PSOL defende que aliança de esquerda em 22 deve focar objetivos

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, afirma que o candidato derrotado no segundo turno da eleição de São Paulo, Guilherme Boulos, pode ser “o que ele quiser em 2022”. O dirigente, porém, ressalta que as conversas com outros partidos do campo da esquerda sobre uma possível chapa conjunta para a disputa presidencial não devem se dar em cima de nomes e sim de projeto. Para o PSOL, uma das condições para composição é um compromisso de que a governabilidade não seja garantida “na base do toma lá dá cá”. Nas gestões dos petistas Lula e Dilma Rousseff, o apoio no Congresso foi negociado em troca de cargos em ministérios e estatais.

O que a votação de domingo mostrou para os diferentes campos políticos?

A grande fotografia dessa eleição é a confirmação de que o bolsonarismo é um gigante com pés de barro. Não quer dizer que o Jair Bolsonaro e o bloco que dá sustentação a ele, hoje vitaminado por partidos do centrão, vão chegar em 2022 enfraquecidos. Mas mostra que não é um projeto com apoio expressivo na sociedade brasileira. Como o pêndulo em 2018 foi muito para a direita, naturalmente ele retorna agora validando posições de direita mais moderadas porque ainda persiste um resquício de desconfiança com as forças de esquerda. Mas me parece que esse processo começa a ser gradativamente superado pelo surgimento de novos nomes, novas ideias e novas propostas no debate público.

E para a esquerda, qual o recado?

Antes de mais nada, a necessidade de renovação. Houve uma clara e manifesta demanda por novos nomes e novos rostos. E isso, sem deixar de reconhecer o papel que lideranças já consolidadas ainda cumprem. Uma demanda por renovação se verificou não só no segundo turno, mas também na eleição de vereadores que são representantes de lutas e movimentos que buscam seu espaço na política brasileira, em particular mulheres, negros e jovens. O segundo recado diz respeito ao tema da unidade. Por um lado, a eleição demonstrou que a unidade por si não é suficiente para garantir vitórias eleitorais. Olha o caso de Florianópolis, onde fizemos a maior frente de esquerda do Brasil e o candidato do PSOL não chegou ao segundo turno. E o caso de São Paulo, onde o Boulos com uma pequena coligação (UP e PCB), chegou ao segundo turno. Embora a unidade não deva ser um fetiche para a esquerda, ela facilita muito as coisas. O fato de termos melhorado o ambiente de diálogo entre os partidos de oposição permitiu que no segundo turno promovessemos grandes frentes. O tema da unidade se revelou algo importante, mas não suficiente para superar as dificuldades que a esquerda ainda tem no Brasil.

No discurso após o resultado, Boulos disse que pretende trabalhar para o que foi construído em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil. Os partidos de esquerda que o apoiaram no segundo turno devem ter um candidato único em 2022?

Não necessariamente. Claro que vamos trabalhar para que o patamar de unidade que existe hoje entre os partidos de oposição melhore. Isso é bom para o Brasil porque garante uma melhor articulação no âmbito legislativo para barrar os projetos de destruição do governo Bolsonaro. É bom porque a prioridade do PSOL é combater o governo Bolsonaro e não estimular divisões na oposição. O que vai determinar se vamos ter um nível de unidade para 2022 que permita uma aliança é o debate de projetos. Nós do PSOL não vamos debater nomes neste momento e não vamos debater apenas as alianças eleitorais. O queremos debater com o restante da oposição é um projeto para o Brasil, que mude a política econômica privatista, que reverta as medidas de retirada de direitos promovidas nos últimos anos, em particular a PEC do teto de gastos. Que preveja uma nova governabilidade não baseada no toma lá dá cá, mas na mobilização popular e na participação da sociedade. Se chegarmos próximos de 2022, com unidade desse projeto, realmente, de verdade, o tema do nome vai ser para nós do PSOL uma questão secundária.

Qual vai ser o papel do Boulos a partir de agora?

O Boulos só conseguiu o extraordinário desempenho eleitoral que alcançou em São Paulo porque se predispôs a assumir o papel de uma das grandes lideranças contra o governo Bolsonaro. Enquanto outras lideranças estavam articulando as suas candidaturas a prefeito, resolvendo seus problemas domésticos, o Boulos foi para linha de frente para denunciar os ataques do Bolsonaro ao povo brasileiro. Isso foi reconhecido pelo eleitor progressista e democrático. Não espero outro papel para o Guilherme que não seja reforçar ainda mais isso, como uma das principais vozes contra o governo Bolsonaro e uma das principais vozes para construir esse entendimento entre as oposições.

O Boulos teve apoio da ex-ministra Marina Silva (Rede) e da deputada Tabata Amaral (PDT-SP). Elas podem estar num projeto para 2022?

Elas demonstraram nesta eleição um enorme compromisso com os valores democráticos e progressistas. Nem a Tabata nem a Marina precisavam manifestar apoio ao Boulos. O fizeram por conta do seu verdadeiro compromisso com os valores democráticos e com a proposta que Boulos apresentou de uma cidade mais justa e menos desigual. A base de um projeto de unidade da esquerda para os próximos anos deve considerar também os aspectos da democracia, da liberdade, da sustentabilidade, que são temas muito caros a essas lideranças. Tem que ser um projeto generoso e inclusivo. Essas devem ser a nossa postura em relação a essas lideranças.

Se olharmos o mapa de votação da eleição em São Paulo, a esquerda perdeu uma fatia do eleitorado mais pobre em relação a outras disputas. Por que?

Até os anos 1980 e 1990, a esquerda tinha uma presença popular forte mas dependia eleitoralmente muito da classe média progressista. Nos anos 2000, esse perfil mudou por conta da chegada do PT ao governo federal e da promoção de políticas de combate à desigualdade, que fez com que setores se aproximassem do PT. O que estamos vendo agora, com a derrota eleitoral e política muito forte que a esquerda teve em 2018, é uma retomada desse perfil do eleitor progressista dos setores médios e uma parte do setor popular. Se olharmos a votação do Boulos, as oito seções que ele ganhou são todas periféricas, detonando com esse argumento de que a campanha do Boulos é uma campanha da classe média ilustrada da região central ou das juventude das redes sociais. Mostrou que o eleitor do Jair Bolsonaro em 2018 é muito parecido com o eleitor do Bruno Covas este ano. Sim, perdemos uma parte do setor popular e isso se resolve reorganizando o trabalho de base. Por isso, é tão importante para nós do PSOL a agregação dessa militância do MTST que entra no partido.

O PT perdeu a hegemonia no campo da esquerda nesta eleição?

Não. O PT segue sendo o partido hegemônico e o partido com o maior número de parlamentares na Câmara, com o maior número de vereadores e prefeituras entre os partidos de esquerda. Agora, obviamente, há por parte de outros atores partidários no campo da esquerda um questionamento dessa hegemonia, o que é absolutamente natural e pode ser positivo em alguma medida porque pode ajudar o próprio PT a estimular processos de renovações internos que são necessários a todos os partidos políticos.

O Boulos optou por não dar protagonismo ao Lula em sua campanha e o colocou junto com outras lideranças na TV. O que isso significa?

Significa que a prioridade da campanha era expor as posições e ideias do Guilherme Boulos, que terminou o primeiro turno conhecido por 60% dos eleitores e precisava se apresentar para os outros 40% que não o conheciam. A prioridade foi garantir que o próprio Boulos e a Erundina fossem os grandes protagonistas do nosso programa, sem deixar de expor esses apoios que foram muito bem-vindos.

O Boulos dialogou até com o mercado financeiro na campanha. O PSOL sai diferente dessa eleição?

A campanha do Guilherme e os seus discursos mostram que o projeto do PSOL têm lado. Nosso lado é combater as desigualdades, o que significa fazer com que as pessoas que estão à margem da riqueza possam ter acesso a essa riqueza. Isso só pode ser feito impedindo que uma minoria ínfima concentre uma riqueza absurdamente desnecessária. No entanto, o que a campanha demonstra é que nós temos que ter generosidade para dialogar e acolher indivíduos que possam estar vinculados a setores da sociedade que não são aqueles que a gente busca representar, para poder incorporá-los e aceitar o seu apoio, a sua contribuição, o seu desprendimento para abraçar um projeto de justiça social. Agora, o PSOL não vai dialogar com os bancos, com o agronegócio, mas pode dialogar com indivíduos que tenham sensibilidade social para um projeto de desigualdade.

O senhor falou que não é hora de colocar nomes, mas Guilherme Boulos pode ser candidato a presidente novamente em 2022?

Falando em termos absolutamente pessoais, o Guilherme Boulos pode ser o que ele quiser em 2022 (risos).

O Globo

 

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