa o segundo turno, contrasta com o resultado eleitoral no país. No primeiro turno, elegeu quatro prefeitos, todos em grotões: Marabá Paulista (SP), com população estimada pelo IBGE em 5,9 mil habitantes; Potengi (CE), com 11,1 mil; Ribas do Rio Pardo (MS), com 24,9 mil e Janduís (RN), com 5,2 mil. Em 2016, elegeu dois prefeitos no primeiro turno.

Um dos desafios do Psol é ampliar a capilaridade e os filiados. Na capital, são 9,8 mil eleitores filiados, segundo a Justiça Eleitoral. No país, 184,2 mil. O PT tem 1,5 milhão.

Em entrevista ao Valor na sexta-feira, depois do lançamento da frente, Medeiros fez um balanço nas eleições. A seguir, trechos da entrevista.

Valor: O que ajuda a explicar o desempenho do Psol em São Paulo?

Juliano Medeiros: Tem uma demanda por renovação na esquerda que o Psol, mais do que outros partidos, compreendeu e encampou. Tem a ver também com o papel de oposição ao governo Bolsonaro, com a combatividade no Congresso, o trabalho da direção para articular as forças democráticas contra o bolsonarismo. O compromisso com o combate aos retrocessos foi compreendido por eleitores progressistas como um depósito de confiança nas candidaturas. Isso justifica o crescimento, mas que deve ser relativizado porque são só três segundos turnos no país. São Paulo, Belém e no Recife, somos vice de Marília Arraes (PT). Nosso nível de implantação não é tão grande no interior do país.

Valor: A aproximação com a juventude foi o trunfo do Psol?

Medeiros: Tem uma renovação geracional do eleitor e nesse processo, muitos novos eleitores têm buscado um partido de esquerda que não tenha passivos, equívocos, erros da experiência de governo de grandes partidos de esquerda, que nós não temos. Isso cria um ambiente de maior segurança para que os eleitores optem pelo Psol.

Valor: O senhor concorda com a avaliação de que o Psol está herdando parte do espólio do PT?

Medeiros: Não acho. O PT tem os seus eleitores e o Psol tem novos eleitores de esquerda, progressistas. O PT fez 10% dos votos [8,6%] na capital. O Psol fez 20%. Não tem na cidade 20% de ‘psolistas’. Nós só somos parte de um processo de renovação da esquerda, onde uma nova geração de eleitores busca se identificar com um projeto de esquerda alternativo. Não tem nada a ver com espólio do PT ou de outro partido. O PT continua tendo força, peso e um tipo de eleitor que é diferente do nosso, o eleitor lulista.

Valor: O senhor vê o PT perdendo a hegemonia na esquerda?

Medeiros: Não acho que o PT perdeu hegemonia, mas a hegemonia vai sendo questionada por outros projetos de esquerda. O bloco PDT, PSB e Rede busca um projeto de esquerda alternativo ao do PT. O Psol também tem projeto alternativo. Mas a força hegemônica na esquerda ainda é do PT, que tem mais de 1 milhão de filiados, governa centenas de cidades [ elegeu no domingo prefeitos em 179], milhares de vereadores. A hegemonia segue, ainda que questionada.

Valor: Como o senhor avalia o resultado em São Paulo?

Medeiros: Se olhar o histórico, temos tido desempenho de partido pequeno. O Psol sai super credenciado e o Boulos também. Sai como a grande liderança da esquerda de São Paulo. Não há dúvida.

Valor: E a desistência de Marcelo Freixo no Rio? Foi um erro?

Medeiros: A construção de unidade tem limites. Enquanto o nome de Freixo estava colocado, havia um ambiente mais propício à unidade. Mas mesmo com Freixo, muitos partidos esquerda, centro-esquerda tinham optado por candidatura própria. A unidade já estava em xeque. A unidade não pode ser um fetiche. É um processo que leva em conta interesses eleitorais, base política, convivência e confiança. Tem que estar bem azeitado para que tenha alianças. Em alguns lugares isso foi possível, em outros não. Não acho que o que aconteceu no Rio foi uma catástrofe. Em Florianópolis, saímos com a esquerda unificada e não chegamos ao segundo turno. As alianças são importantes, mas não são indispensáveis para a vitória.

Valor: O senhor disse que São Paulo será uma vitrine para o país. É um laboratório para 2022?

Medeiros: Se governamos São Paulo e governarmos bem, podemos melhorar as condições para uma unidade eleitoral em 2022. Mas depende de muitos fatores. Depende menos de nomes, de competitividade eleitoral e mais do debate em torno de um projeto político. Qual é o projeto que a esquerda defenderá para 2022? São Paulo pode dar uma contribuição. [Se vencer], vamos governar contra as máfias, contra as elites e isso pode demonstrar que é possível fazer no Brasil. Sem partidos da velha direita, do Centrão. Podemos ajudar a esquerda a encampar um projeto de independência a esses partidos.

Valor: O futuro da frente depende da vitória em São Paulo?

Medeiros: Depende. A vitrine é a promoção de políticas públicas capazes de demonstrar na prática que onde a esquerda governa, a vida é melhor. Menos discurso e mais exemplos práticos.

Valor: O senhor compartilha da avaliação de que a frente só é viável se o PT não buscar o protagonismo?

Medeiros: Há projetos em disputa na esquerda, que seguirão existindo. Em 2022 haverá projetos distintos. Se as diferenças que existem serão ou não suficientes para construir uma unidade eleitoral, é muito cedo para dizer. Ninguém pode exigir nem do Psol, do PT, do PDT que deixem de disputar. É parte do jogo. Se alguém dissesse para o Psol não ter candidato em 2018, não daríamos bola. O mesmo vale para o PT, para Ciro. Conseguiremos trabalhar para tornar as diferenças menos relevantes e chegarmos à unidade? Só tempo dirá.

Valor: Analistas falam que Boulos representa um pós-Lula, mas tanto o candidato quanto o Psol rejeitam essa comparação. Há uma preocupação em não vincular a trajetória de Boulos à de Lula e, ao mesmo tempo, evitar críticas ao PT?

Medeiros: Fomos oposição ao PT por 13 anos. O PT não está mais no governo. Essa obsessão de que o Psol faça oposição a um partido que não está no poder beira a patologia. Fazemos oposição a quem está no governo. Em São Paulo, é o PSDB. Na Presidência, é Jair Bolsonaro. Não vamos perder nosso tempo criticando PT, PSB ou PDT. Não estão mais no poder.

Valor Econômico

 

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