Extremistas pró-Bolsonaro acabam se dando mal

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Foto: Cristiano Mariz/VEJA

Em maio do ano passado, a ativista Sara Winter estava no epicentro de uma crise institucional. Líder de um grupelho autointitulado 300 do Brasil, ela comandou manifestações em Brasília que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma delas, os militantes compareceram usando máscaras brancas, roupas negras, empunhando tochas e entoando cânticos bizarros. Em outra, lançaram fogos de artifício em direção ao prédio da mais alta corte de Justiça do país. O protesto, que durou apenas alguns minutos, produziu imagens grotescas que percorreram o mundo e uma onda de indignação. Na época, ministros do STF classificaram o ato como um grave ataque à democracia — e era mesmo. Sem se intimidar, Sara continuou sua pregação radical pelas redes sociais, prometeu novas ações para “infernizar” a vida dos ministros e revelou o desejo íntimo de “trocar socos” com um deles. Apoiadora do presidente Bolsonaro, ela foi presa preventivamente logo em seguida, acusada de violar a Lei de Segurança Nacional. Oito meses depois, as convicções da ativista, ao que parece, também mudaram radicalmente.

“Decidi me aposentar. Nunca mais vocês vão me ver gritando ‘mito’, ‘mito’. Hoje morreria de vergonha de fazer isso”, diz a agora ex-ativista. Isso não quer dizer que Sara Winter deixou de admirar ou apoiar o presidente. “Fiz tudo aquilo acreditando que havia um movimento para derrubá-lo. Eu me sacrifiquei para defendê-lo e faria tudo de novo, apenas de uma maneira diferente.” Enfrentar o STF, segundo ela, foi um erro que lhe custou caro. Além de perder a liberdade, Winter teve suas contas no Twitter, Facebook e YouTube bloqueadas. Antes da prisão, tinha quase 1 milhão de seguidores. Hoje, restaram 190 000 no Instagram, um número ainda considerável, mas em queda desde que ela decidiu interromper as postagens políticas. Suas publicações tratam apenas de sua nova atividade profissional. Em sociedade com o marido, montou uma empresa que vai comercializar palestras e cursos de “conservadorismo” pela internet.

Monitorada por uma tornozeleira eletrônica, Sara Winter está proibida de se aproximar da sede do STF ou de qualquer um dos ministros, e também não pode sair de casa, um pequeno apartamento localizado a pouco mais de 1 quilômetro da Praça dos Três Poderes. Enquanto o negócio de palestras não engrena, a ex-ativista conta que passa o tempo todo cuidando do filho, de 5 anos de idade. Mágoa? Ela garante que não guarda nenhuma. Na verdade, quase nenhuma. Elogia até o ministro Alexandre de Moraes, que decretou a prisão dela e era o alvo escolhido para a tal “troca socos”. “Pode parecer síndrome de Estocolmo, mas tenho mais a agradecer ao ministro Alexandre de Moraes do que à ministra Damares Alves”, afirma. Damares comanda a pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro. Sara reclama que nunca recebeu sequer um telefonema de solidariedade da ministra, que conhecia havia tempo. Depois da prisão da líder, os 300 do Brasil se desmobilizou. “Daquele grupo perigoso que ameaçou a democracia, só restaram eu, um psicólogo de grávidas, um vendedor de quentinhas, um cantor de axé e uma professora de creche. Somos todos presos políticos”, diz.

A ingenuidade é apenas aparente. Sara era uma das muitas peças de uma engrenagem maior pilotada por figuras que acreditavam que o governo Bolsonaro poderia prescindir do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. O objetivo era acuar as instituições, fragilizá-las ao ponto de garantir ao Executivo a supremacia absoluta, autoritária. Para isso, montou-se uma rede de militantes financiada ainda não se sabe exatamente por quem, que promovia manifestações de protesto e difundia notícias falsas para criar um clima de instabilidade. Sara era ponta de lança desse primeiro grupo. O jornalista Oswaldo Eustáquio se dedicava à segunda tarefa. Ele pregava não só o fechamento do Supremo, mas também o do Congresso, e defendia desde a invasão do Parlamento até a reedição do AI-5, o decreto que sacramentou o período mais sombrio da ditadura militar na década de 60. Investigado pelo STF no inquérito que apura atos antidemocráticos, o jornalista teve a prisão decretada e todas as suas redes sociais imediatamente bloqueadas.

Em dezembro, ele tentava consertar o chuveiro de sua cela quando escorregou e fraturou a coluna. Depois do acidente, o STF permitiu que ele cumprisse prisão em regime domiciliar e fosse monitorado por uma tornozeleira eletrônica. Oswaldo está sem movimento nas pernas, se desloca numa cadeira de rodas e corre o risco de ficar paraplégico. A família diz que passa por dificuldades financeiras. Sem as redes sociais, o jornalista perdeu a fonte de renda. A mulher dele, Sandra Terena, que ocupava o cargo de secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo, foi demitida logo depois da prisão. Ela diz que a rotina do marido hoje se resume a passar o dia no hospital fazendo fisioterapia e, nos intervalos, ler a Bíblia. “Eu fiquei desempregada, meu marido não pode trabalhar, está proibido de usar as redes sociais e as crianças não podem estudar. Que crime cometemos?”, pergunta a esposa do extremista.

O STF tem dois procedimentos em andamento — um que apura a realização de atos antidemocráticos e outro sobre a disseminação de notícias falsas. A ação enérgica da Corte, especialmente do ministro Alexandre de Moraes, que comanda as investigações, tirando de circulação os líderes desses grupos, interrompeu a perigosa escalada de radicalismo que tinha tentáculos e apoio inclusive dentro do governo. O blogueiro Allan dos Santos ficou conhecido por manter uma página de apoio ao presidente da República que, de acordo com a Polícia Federal, também funcionava como uma central propagadora de notícias falsas. Assim como seus colegas, ele gostava de postar fotografias empunhando armas e textos insultando os ministros do STF. Investigado, mudou-se para os Estados Unidos, alegando que estaria sendo ameaçado de morte por adversários, diminuiu o ritmo de suas pregações antidemocráticas, mas a produção de notícias falsas continuou. Em uma mensagem difundida no fim do ano passado, Allan escreveu que tinha uma informação “assustadora” sobre o resultado das eleições americanas: Trump, segundo ele, havia vencido. A vitória do democrata Joe Biden teria sido anunciada apenas como uma estratagema das autoridades para ganhar tempo e reunir provas da fraude eleitoral. É incrível, mas tem gente que realmente acredita e replica esses absurdos. Inclusive — até recentemente — dentro do governo. No início do ano passado, no auge das manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub chegou a chamar os magistrados do STF de “vagabundos” e dizer que eles deveriam ir para a cadeia. Pelas redes sociais, Weintraub também se destacava por atacar adversários abaixo da linha da cintura e incentivava as manifestações contra o Congresso e o STF. Temendo ter o mesmo destino que Sara Winter e Oswaldo Eustáquio, o ministro pediu demissão do cargo e se transferiu na surdina para Washington, nos Estados Unidos, onde assumiu um cargo de direção no Banco Mundial. Ao contrário dos colegas presos, Weintraub continua ativo nas redes. Hoje, ele tem mais de 1 milhão de seguidores no Twitter. Suas preocupações, porém, parecem bem mais difusas. Nas últimas duas semanas, o ex-ministro gastou boa parte de seu tempo fazendo comentários sobre personagens do Big Brother Brasil. Um de seus alvos preferenciais no momento é o ator Filipe Galvão, o Fiuk. Por alguma razão que só quem assiste ao programa deve compreender, ele está incomodado com o comportamento do brother no programa. “Fiuk é o típico ‘macho’ da esquerda que estuda”, escreveu. Até o fechamento dessa edição, o post havia recebido 21 000 curtidas.

Veja

 

 

 

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