Uma vacina barata, eficiente e de dose única

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Foto: Alex Ferro/VEJA

É como se fosse uma grande competição global, mas sem a intenção que nenhuma farmacêutica seja a vencedora e nenhuma fique na rabeira. O importante é que todas cruzem a linha de chegada com segurança. Foi mais ou menos assim que Luis Augusto Russo, pesquisador principal do estudo clínico do qual faço parte como voluntária, me explicou como os cientistas lidam no dia a dia com a pressão por desenvolver o mais rápido possível uma vacina capaz de conter a pandemia que insiste em nos desafiar com recordes diários de mortes e infecções.

“Todo pesquisador quer que a sua vacina dê certo, mas o importante é que consigamos o maior número possível de vacinas, de todos os fabricantes. O mundo vai precisar”, disse ele naquele início de tarde de 8 de setembro, a primeira vez em que nos falamos sobre a ideia de eu, como repórter e voluntária da vacina, contar a experiência científica em busca de um imunizante contra o novo coronavírus.

Quatro meses depois – e algumas ampolas de meu material genético retirado para o projeto clínico – o governo brasileiro ainda não tem nenhuma vacina em mãos para começar a imunizar a população. Serão até 354 milhões de doses este ano (254 milhões de ampolas para a dupla aplicação do antígeno de Oxford em parceria com a AstraZeneca e outras 100 milhões da CoronaVac, também de dose dupla). Internamente, porém, o governo tem uma espécie de “menina dos olhos” entre as vacinas: a da Janssen-Cilag, laboratório belga que atua como braço farmacêutico da gigante americana Johnson & Johnson.

O motivo para a preferência pelo imunizante é que somente ele é de dose única, o que facilitaria a logística do Plano Nacional de Imunizações para tirar o atraso em que estamos (nossos vizinhos já começaram a imunizar suas populações) e a ganhar escala na proteção dos brasileiros contra a Covid-19. Também não precisa de ultracongeladores para ser armazenado: geladeiras comuns, frigobares e até caixas com gelo podem manter o produto intacto e pronto para a aplicação em pacientes.

O terceiro fator que faz integrantes do Ministério da Saúde quererem comprar a vacina anti-Covid da Janssen, quando ela estiver disponível, é a segurança da tecnologia. O fármaco da empresa belga é feito a partir do adenovírus 26, um vírus enfraquecido da influenza, acrescido de um pedaço da coroa do coronavírus. Ao contrário da (promissora) vacina com RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna, a técnica de utilização do adenovírus 26 é conhecida dos cientistas há anos – foram pelo menos 26 outros estudos clínicos, relacionados a diferentes doenças, utilizando o vírus enfraquecido da gripe comum. Em contato com o corpo humano, o vírus não provoca nem resfriado nem Covid, e sim ensina o sistema imunológico a produzir anticorpos para combater a doença.

Um último – mas crucial – fator faz da vacina da Janssen a preferida do alto escalão do Executivo: o preço. O vice-presidente do Comitê Executivo da Johnson & Johnson, Joaquín Duato, estima que a dose única do produto final anti-Covid custará menos de dez dólares (no máximo 55 reais, na cotação de hoje).

A Janssen pretende produzir 1 bilhão de doses de sua vacina este ano para todo o mundo. E apesar dos bons olhos do governo para a vacina desenvolvida pelo laboratório, nós, brasileiros, mal poderemos ver o produto em nossas cidades. Estão compromissadas apenas 3 milhões de doses no primeiro semestre, a serem entregues provavelmente em maio. Outros países foram mais rápidos e assinaram primeiro documentos de reserva das vacinas.

Infelizmente é, sim, uma grande competição global.

Veja  

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