Crendices sobre covid prosseguem um ano depois

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Foto: Louisa Gouliamaki/AFP

Impressionam de verdade neste cenário pandêmico o número, a frequência, a intensidade e mesmo a inoportuna insistência com que alguns peroram, sem pudor, sobre teses, “protocolos” e fórmulas de “tratamento precoce” para a Covid-19. Mais grave ainda é vê-las proliferar com a anuência e beneplácito inclusive de políticos e prefeituras, que distribuem o que já denominei de “saquinhos de ilusão”, contendo uma panaceia de remédios, que mistura antibióticos, corticoides, vermífugos, vitaminas, zinco, até a obsoleta cloroquina, para uma suposta prevenção de agravamento da doença. Tristes, testemunhamos as mortes de alguns defensores dessas prescrições, quase como seita.

Digo que o fazem despudoradamente. Após quase um ano, a literatura médica e relatos de cientistas de grande capacidade já publicaram estudos bem conduzidos revelando a inocuidade da maioria desses fármacos. Além disso, tivemos um enorme aprendizado nesse período quanto à evolução clínica, os fatores de risco (como idade, obesidade e doenças cardíacas), as fases da doença, o momento de se iniciar e as condições para o uso de fármacos como anticoagulantes, corticosteroides, antibióticos e imunobiológicos.

Somam-se ainda procedimentos de otimização de ventilação não invasiva, posição prona mesmo para casos moderados, e uso de oxigenação de alto fluxo — medidas terapêuticas exitosas se conduzidas por equipe transdisciplinar como desejável. Cada vez mais se sedimenta o conhecimento de que o que salva vidas mesmo, em casos graves, são as chamadas boas práticas de terapia intensiva, exercidas por equipes treinadas e qualificadas para essas práticas.

O sofisma é persuasivo desde os gregos, no grande século V a.C., de Péricles. Convincente, sua retórica proclama a verdade como necessariamente relativa, mutável, plástica. Em tempos de pandemia, o ambiente não é o da ágora ateniense, instando à reflexão, mas de baixa consciência crítica de quem fala e sobretudo da massa que ouve. É prática perigosamente sedutora, em especial quando se trata de doenças, onde a lógica é haver uma solução medicamentosa, para virtualmente qualquer uma. Desconstruir esse modelo exige atenção e cuidado com o outro.

Pesquisadores da Universidade Cornell, ao final da década de 1990, criaram o conceito hoje denominado Efeito Dunning-Kruger — ou, em termos mais laicos, síndrome do impostor. É o fenômeno que descreve pessoas com pouco conhecimento de um determinado assunto e que acreditam em outras, supostamente mais qualificadas. Por falta de senso crítico ou mensuração de sua própria inabilidade para o que tratam, encontram eco em suas teses e permanecem nelas, de modo acrítico. A verdade é que, quanto menos se sabe de um determinado assunto, menos se percebe o que não se sabe, e portanto se acha que tudo sabe.

Esse é um dos perigos em um momento tão difícil e doloroso como o que vivemos, em que ceder à tentação de exercer um determinado poder, se valendo da credulidade de muitos, pode custar vidas.

O Globo

 

 

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