Reinaldo sobre Lira: “Esperem o pior”

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Foto: Reprodução/ Ailton de Freitas/Agência O Globo

Só um evento sensacional, um quase milagre — que é um evento sem causa —, poderia dar a vitória a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Presidência da Câmara. Arthur Lira (Progressistas-AL), a fina flor do centrão — e, pois, não é flor que se cheire —, já vinha em situação mais confortável. Com a decisão do DEM deste domingo, que retirou apoio à postulação do emedebista, o resultado parece estar consolidado. Jair Bolsonaro obtém a vitória de um refém de luxo.

O governo abriu a mala de dinheiro e, tudo indica, conseguiu comprar os votos necessários para eleger o preferido d Bolsonaro. Acho que nunca se viu algo parecido. O presidente, que foi eleito como um verdugo do Centrão, tonitruando que jamais cederia a seus caprichos, fez a negociação mais desavergonhada de que temos notícia depois da redemocratização — na ditadura, as decisões passavam por outros crivos nefastos: ovício de mandar concorreria com o vício de corromper. A corrosão do caráter tinha prevalência sobre a do dinheiro. Qual é melhor? As duas são piores…

Embora goste de falar em tom, digamos, marcial, Bolsonaro não mediu esforços nem economizou. Assim, conseguiu reunir os vícios da ditadura com o lixo que a democracia também produz. No Congresso, o tal “é dando que se recebe” é clichê que encontra amparo nos fatos não é de hoje. Mas insisto: do modo desavergonhado como se fez a coisa, ninguém nunca viu.

Caminhando para a marca de um quarto de milhão de mortos até o fim deste mês, tudo indica que a Câmara dirá ao déspota da cloroquina que ele está no caminho certo enquanto tiver recursos e cargos para sustentar aquela plêiade de patriotas. Não que eu ache que Bolsonaro terá uma vida fácil. Não vai. O governo foi às compras, adquiriu uma sacolada de deputados, mas o verdadeiro refém é o presidente da República. A democracia brasileira, obviamente, se degrada.

Numa mirada mais ampla, estamos constatando o desastre que o presidencialismo representa para a democracia. Não que regimes parlamentaristas não possam se degradar também, e temos casos. Mas é difícil chegar a esse fundo de poço ou àquele que se viu nos EUA. Se o populismo de extrema direita é um fenômeno que hoje ameaça os regimes democráticos mundo afora, é fato que os poderes imperiais de um presidente tornam esse ataque mais deletério.

Vitorioso Arthur Lira, o presidente está, vamos dizer assim, concedendo poder aos “caminhoneiros da Câmara”. Ao menor sinal de insatisfação, ameaçarão retaliar. O governo, obviamente, terá de ser loteado com esses patriotas, ou os votos não vêm. E aí cumpre indagar: votos para quê? Qual é a agenda?

A centro-direita, de corte liberal, obviamente não encontrará no Centrão um terreno fértil para as suas demandas. A pretendida reforma do Estado vai patinar porque essa gente é como uma colônia de bactérias. Precisa das estruturas do Estado para poder acomodar os seus e manter satisfeita a clientela.

Para os civilizados de maneira geral, o resultado é ruim porque é evidente que Lira tentará emplacar a agenda reacionária do presidente, buscando pautar temas para os quais Rodrigo Maia (DEM-RJ) deu de ombros nestes dois anos, coisa que particularmente irrita Bolsonaro.

Então quer dizer que o presidente poderá agora nadar de braçada? Vai depender muito do que vem por aí. Se a economia continuar estagnada, as coisas se complicam. Quanto mais ineficiente for o governo, maior será a demanda do Centrão e mais caro se torna o apoio. Estes que, agora, tudo indica, garantirão a vitória de Arthur Lira — que fez forte oposição a Bolsonaro no primeiro ano — apoiaram todos os governos de Sarney a esta data, exceto DEM (PFL), que fez oposição a Lula e Dilma. Nota óbvia, mas necessária: refiro-me a essa tipologia de políticos, não às personagens, que se renovam.

Apoio do Centrão não costuma ser para que as coisas avancem ou mudem. São conservadores do atraso e reacionários. Empenham-se em manter os vícios da República e, se for possível, em fazer com que se marche para trás. E, como disse Camões, “o beber lhes assanha a sede”. É não pagar o prometido, e eles não têm nenhum prurido de votar com a oposição. E, por óbvio, se Bolsonaro chegar à beira do abismo, não terão receio de lhe pregar o pé no traseiro para que despenque. Mas, até que isso eventualmente possa, vão se aproveitar do Estado até o osso.

Afinal, minhas caras, meus caros, é preciso que fique claro que o preço pago até agora foi só para impedir a vitória do candidato apoiado por Rodrigo Maia. Apoio ao governo já é outra coisa, outro contrato, outro acerto, outro preço.

Vêm coisa ruim por aí. O Brasil é hoje um dos países mais isolados da Terra em razão de sua política externa destrambelhada. Na sua fala no Fórum de Davos, Ernesto Araújo manteve a hostilidade à China. O acordo do Mercosul com a União Europeia fica a cada dia mais distante por causa das questões ambientais.

O comando de uma das Casas do Legislativo estará absolutamente alheio a essas questões. O Brasil se torna ainda mais solitário. Sim, deve-se esperar o pior.

Uol 

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