Tráfico e evangélicos estão destruindo a política, diz governador

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Foto: Silvia Costanti/Valor

Lançada à Prefeitura de Salvador pelo PT, com apoio do governador da Bahia, Rui Costa, Major Denice Santiago foi abordada por uma mulher negra, como ela, de aproximadamente 30 anos, em frente a um colégio da capital, ao votar no dia do primeiro turno da eleição. Evangélica, a eleitora avisou: “Eu até queria votar na senhora, mas meu pastor disse que a senhora defende matar crianças”. Intrigada, a candidata rebateu, disse que defendia a vida. Pode até ser, segundo o governador, que ali a candidata tenha recebido um voto a mais.

“Mas quantos milhares de pessoas ouviram esses pastores falando que Denice era defensora do aborto? E diziam que era da macumba, do candomblé, só por que é negra, e tem uma tia do candomblé. Essa eleição for marcada pelo aumento da participação das religiões no processo eleitoral, isso é nítido. As igrejas estão se envolvendo cada vez mais e se transformando quase em partido político. É fato”, afirmou Rui Costa, em entrevista ao Valor.

E não é só a participação das igrejas, com “fake news” sobre a pauta de costumes, que preocupa o governador, um dos pré-candidatos do PT para 2022. O envolvimento do crime organizado e do narcotráfico no processo eleitoral brasileiro, sustenta o petista, é também cada vez mais alarmante. Sem citar nomes, o governador diz que esses dois fenômenos foram observados em vários cantos da Bahia. Além da construção de um pacto político para o Brasil, Rui Costa destaca que esses dois temas não podem ficar fora da agenda.

O tráfico, observa, tem algumas linhas de atuação. Ou o crime lança um candidato, com financiamento milionário de campanha, ou interdita os nomes de quem não quer ver no poder. Em morros e comunidades, o governador disse ter ouvido relatos da população reclamando da intimidação explícita do crime organizado. “Eles arrancavam os cartazes de outros candidatos, e só deixavam do candidato escolhido. Intimidaram a população. ‘Aqui só o fulano de tal circula livremente’. Os outros, são ameaçados, intimidados”, conta Costa.

Para o governador, o problema é conjuntural e o Brasil precisa enfrentá-lo rapidamente. Provar que um candidato é financiado pelo tráfico, na hora do registro de candidatura, é tarefa quase impossível, reconhece. “Provar só se consegue com o tempo.” Mas o volume de dinheiro na campanha, comportamentos do candidato podem dar pistas importantes para uma investigação. “Éurgente o Brasil ter uma política nacional de segurança e combate ao crime organizado. Estão cada vez mais fortes, mais ousados, movimentando volumes vultosos de recursos, conseguindo liberdade com mais rapidez, para criminosos perigosos.” Rui Costa teme que a retração econômica de 2021, com o aumento do desemprego e o fim do auxílio emergencial, facilitem ainda mais o recrutamento de jovens desesperados pelo tráfico.

Sobre a influência religiosa, ele cita que “a Igreja Universal, na Bahia, em tese, está fechada com o DEM em todas as principais cidades do Estado”. “Pastores reproduziram aqui os mesmos conceitos de 2018, aquelas aberrações sobre os candidatos, na mesma linha das ‘fake news’ de 2018”, acrescentou. Ainda um tanto perplexo após a reunião de governadores com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para tratar de um plano nacional de imunização contra a covid-19, Costa lamenta o atual estado das coisas da gestão brasileira. “Fica todo mundo perplexo, sem saber o que está sendo feito.”

Se o Brasil terá um plano de imunização ainda não se sabe, uma vez que o presidente da República, no quesito covid-19, desautoriza todas as ações do ministério quando a equipe tenta ir ao encontro da ciência e do bom senso. “Infelizmente, quando você elege um presidente pelo ódio não se pode esperar que o Brasil será tocado de forma diferente”, diz.

O governador afirma que é preciso enxergar em que estágio o país se encontra. “Estamos fechando o segundo ano de governo. O que foi feito nesses dois anos na infraestrutura, na educação? Me diga aí, o que foi feito? Qual é o plano, a proposta, o carro-chefe? Na saúde pública o que foi feito? Não tem plano de nada para nada, não tem plano de investimento para a infraestrutura, para a aviação, a indústria. Nada. É só perplexidade, o país patinando, o desemprego crescendo e a gente vendo a miséria aumentar”, lamenta o petista.

O próximo ano, sobretudo sob o ponto de vista fiscal, será muito pior que 2020, assegura Rui Costa, pois o estado de calamidade acabou injetando recursos na economia que evitaram o colapso. Não haverá esse caixa em 21.

Ao analisar o resultado das disputas municipais, na Bahia, Rui Costa rebate a tese de que o PT amargou derrotas. Os petistas não conseguiram eleger candidatos nem na capital, que seguirá nas mãos do DEM, nem em Feira de Santana e Vitória da Conquista, as maiores cidades. Na Bahia, o PT elegeu 32 prefeitos, e o DEM 37. O PSD e o PP vão administrar a maioria das cidades, mas não as maiores. E os dois partidos estão na base do petista. Em 2016, o PT havia elegido 39 prefeitos e o DEM, 38.

“A oposição tinha 60 cidades na Bahia em 2016 e agora em 2020 elegeu 70, de 417. Em termos de votos nominais, no PT somente, crescemos 300 mil votos na Bahia em candidatos do partido”, argumenta o governador.

O fato de Major Denice ter terminado a disputa com 18%, na avaliação de Costa, foi um feito, pois ela era absolutamente desconhecida. Sobre Feira e Conquista, o PT chegou ao segundo turno como favorito, e perdeu em ambas para o MDB. Em 2016, alega o governador, o desempenho do PT foi pífio. “Na política, você ganha quando sai maior do que entrou. Não necessariamente precisa ganhar a eleição. Não classifico como derrota.”

O governador também demonstra desconforto com a análise de derrota do bolsonarismo. E implica com os que insistem em transpor os resultados de 2020 para 2022.

“Essa relação nunca existiu na história do Brasil e esta longe de vir a existir.” Como exemplo, cita que perdeu a eleição ao governo em 2014 em cidades então governadas pelo PT. Em 2018, venceu em locais onde o DEM tinha as prefeituras. “Se eleição municipal fosse determinante para o cenário nacional”, acrescenta, “o que explicaria o fato de o MDB já ter tido mais de mil prefeitos no Brasil e nunca ter apresentado um candidato competitivo à Presidência”?

“E também não concordo que houve a derrota expressa do bolsonarismo.” O patamar de apoio do presidente, justifica, oscilou negativamente, mas segue em torno de 30%. O petista alerta que em Fortaleza e no Rio os candidatos bolsonaristas chegaram ao segundo turno. “Eles ainda são fortes, na minha opinião, para a disputa para 2022, e não dá para minimizar isso, como se pudessem ser descartados.”

Outra tese que o governador não corrobora é o fortalecimento do centro. “[Guilherme] Boulos é centro?”, brinca. Se o eleitor brasileiro tivesse dado a guinada ao centro, o que explicaria o fato de o maior representante da esquerda, hoje, ter chegado ao segundo turno, na maior cidade do país, concorrendo, aí sim, com um candidato de centro, inquieta-se Rui Costa. No Rio, acrescenta, a disputa foi entre dois candidatos de direita. O centro, ali, na opinião de Costa, seria Martha Rocha, do PDT.

Já a análise de que a centro-esquerda, se pulverizada, poderá ficar do segundo turno em 2022, para Rui Costa, é procedente. Para tanto, segundo ele, os partidos e lideranças precisam iniciar uma conversa urgente que deixe de lado qualquer postulação de nomes. “Se o debate continuar assim, estamos cavando a nossa sepultura. Não chegaremos a nomes consensuais e poderemos perder espaço com essa pulverização, sendo que a população não terá conhecimento da viabilidade da nossa proposta.”

Na visão do governador, a centro-esquerda precisa começar a desenhar um projeto coeso de futuro para o Brasil, “uma proposta de recuperação”. O país, hoje, vive um cenário de insegurança política, jurídica e institucional que afasta por completo os investidores.

Ele enfatiza que, no Nordeste, os governos têm muitos resultados a mostrar. “Temos no Nordeste nove governadores, de partidos diferentes, e todos bem aprovados. Tem gestão administrativa inovadora, casos de sucessos. São governos de resultados, e isso precisa ser mostrado”, diz.

Em relação ao PT, Rui Costa concorda que o partido precisa fazer uma revisão. “Há consenso de que muitas coisas que precisam ser ajustadas no partido.” Como exemplo ele cita o fomento de novas lideranças, enfatizando que o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compartilha desta visão.

“Boulos simbolizou isso e o PT não. Se identificou com o novo e a preocupação social. E não é pela sigla. Evidente que ainda existiu um antipetismo em 2020, mas menor que 2016 e menor que 2018.”

Para Rui Costa, os governadores terão papel fundamental na costura do diálogo da centro-esquerda. E ele vai além: cita nomes, como Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, que precisariam ser agregados numa grande conversa nacional sobre o futuro do país. “É possível um dialogo com todos, criar condições para que num segundo turno a gente consiga agregar todo mundo numa candidatura viável. Tem espaço para isso, sou muito otimista.”

Todas as lideranças políticas responsáveis estão preocupadas com o Brasil, acrescenta. “O que a população tinha para arriscar, já arriscou tudo em 2018 e já se arrependeu. Isso pra mim está claro.” O petista vê uma candidatura de Luciano Huck com descrédito. “Não é trivial isso, sair e achar que senta na cadeira de presidente sem conhecer o Brasil, sem conhecer administração pública. Não se trata de índice de popularidade pra quem tem programa de auditório. Isso não leva ninguém a ser gestor público.”

As conversas sobre 2022 não podem ficar apenas para um segundo turno, diz. “Não podemos ter esse horizonte de só construir aliança no segundo turno. Vamos conversando, ajustando, e lá na frente se algumas candidaturas afunilarem, ótimo. O que não pode é a centro-esquerda pulverizar.”

Valor Econômico

 

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