Bolsonaro segue fazendo provocações a Biden

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Foto: Jim Watson e Sergio Lima/AFP

A vitória dos candidatos Democratas na eleição para as duas vagas de senador do estado norte-americano da Geórgia, tirando dos Republicanos o controle do Senado assegurado desde 2014, deu mais conforto para o futuro governo Biden. E pode dificultar as relações do Brasil do presidente Jair Bolsonaro com os Estados Unidos do futuro presidente Joe Biden.

Na manhã de terça-feira, 5, enquanto os eleitores na Geórgia ainda faziam fila para votar, Bolsonaro voltou a afirmar que Biden venceu as eleições de novembro através de fraudes, repetindo as acusações sem prova de seu ídolo Donald Trump. Falando com apoiadores na entrada do Palácio do Alvorada, depois de 17 dias de férias no litoral de Santa Catarina e de São Paulo, Bolsonaro disse:

“Veja a suspeição nas eleições norte-americanas. Tem brasileiro lá que não tinha direito de votar e acabou recebendo papel para votar”. Um dos apoiadores respondeu dizendo que houve até mesmo votos de mortos. Bolsonaro retrucou: “E não foi pouco não”.

A declaração não foi aleatória. Faz parte de um posicionamento pró-Trump que não encontra respaldo nem mesmo no partido Republicano. Na segunda-feira, 4, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu início a uma série de bajulações ao finado governo Trump. Em troca de gentilezas pelo Twitter com o secretario de Estado dos EUA, Mike Pompeo, Araújo escreveu: “Sua visão, sua coragem e sua dedicação aos ideais que nós mais valorizamos são uma verdadeira bênção. Patriotas brasileiros e americanos vão ficar lado a lado, haja o que houver. Nós sabemos que a liberdade está em risco em todo o mundo. Que o jogo comece!”.

Na quarta-feira, 5, o filho do presidente e chefe da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Eduardo Bolsonaro, postou uma foto sua com a filha de Trump, Ivanka, na Casa Branca. “Satisfação ser recebido pela Conselheira Especial do Presidente Trump, Ivanka Trump, em seu escritório na Casa Branca. Ocasião para reforçar os laços entre os nossos países e para uma agradável conversa”.

O primeiro ato de Biden como presidente no dia 20 de janeiro será anunciar o retorno doa EUA ao Acordo de Paris, o tratado de compromissos globais para a redução da emissão de poluentes. Para o mundo todo será uma bandeira branca, símbolo de que os EUA vão abandonar a postura negacionista que marcou a Era Trump. Menos para o Brasil. Para o governo Bolsonaro, a prioridade ambiental de Biden é uma declaração de guerra.

Ao longo da campanha eleitoral, Biden citou o Brasil em duas ocasiões para, com zero sutileza, ameaçar o governo Bolsonaro. Ele avisou que os Estados Unidos fariam o Brasil “enfrentar consequências econômicas significativas” da política de devastação à Amazônia. A resposta de Bolsonaro foi uma bravata: “quando acabar a saliva (a diplomacia) tem de ter pólvora (ação militar)”. Desde que Bolsonaro assumiu, um território de florestas das dimensões de Israel foi desmatado.

O mais surpreendente no ânimo bélico do Brasil é que Biden não quer brigar, pelo contrário. Senador por 36 anos e vice-presidente por oito, Biden é um político de consensos. A sua melhor característica sempre foi o de encontrar pontos comuns com os republicanos, desde os embates com a antiga União Soviética sobre desarmamento nuclear no governo Reagan até o Plano Colômbia, no governo Clinton. Além do mais, assim como em todos os governos americanos anteriores, o Brasil não está entre as 30 prioridades da nova gestão.

Para entender por que Bolsonaro pretende insistir no confronto com os EUA é preciso olhar os resultados da sua relação com os outros três grandes parceiros comerciais, a China, a União Europeia, e a Argentina. Por partes:

China – Bolsonaro alimenta sentimentos sinófobos desde antes da campanha, quando visitou Taiwan e acusou o regime de Pequim de querer “comprar o Brasil”. Depois da posse, ele fez uma visita a Xi Jinping, mas não alterou sua retórica, nem a dos seus filhos.

Em privado, o presidente ameaçou por várias vezes impedir que a Huawei participe da licitação da tecnologia 5G por supostamente ser um instrumento de espionagem militar chinesa. Em publico, ele se tornou o propagador de suspeitas mentirosas sobre a vacina contra Covid-19 produzida pela empresa chinesa CoronaVac, que ele batizou de “vachina”.

Dois ministros generais contam que, em ocasiões diferentes, Bolsonaro lhes afirmou, convicto, que a Covid-19 foi produzida em laboratório pelo governo chinês para derrubar a economia do resto do mundo. Ele também acusou a China de ter articulado as manifestações populares no Chile, em 2019. Não existem provas de nada disso.

Bolsonaro proibiu os seus ministros de receberem o embaixador chinês, Yang Wanming, que bateu boca via Twitter com o filho Eduardo Bolsonaro.

Maior parceira do Brasil desde 2010, a China seguiu apesar de tudo sendo a maior compradora de ferro e soja brasileiros. Na pandemia, enquanto EUA e Europa reduziam suas compras, a China se tornou responsável por quase 80% do saldo comercial brasileiro.

União Europeia – No início de 2019, o ministro Paulo Guedes anunciou com orgulho que havia fechado o acordo Mercosul – União Europeia, destravando uma negociação que se arrastava desde os anos Lula. Guedes desconsiderou, no entanto, que com grandes acordo vinham grandes responsabilidades, especialmente na área ambiental.

A gestão do ministro Ricardo Salles no meio ambiente é a mais eficiente do governo Bolsonaro. Nunca ninguém em tão pouco tempo foi responsável por tanta devastação. Ele desmontou a fiscalização do Ibama e do ICMBIO, acabou com o Fundo Amazônia (pelo qual a Noruega e a Alemanha, principalmente, financiavam a preservação dos parques nacionais) e incentivou garimpo ilegal. Os recordes de desmatamento e queimadas na Amazônia não foram por acaso.

Quando os chefes de governo europeus criticaram a postura do Brasil, Bolsonaro reagiu assim: Angela Merkel “deveria reflorestar a Amazônia”, Emmanuel Macron é “um idiota” e sua mulher é “feia” e a Noruega “é aquele país que mata baleia e explora petróleo”. O acordo comercial Mercosul UE foi paralisado e redes de supermercados publicaram anúncios exigindo rastreamento ambiental de produtos brasileiros.

Argentina – Bolsonaro interferiu na campanha Argentina pedindo votos para o ex-presidente Maurício Macri e afirmando que se Alberto Fernández vencesse, o Rio Grande do Sul estaria cheio de imigrantes “igual Roraima com os venezuelanos”.

Passado um ano do governo Fernandez, a fronteira da Argentina com o Rio Grande do Sul segue calma, mas Bolsonaro ignora o país vizinho. Ele demorou onze meses para ter uma conversa por vídeo com Fernandez e, em seus discursos, segue usando a votação da lei de ampliação dos direitos ao aborto na Argentina como exemplo “do que pode acontecer no Brasil se deixarem a esquerda voltar”.

O governo argentino tem tentado uma reconexão. Enviou como embaixador o Daniel Sciolli, ex-governador de Buenos Aires e candidato a presidente derrotado em 2015. Na videoconferência com Bolsonaro, Fernández pediu que as divergências “fossem deixadas no passado”.

É confortável pensar que uma vez sob pressão de Biden, o governo Bolsonaro irá moderar o tom beligerante da sua política externa, mudando os ministros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, e assumindo uma nova postura ambienta. É um autoengano. Neste dois anos, o governo Bolsonaro sempre dobrou as apostas a favor do seu público mais radical.

A política externa brasileira é condenada nos editoriais dos jornais e ridiculizada nos fóruns globais, mas tem enorme apoio nas hostes bolsonaristas. Elas serviram para reforçar junto à militância a persona de um presidente destemido e “defensor dos interesses nacionais”. Até agora, Bolsonaro não teve consequência alguma pelos seus. Ele acredita que um confronto com o governo Biden será mais do mesmo.

Veja  

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