Parte dos eleitores de Trump não crê em fraude

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Foto: JOSE LUIS MAGANA / AFP

Um evento em apoio ao presidente Donald Trump nos arredores da Casa Branca no último sábado atraiu bem menos pessoas que um mês antes, logo após a eleição. O clima refletia a decisão da Suprema Corte, na véspera, que se recusou a examinar um processo republicano para anular o voto popular em quatro estados onde Joe Biden foi vitorioso, a última grande possibilidade de reverter o triunfo democrata.

— Eu quase não vim depois do anúncio de ontem — disse Richard Everit, que afirmou gostar da maneira como Trump desafia o establishment de ambos os partidos. — À essa altura, já era. Eu odeio dizer.

O veredicto de sexta foi a pá de cal em um mês de fracassos: Trump e seus aliados perderam dezenas de processos, dois deles na maior instância da Justiça, apesar da maioria conservadora de seis juízes a três. Nesta segunda, o Colégio Eleitoral deve dar o selo final de aprovação à vitória de Biden. Ainda assim, a visão majoritária entre os eleitores mais fiéis do presidente é que ele foi o vencedor legítimo da eleição, mesmo sem provas concretas disso.

Pesquisas mostram a realidade alternativa: uma delas, divulgada pela Fox News na sexta-feira, indica que 77% dos eleitores de Trump acreditam que a eleição foi roubada. Entre os democratas, apenas 10% compartilham desta opinião. Outra pesquisa, realizada pelo instituto Bright Line Watch no fim de novembro, mostra que metade daqueles que aprovavam o governo Trump na ocasião acreditava que o republicano seria reconduzido ao poder.

Entrevistas com dezenas de eleitores de Trump, entretanto, mostram um cenário mais complexo: alguns apoiadores mais fanáticos estavam sedentos por informações que endossassem as alegações de fraude e nada os convenceria do contrário. Outros demonstravam hesitação.

Para metade dos entrevistados, houve sim algum nível de irregularidade, mas é mais difícil de saber até que ponto isso seria suficiente para alterar o resultado da eleição. As razões para duvidar do resultado são muitas, passando pela desinformação e pela retórica republicana encabeçada por Trump. A polarização política também foi um fator.

Alguns desconfiam tanto dos democratas que aceitavam argumentos sobre fraudes maciças simplesmente porque a oposição não aceitava. Outros afirmavam que irregularidades disseminadas não eram um fenômeno tão raro assim, ao contrário do que mostram as estatísticas. Exemplo maior da polarização é que muitos demonstraram surpresa com o resultado porque não conheciam ninguém que havia votado em Biden.

— Se eu acredito que Trump, [Rudolph] Giuliani e sua trupe estão 100% certos? — indagou Richard Houskamp, referindo-se à cruzada do presidente e de seu advogado pessoal em busca de evidências que sustentassem suas alegações de fraude. — Eu não acredito.

Houskamp, que é dono de uma empresa de tecnologia em Michigan, contudo, afirmou não acreditar nas declarações dos funcionários eleitorais de seu estado que atestaram a lisura do processo. Ele também não crê que Biden ganhou nacionalmente, mesmo sem qualquer evidência do contrário, e demonstrou frustração pelo fato de que metade do país não esteja sequer disposta a ouvir as alegações do presidente.

O que acontece agora é crítico para a democracia americana. A crença de que o resultado da eleição foi ilegítimo vai se dissolver junto com as tentativas de Trump de reverter o pleito e desaparecer de vez com a posse de Biden? Ou vai se espalhar, endossada por republicanos no poder, se transformando em um mantra nos próximos quatro anos?

Para Keith Darden, cientista político na Universidade American, a percepção importa mais que a realidade. O professor, especialista em Rússia e Ucrânia, vê paralelos entre os EUA e os países que estuda. Todos têm líderes eleitos que, por benefício próprio, alimentaram conspirações sobre coisas terríveis que a oposição estaria fazendo, além de sociedades altamente polarizadas. A seu ver, líderes republicanos que encorajam a retórica presidencial estão indo por um caminho perigoso, cujo fim pode ser imprevisível.

— Se um número suficiente de pessoas acredita que um governo não foi eleito de modo legítimo, é um grande problema para a democracia — afirmou. — Quando a realidade é degradada, torna-se muito difícil resgatá-la.

Há paralelos históricos nos EUA, aponta David Blight, historiador especializado na Guerra Civil americana da Universidade Yale, lembrando que em 1860, estados do Sul se recusaram a reconhecer a vitória de Abraham Lincoln. Na ocasião, o comparecimento às urnas também foi muito alto, porque, similarmente ao que ocorre hoje, a população acreditava que o “futuro da República estava em jogo”.

Mais do que questionamentos sobre quem tomará posse em janeiro, os eleitores entrevistados demonstraram desconfiança sobre o sistema eleitoral — algo encorajado pela alta cúpula do Partido Republicano. Um deles foi John Kenney, que votou em Barack Obama em 2008 e 2012. Em 2016, não votou em ninguém porque não gostava de Trump ou de Hillary Clinton, mas deu seu voto ao magnata em 2020 porque está cansado do que chamou de crescente intolerância da esquerda.

— Minha confiança nas eleições está em um nível baixíssimo (…). Eu achava que tínhamos um sistema muito bom, e agora não sei quem votou, como ou no que votaram, e quem contou. Eu não confio — afirmou. — Você é tão branco que cometeu o pecado original e não pode fazer nada que não seja pedir desculpas públicas para todos e nós decidiremos se você poderá ou não manter sua carreira — completou, referindo-se a um comportamento que associa aos democratas.

Kenney disse crer que Trump está acabado e que é “irrelevante”, mas que os republicanos não irão esquecer tudo isso. Sentimento similar é compartilhado por Everit, que também não havia votado em 2016. Desta ver, foi às urnas por medo de uma derrota do presidente.

— Você se alienou da população se tem centenas de dólares em sorvete no seu freezer — disse, referindo-se a um vídeo que viralizou há alguns meses da geladeira de Nancy Pelosi, deputada democrata que lidera a Câmara. — Eu provavelmente não vou votar de novo. Os democratas vão gostar disso.

Everit não acredita que a vitória de Biden foi legítima, assim como Evelyn Akins, que trabalha em uma padaria no condado de Letcher, em Kentucky, onde Trump teve 79% dos votos. Segundo ela, todos na sua região sabem que “a eleição foi roubada” de Trump.

Outros, no entanto, têm menos certeza sobre as alegações de fraude.

— Eu acho que houve fraude, mas eu não creio que tenha sido disseminada — disse Anthony Cabassa, presidente da Assembleia Republicana Nacional Hispânica da Califórnia, que afirmou não ter certeza se isso seria suficiente para uma vitória de Trump.

Cabassa, que nunca havia votado antes de 2020, se envolveu com a política republicana porque gostava da retórica de Trump, retratado como um outsider do establishment partidário. A seu ver, os democratas estão há anos no pé do presidente, primeiro com o inquérito sobre a suposta interferência russa nas eleições de 2016 e, depois, com o impeachment.

— Eu estou, tipo, “espera, como passamos das eleições mais inseguras com tanta interferência em 2016 para os democratas afirmando que esta foi a eleição mais honesta e, assim, do nada, devemos confiar 100%?” — indagou.

Muitos dos participantes também creem que Trump irá tomar posse em 20 de janeiro, apesar de todas as evidências do contrário.

— Ele tem mais alguma carta na manga — disse a oftalmologista aposentada Julie Claveria, que viajou nove horas para participar do evento de sábado. — Eu acho que há um grande golpe contra o nosso país. O FBI está envolvido, a CIA também. É uma loucura, até os juízes [estão envolvidos].

O Globo 

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