Bolsonaros tentam se reaproximar de policiais estimulando motim

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Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

As dramáticas imagens de um soldado da PM sendo baleado por colegas de farda contra os quais também atirou, domingo (28/3), em Salvador, viraram munição na guerra cultural bolsonarista. Nomes muito ligados ao presidente da República, como seu filho Eduardo Bolsonaro, usaram o episódio para tentar manipular os policiais – e não só os da Bahia – contra ordens de governadores.

A manobra, para especialistas, é uma tentativa de reaproximação do governo com as forças de segurança, mas o sucesso foi pequeno, porque elas estão muito decepcionadas com a gestão graças ao arrocho fiscal.

No calor da ocorrência na Bahia, ainda com informações desencontradas sobre as motivações do soldado Wesley Soares, da PM de Itacaré, no sul do estado, perfis de influenciadores bolsonaristas nas redes sociais começaram a divulgar que o PM havia sido morto por se recusar a obedecer ao governador petista Rui Costa.

Além de Eduardo Bolsonaro, que ameaçou com o fim do “sistema ditatorial”, a deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) estimulou em postagem no Twitter que os policiais se rebelassem contra o governo, um motim. Pressionada, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara apagou a postagem, mas a ideia já circulava fortemente nos canais governistas.

Um membro do governo, o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, já está pensando em propor até uma homenagem oficial ao soldado que disparou tiros a esmo – e em direção aos colegas – na capital baiana.

Algumas dezenas de policiais militares fizeram protestos ainda no domingo e também nessa segunda-feira em Salvador. Eles são estimulados pelo deputado estadual Soldado Prisco (PSC), que exige uma investigação sobre a ocorrência no Farol da Barra e passou a segunda chamando a PM da Bahia de assassina.

Por enquanto, a possibilidade de um motim dos PMs na Bahia ou em outro estado não é visto como uma ameaça imediata pelos governadores, mas como um problema no horizonte. Além de entenderem que um movimento paradista, além de ilegal, seria muito impopular no contexto da pandemia, os policiais não querem se sentir massa de manobra de um governo que não atende seus interesses.

Incluídos entre as categorias com direitos arrochados pela PEC Emergencial e temendo mais perdas na Reforma Administrativa que corre no Congresso, membros das forças de segurança estão no momento de maior desacordo com Bolsonaro desde a eleição.

“O leite azedou”, resume o líder da bancada da bala no Congresso, deputado federal Capitão Augusto (PL-SP). “Pessoal está bastante descontente na PM, que é onde tenho mais conhecimento. Havia muita expectativa com um presidente saído da nossa bancada, que teve nosso total apoio, mas a verdade é que perdemos mais em dois anos do que nos 10 anteriores”, afirmou Augusto ao Metrópoles.

Entre os motivos da insatisfação, Augusto aponta ainda a não inclusão das forças policiais entre os primeiros grupos a serem vacinados contra a Covid-19. “É uma das categorias mais expostas. Em São Paulo, quase 40% da tropa pegou. Governo prometeu incluir no próximo grupo, mas é tarde”, protestou ainda o parlamentar, que disse esperar acenos importantes de Bolsonaro se ele quiser mesmo uma reaproximação. “Falta um ano e meio, e tem que mudar bastante. Vamos ver”, conclui o Capitão Augusto.

Para o pesquisador Renato Sérgio de Lima, que preside o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e dá aulas na FGV em São Paulo, a manobra bolsonarista está no contexto de uma busca do presidente da República por viabilizar medidas de exceção.

O alcance do apelo bolsonarista pode não ter sido grande neste primeiro momento, mas o especialista afirma que há sim tensões entre as polícias que podem causar grandes dores de cabeças aos governadores. “Acredito que, mais do que motins, o risco mais imediato é de movimentos de operação padrão, o que já tornaria a vida da população e dos dos governos um caos”, avalia ele, que aponta, além da Bahia, estados como Espírito Santo, Santa Catarina, Paraíba e Rio Grande do Norte como outros em que policiais estão mais insatisfeitos.

O secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia, Ricardo Mandarino, chamou de “perversidade” a politização da tragédia. “Isso tudo que estão falando, todas essas versões, são fake news. São versões mal intencionadas. Estão inventando uma história falsa, mentirosa, sem vergonha, que só pode sair da cabeça de gente mau-caráter. É tudo mau-caratismo, é tudo invenção. É muito fácil fazer fake. Você distorce o fato todinho, aí você cria uma narrativa”, disse o gestor em entrevista na segunda.

“É uma perversidade, com a família e com os próprios colegas policiais, alguém ficar levando isso para o lado político. Fazer exploração política com uma tragédia dessa, quando devia está todo mundo unido para dar apoio emocional aos policiais que participaram da operação, para dar apoio emocional à família do policial que foi vítima dessa tragédia. É isso que devia estar acontecendo agora”, acrescentou ele, que descartou a possibilidade de um motim. “O movimento [que protestou] não representa os policiais”, garantiu.

Um dos maiores críticos do governo Bolsonaro no Congresso, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) viu na campanha nas redes uma tentativa frustrada de radicalização. “O gabinete do ódio está cada dia mais acabado, como o próprio governo, e não sabe o que fazer. Ai resta a eles essa narrativa ideológica e sem noção em cima de um triste, porém necessário, desfecho de uma operação policial”, avalia ele. “Estão cada vez mais longe da realidade [os bolsonaristas radicais].”

Um dos líderes da oposição à esquerda, o deputado federal Paulo Teixeira também viu no movimento uma tentativa de Bolsonaro de se reconectar com as polícias “que ele ferrou”. “É algo dentro do projeto autoritário desse governo. O que Bolsonaro quer é mobilizar as bases fisiológicas deles dentro das PMs e acirrar essa relação com os governadores”, afirma.

Metrópoles

 

 

 

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