Surgem fortes evidências contra Carluxo

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Foto: Jorge Hely / FramePhoto / Folhapress

Quando as urnas fecharem neste domingo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) deverá estar na lista dos reeleitos para uma das cadeiras do Palácio Pedro Ernesto. Mais que isso, o filho “zero dois” de Jair Bolsonaro deverá ser um dos mais votados do Rio de Janeiro, segundo pesquisas feitas tanto por aliados quanto por opositores. Há quatro anos, ele já liderou o ranking de eleitos para a Câmara de Vereadores com mais de 106 mil votos. Em 2020, sem pisar na rua para fazer campanha, os mais otimistas em seu entorno acreditam que ele poderá até dobrar sua última votação. Com os esforços voltados para as redes sociais, por meio de postagens e vídeos, com direito ao constrangedor fundo falso de estante de livros, Carlos caminha para seu sexto mandato consecutivo gastando menos de R$ 100 mil para se eleger. Mas entrará na sala 905 do Palácio Pedro Ernesto mais preocupado do que nos mandatos anteriores em razão do andamento das investigações que recaem sobre ele e os funcionários de seu gabinete.

As informações bancárias das quebras de sigilo de funcionários de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), senador e irmão mais velho de Carlos, obtidas por ÉPOCA mostram que assessores do “zero um” também sacavam integralmente seus salários em espécie quando davam expediente junto ao zero dois na Câmara Municipal do Rio — era comum o revezamento de assessores entre as vagas de ambos os rebentos de Jair Bolsonaro ao longo de seus mandatos. No caso de Flávio, como houve quebra de seu sigilo, já é possível aferir que enquanto seus empregados sacavam dinheiro vivo e a conta do ex-policial militar Fabrício Queiroz engordava, o então deputado estadual curiosamente teve a seu dispor mais de R$ 3 milhões em espécie para além de seus rendimentos como parlamentar.

“DURANTE O PERÍODO EM QUE CONSTAVA COMO FUNCIONÁRIA NOS GABINETES DE CARLOS E FLÁVIO BOLSONARO, ANDREA SIQUEIRA VALLE FAZIA FAXINAS PARA SOBREVIVER. SEU SALÁRIO COMO ASSESSORA PARLAMENTAR ULTRAPASSAVA OS R$ 7 MIL”

Embora os dados levantados pela investigação do Ministério Público (MP) sejam sobre o gabinete de Flávio, ali estão indícios de que, junto ao zero dois, existia um modus operandi similar ao operado por Queiroz ao coletar os rendimentos dos funcionários de Flávio. Em centenas de tabelas de movimentações bancárias que constam da denúncia apresentada contra Flávio, no início de novembro, o retrato observado é que mais de R$ 4 milhões em dinheiro vivo circularam, em dez anos, no que foi apontado como “organização criminosa” liderada pelo hoje senador. Ora ocorriam saques e entregas ao vivo, ora eles se transformaram em depósitos sem identificação do depositante. Luiza Souza Paes, ex-assessora de Flávio, confessou em depoimento ao Ministério Público como funcionava a estratégia da entrega de salários por meio de depósitos na boca do caixa. No caso de Carlos, o dinheiro trilha um caminho semelhante ao deixar os cofres públicos: o saque em espécie.

Na denúncia contra Flávio Bolsonaro, os investigadores também encontraram outros indícios das relações financeiras entre os dois gabinetes. Flávio disse à Receita Federal ter contraído um empréstimo de R$ 230 mil junto a Carlos, seu pai e Jorge Francisco, antigo chefe de gabinete de Bolsonaro. Segundo os promotores, esse dinheiro, posteriormente usado para compra de salas comerciais, jamais passou pelas contas de Flávio. Foi movimentado, desde sua origem, em espécie.

Andrea Siqueira Valle é fisiculturista, tem 48 anos, só estudou até a quinta série do ensino fundamental e viveu a maior parte de sua vida no bairro Morada da Colina, em Resende, no sul do estado do Rio. Ela é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente Jair Bolsonaro e ex-chefe de gabinete de Carlos. Durante seus mandatos como vereador, desde 2001, Carlos nomeou sete parentes da ex-madrasta para trabalhar com ele. Parte deles, no período em que ela viveu em união estável com o presidente, entre 1998 e 2008. Andrea é um dos principais nomes dessa lista na investigação do zero dois. Figura como uma das pessoas que mais tempo estiveram nomeadas entre os gabinetes da família Bolsonaro. Um total de 7.286 dias ao longo de 20 anos. O primeiro período foi na Câmara dos Deputados, no gabinete de Jair Bolsonaro, entre 1998 e 2006. Em seguida, no mesmo ano, foi colocada como funcionária de Carlos e, dois anos depois, em 2008, foi para a Alerj com Flávio. Foi exonerada em agosto de 2018.

Quem a conheceu ao longo dessas duas décadas, porém, nunca soube de sua ampla expertise como assessora parlamentar. A fisiculturista nunca teve crachá no Palácio Pedro Ernesto, e na Alerj só há registro de um pedido de identificação no último ano em que ela constou como assessora. Em Resende, onde Carlos também nasceu, Eliane Montaglione, dona da Academia Physical Form, contou a ÉPOCA que ela era conhecida por participar de concursos de fisiculturismo e malhar duas ou três vezes ao dia. Andrea também exercia a profissão de faxineira em residências na cidade. Os amigos com frequência a ouviam reclamar sobre a falta de dinheiro e a dificuldade para criar sua única filha. Por anos, ela morou num pequeno imóvel construído no fundo da casa dos pais, comprado em dinheiro vivo em 2000 depois que Ana Cristina Valle passou a viver com Jair Bolsonaro.

A rotina de restrições financeiras, treinos em nível avançado e emprego doméstico a mais de 300 quilômetros dos gabinetes dos irmãos Bolsonaro contrasta com a vida que se espera de uma funcionária pública da capital fluminense. Até agosto de 2018, Andrea ganhava um salário bruto de R$ 7.326,64 (R$ 7.766,23, em valores corrigidos) na Assembleia Legislativa, além de receber um auxílio-educação de R$ 1.193,36. Já na Câmara de Vereadores, o último salário dela foi R$ 5.923,44 (R$ 11.195,30, corrigidos). A reportagem de ÉPOCA teve acesso a informações exclusivas da quebra de sigilo bancário e fiscal dela entre 2007 e 2018. Os dados revelam que, enquanto esteve nomeada como assessora de Carlos, Andrea sacou, em espécie, 97% de tudo que recebeu da Câmara de Vereadores. Nesse mesmo período, ela manteve o hábito de sacar R$ 1.000 todos os meses, perto das datas de pagamento do salário. Dos 145 saques feitos no período, 65 foram nesse valor, equivalente a 45% do total. Os demais saques tinham valores frequentemente repetidos, como R$ 10, R$ 50 e R$ 20.

O hábito de sacar R$ 1.000 foi interrompido logo após Andrea ingressar no gabinete de Flávio. Desde que assumiu, em agosto de 2008, ela passou a realizar saques fracionados de R$ 500, assim como os demais integrantes de sua família que trabalhavam no local. Como mostram os extratos, os saques nesse valor eram feitos em volume dez vezes superior ao segundo valor mais frequente, de R$ 100, pelos assessores do gabinete. Dos 1.428 saques feitos por Andrea no período, 83% eram de R$ 500 — ou seja, 1.193.

Desde o fim do ano passado, Andrea é procurada pelos promotores que investigam o caso de Carlos e que antes eram responsáveis pela investigação do procedimento da “rachadinha” no gabinete de Flávio. Quando o juiz Flávio Itabaiana autorizou mandados de busca e apreensão nas residências de ex-assessores de Flávio, em 18 de dezembro de 2019, os agentes estiveram na casa da família Valle, em Resende. Enquanto procuravam documentos e aparelhos eletrônicos que pudessem interessar à investigação, eles perguntaram algumas vezes onde vivia Andrea. Em outubro deste ano, outra vez agentes do MP estiveram na casa da família procurando pela fisiculturista, sem sucesso. Não se sabe onde ela fixou nova residência.

No período em que morava em Resende, entre 2013 e o fim de 2018, os documentos submetidos por ela à Receita Federal tinham como endereço a Rua Erick Nordskog, no bairro Jardim Brasília 2. Só que o morador desse endereço é o coronel da reserva do Exército Guilherme Hudson, tio de Andrea e Ana Cristina, outro parente investigado no esquema da “rachadinha” no gabinete de Flávio. Ela chegou a se mudar para Guarapari, no litoral do Espírito Santo, mas saiu de lá depois que a reportagem do GLOBO a procurou, em maio do ano passado.

Outros familiares de Andrea deverão ser chamados para depor. Assim como as evidências encontradas nas transações da fisiculturista, investigadores avaliam padrões similares nas operações financeiras feitas por Ana Cristina. A cunhada da ex de Bolsonaro, Marta Valle, professora e moradora de Juiz de Fora, em Minas Gerais, já foi chamada a depor, mas não compareceu. Passou sete anos e quatro meses lotada no gabinete de Carlos, entre 2001 e 2009. Admitiu a ÉPOCA nunca ter trabalhado para Carlos. Ana Cristina também já foi convocada, mas ainda não foi ouvida — em algumas ocasiões, não compareceu. Na última, houve um problema técnico da parte dos promotores. Procurado, o advogado Magnum Cardoso disse que Ana Cristina está aguardando uma data para depor. Antonio Fonseca, que defende Carlos Bolsonaro, disse que não comentaria o procedimento em segredo de Justiça.

Época 

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