Trump deixa de herança pandemia descontrolada

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Foto: Kevin Lanceplaine / Unsplash

Entre verba para hospitais, pesquisa e desenvolvimento de vacinas, investimento em testes e rastreamento de contatos, além de estímulos econômicos, os Estados Unidos já desembolsaram trilhões de dólares para tentar barrar o avanço da Covid-19.

O país também já começou a vacinar a população com dois imunizantes, o da Pfizer e o da Moderna. Mas nada disso foi suficiente para evitar que os EUA atinjam recordes de hospitalizados e mortes pela doença ainda hoje, quase um ano depois do começo da pandemia.

Nos primeiros dias de 2021, o país registrou os maiores números de mortes e hospitalizações por Covid-19 em 24 horas.

Em um só dia, o vírus chegou a matar mais de quatro mil e trezentas pessoas em solo norte-americano — para efeito de comparação, nos atentados terroristas de onze de setembro de 2001, foram cerca de três mil mortes.

Em Los Angeles, cidade da Califórnia, estado mais atingido pela pandemia no momento, a doença mata uma pessoa a cada oito minutos.

A alta no número de casos nessa época era temida pelos especialistas, que no começo da pandemia já alertaram sobre a possibilidade de uma nova onda no inverno do Hemisfério Norte.

Com as temperaturas mais baixas, as pessoas se reúnem mais em lugares fechados, com pouca circulação de ar, favorecendo a disseminação do vírus.

As viagens e encontros de fim de ano, começando pelo feriado do Dia de Ação de Graças, no fim de novembro, também contribuíram para a piora do cenário. Mas não são as únicas culpadas pelos números.

A distribuição mais lenta de vacinas e a falta de um sistema público nacional de saúde, como o SUS no Brasil, somados a um problema crítico de liderança, agravaram o quadro.

“O fracasso dos Estados Unidos no controle da pandemia não aconteceu por falta de recursos financeiros, tecnológicos ou científicos, mas, sim, pela falta de uma liderança que coordenasse as ações de controle com base na ciência e nas evidências científicas”, explica a infectologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute.

Abaixo, falamos mais sobre cinco fatores que ajudam a explicar o porquê de os Estados Unidos estarem vivendo um momento tão crítico da pandemia de Covid-19.

1 – Distribuição mais lenta de vacinas

A expectativa do governo norte-americano era que vinte milhões de pessoas recebessem a primeira dose da vacina ainda em 2020, mas até a primeira quinzena de janeiro de 2021 só foram aplicadas cerca de dez milhões de doses, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

O governo diz que o começo da vacinação foi prejudicado pelo cronograma de Natal e ano novo e por razões logísticas que afetam a distribuição, mas que serão resolvidas em breve.

Não é só a distribuição das vacinas aos estados que apresenta desafios. A aplicação das doses também tem se mostrado difícil em muitas regiões do país, com profissionais de saúde sobrecarregados por causa do aumento nas hospitalizações.

Alguns estados, como Nova York, têm investido no treinamento de estudantes e profissionais de diversas áreas da saúde para driblar a falta de pessoal para aplicar as vacinas.

Até o momento, os dois imunizantes aprovados, o da Pfizer e o da Moderna, são administrados em duas doses, com semanas de intervalo entre elas.

Só será possível sentir os impactos da vacinação sobre a redução dos casos quando uma porção significativa da população for imunizada, o que ainda pode demorar.

A meta do presidente eleito Joe Biden, que toma posse em 20 de janeiro, é aplicar cem milhões de doses até o centésimo dia de governo, ou seja, fim de abril.

Os Estados Unidos têm uma população de aproximadamente 330 milhões de pessoas e, para atingir o que os especialistas chamam de “imunidade de rebanho”, que fará a taxa de transmissão cair, é preciso que pelo menos 80% da população esteja vacinada.

2- Problemas na resposta inicial
De acordo com Denise Garrett, a saúde nos Estados Unidos já vinha fragilizada, e falhas na resposta inicial do governo norte-americano à Covid-19 facilitaram a disseminação no vírus e se refletem até agora na situação do país.

Em 2018, o governo Trump dissolveu uma unidade de segurança de saúde global que fazia parte do Conselho Nacional de Segurança e cujo papel era justamente o de traçar estratégias para evitar uma grande crise de saúde — algo que, segundo a infectologista, contribuiu para deixar o país mais vulnerável a ameaças sanitárias.

A falta de equipamentos de proteção pessoal para profissionais da saúde, respiradores, testes e rastreamento de contatos também foi assunto frequente nos jornais norte-americanos nos primeiros meses da pandemia.

As reportagens exibiam relatos de médicos que precisavam se arriscar reutilizando máscaras e luvas por falta de alternativa, alguns até improvisando os próprios equipamentos.

3 – Liderança incapaz

Mesmo durante a pandemia, o presidente norte-americano, Donald Trump, realizou eventos de campanha com multidões aglomeradas e sem máscaras. Ele mesmo não seguiu a recomendação feita pelos próprios especialistas em saúde, e só foi visto em público pela primeira vez usando uma máscara em julho, meses depois da orientação dos especialistas.

“A liderança do presidente é extremamente importante nesse momento, porque ele serve de exemplo, principalmente para aqueles que votaram nele”, explica Eliseu Waldman, professor do departamento de epidemiologia da FSP-USP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo).

Trump não foi eleito para o segundo mandato, mas conseguiu 74 milhões de votos, o que mostra como ainda tem influência em sua base.

“Temos uma situação muito parecida no Brasil; o apoio ao presidente Jair Bolsonaro diminuiu, mas ele é ainda é muito influente entre os apoiadores e tem uma responsabilidade enorme sobre o que fala.”

Em setembro de 2020, a divulgação de áudios de Trump dizendo que sempre quis minimizar a gravidade da Covid-19 reforçou as críticas de que ele teria prejudicado ainda mais o país ao negar os perigos da pandemia para a população.

Em entrevistas concedidas ao jornalista Bob Woodward entre fevereiro e março, Trump admitiu que queria minimizar a situação para não causar pânico, mas reconheceu que a doença era mais perigosa que a gripe comum.

“É um vírus traiçoeiro, porque está no ar. E mortal”, afirmou o presidente ao jornalista. Naquela mesma época, Trump dizia em coletivas de imprensa que a situação do país estava completamente sob controle e os riscos eram muito baixos.

O presidente defendeu a própria postura alegando que queria transmitir uma imagem de calma à população.

Ele também destacou diversas vezes que impôs as restrições de entrada a pessoas vindas da China, país que registrou os primeiros casos da doença, em 31 de janeiro, nove dias depois da confirmação do primeiro caso nos Estados Unidos.

Mas especialistas em saúde acreditam que o governo federal poderia ter tomado uma série de medidas preventivas mais cedo.

Em março, o imunologista da força-tarefa de combate ao coronavírus da Casa Branca Anthony Fauci reconheceu em uma entrevista à CNN norte-americana que adotar medidas de distanciamento social poderia ter evitado mortes, mas comentou que o processo para tomar esse tipo de decisão é complicado.

4 – Ausência de sistema público de saúde

Nos Estados Unidos não existe um sistema público nacional de saúde como o SUS no Brasil, por exemplo.

A falta de dinheiro para pagar por um convênio ou por consultas particulares faz com que muitos esperem até o último momento para buscar atendimento médico — o que é extremamente perigoso, já que a presença de sintomas severos pode indicar que a doença está em um estágio avançado.

Isso também ajuda a explicar os altos índices de mortes por Covid-19 entre populações mais vulneráveis, de negros e imigrantes, principalmente latinos, em muitos estados.

Além do acesso restrito aos serviços de saúde, essas populações também costumam estar mais expostas ao vírus.

“São pessoas que tendem a viver em áreas mais pobres e trabalhar mais em funções consideradas essenciais, ou seja, muitas não tiveram a opção de ficar em casa e precisaram se deslocar durante a pandemia”, explica Waldman.

Para o professor, essa ausência de um sistema público nacional é a principal fragilidade da saúde nos Estados Unidos — e pode servir de alerta para o Brasil.

“O caso dos americanos mostra que não adianta simplesmente ser um país rico e com excelentes centros de pesquisa. É preciso ter um sistema de saúde bem estruturado, com políticas sociais que protejam as populações mais vulneráveis. Isso também reforça a importância do nosso SUS no Brasil”, afirma Waldman.

5 – Falta de diretrizes federais
Os estados norte-americanos tiveram completa autonomia na decisão sobre quais medidas adotar para tentar combater o avanço da Covid-19.

Apesar de o governo federal ter chegado a incentivar o fechamento de comércios, coube aos governadores escolher se seguiam ou não as diretrizes para reabertura recomendadas pela força-tarefa de combate ao coronavírus da Casa Branca.

O presidente Donald Trump justificou a escolha alegando que há inúmeras diferenças entre os cinquenta estados norte-americanos e, por isso, regras iguais não poderiam funcionar para todos ao mesmo tempo.

Mas especialistas em saúde pública acreditam que uma estratégia conjunta poderia ter levado a resultados melhores.

O epidemiologista Eliseu Waldman explica que os estados poderiam fazer algumas adaptações, mas em linhas gerais o plano deveria ser o mesmo para todo o país.

Segundo ele, a estratégia comum também facilitaria a aquisição de equipamentos e testes, já que o governo federal pode centralizar as necessidades e usar seu poder de compra para as negociações.

CNN Brasil

 

 

 

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