Por aborto, presidente argentino rompe com papa argentino

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Foto: © Márcio Resende

O presidente Alberto Fernández, como impulsor da lei que permite a interrupção voluntária da gravidez até a 14ª semana de gestação, e o Papa Francisco, como o argentino que lidera a instituição que mais rejeita o aborto, passaram a ser os máximos representantes de visões diametralmente opostas, estremecendo uma relação de aliança política.

Logo após a votação que legalizou o aborto, o presidente argentino celebrou a aprovação do projeto-lei que ele mesmo impulsionou e que ajudou a aprovar ao persuadir o voto de cada senador indeciso.

“Hoje somos uma sociedade melhor, que amplia os direitos das mulheres e garante a saúde pública”, publicou Alberto Fernández nas redes sociais, destacando o seu primeiro triunfo político relacionado a uma promessa de campanha.

Porém, do lado oposto a essa celebração, está outro argentino, também chefe de Estado, o Papa Francisco, que, ao longo deste primeiro ano do mandato de Alberto Fernández, foi o maior aliado internacional do governo argentino.

“Viver é, sobretudo, ter recebido a vida. Todos nascemos porque alguém nos desejou a vida”, disse o Papa Francisco, logo após a aprovação no Senado argentino, durante a sua última audiência geral do ano no Vaticano.

Antes do começo do debate no Senado argentino, o Papa tinha difundido outra mensagem através das redes sociais: “Toda pessoa descartada é um filho de Deus”.

“O Papa contribuiu de forma decisiva para a Argentina obter um acordo de reestruturação da sua dívida externa com credores privados. Tinha sido um pedido de Alberto Fernández, que, mesmo assim, avançou com o aborto. Essa relação agora está ferida. Não haverá um conflito aberto, mas há um rompimento”, observa o analista político Rosendo Fraga.

“O Papa estava ajudando num acordo com o FMI e cumpria um papel fundamental, através da Igreja, na rede de contenção social num país com forte agravamento da crise econômica”, acrescenta o jornalista e biógrafo autorizado do Papa, Sergio Rubin.

“Alberto Fernández não terá mais o pontífice ao seu lado. A nova lei abala o vínculo do governo com a Igreja”, conclui Rubin, autor de O Jesuíta.

Para Rubin, o governo argentino ignorou que a maioria dos argentinos está contra a legalização do aborto, segundo todas as sondagens publicadas nas semanas prévias.

“A aprovação do aborto legal fere também o Papa, porque acontece na sua própria pátria. Isso atinge Francisco perante os setores mais conservadores do Vaticano que questionam com força o perfil de abertura do seu pontificado”, aponta Rubin.

Igreja deve atuar contra implementação da lei

“A Igreja também vai incentivar as ONGs pró-vida e particulares a apelarem à Justica com base na Convenção dos Direitos da Criança e no Código Civil. A nova lei deve ser questionada na Justiça como inconstitucional”, indica Sergio Rubin.

A Constituição argentina considera os direitos de uma pessoa a partir da concepção, em sintonia com a visão da Igreja.

A partir da aprovação da lei, o governo argentino tem até dez dias úteis para promulgar a nova lei. A implementação será um processo posterior a ser costurado com diversos setores da sociedade.

A popularidade do presidente Alberto Fernández está em queda livre. Recuou para cerca de 30%, depois de ter alcançado 70% em abril.

Devido à quarentena de oito meses para conter a epidemia do coronavírus, a queda na economia argentina será mais profunda do que as dos seus vizinhos.

A legalização do aborto serve para contentar a militância e para mostrar um governo com uma vitória num ano de derrotas, sobretudo na perspectiva das eleições legislativas previstas para outubro de 2021.

“Alberto Fernández priorizou uma conquista política num ano de derrotas, mas os danos colaterais significam perdas que ainda não podem ser mensuradas na sua dimensão política e social”, adverte o analista político Rosendo Fraga.

rfi

 

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