Começam investigações sobre rachadinha de Jair Bolsonaro

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Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Quatro assessores que trabalharam para Jair Bolsonaro (sem partido) em seu gabinete na Câmara dos Deputados sacaram 72% do salário recebido em dinheiro vivo, segundo reportagem publicada no “Portal Uol” nesta segunda-feira.

O material utiliza como base os dados obtidos na quebra de sigilo dos assessores do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, no âmbito das investigações do esquema da “rachadinha”, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

Como havia um fluxo de movimentação entre funcionários nos gabinetes do clã Bolsonaro, os dados obtidos na apuração criminal acabaram revelando hábitos e padrões que vão além do apurado no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo a reportagem, os funcionários receberam R$ 764 mil líquidos, entre salários e benefícios, e sacaram um total de R$ 551 mil. Entre os envolvidos estão Fernando Nascimento, que trabalhou entre 2009 e 2014 com Bolsonaro, Nelson Rabello, que passou oito anos na Câmara em duas oportunidades, Daniel Medeiros, entre 2014 e 2017, e Jaci dos Santos, entre 2011 e 2012.

Com base nos dados do Ministério Público, a reportagem relata que Nascimento recebeu R$ 164 mil da Câmara dos Deputados. Sacou pelo menos R$ 126 mil, o equivalente a 77% da remuneração mensal salário. Em alguns meses, chegou a sacou 100% do que recebeu.

O mesmo hábito foi mantido por Rabello, militar reformado que serviu no Exército ao lado do atual presidente. O funcionário passou quase oito anos na Câmara dos Deputados — seis deles contemplados pela quebra de sigilo do MP. Dos R$ 192 mil pagos pelo Legislativo, R$ 132 mil foram retirados em espécie.

Segundo a reportagem, mesmo com rendimento, em 2012, Rabello chegou a entrar na Justiça para negociar uma dívida de R$ 3.200.

Além de Jair, Rabello trabalhou no gabinete de Carlos, na Câmara, por duas oportunidades, além do período no gabinete de Flávio na Alerj.

Outro funcionário nessa situação é Daniel Medeiros, que foi secretário parlamentar de Bolsonaro entre 2014 e 2017. Ele sacou 72% do salário recebido no período. De acordo com o “Portal Uol”, Medeiros fazia bicos como segurança e costumava emprestar um carro para Fabrício Queiroz, visto pelo Ministério Público como operador de Flávio.

O quarto assessor é Jaci dos Santos, sargento reformado do Exército. Ele trabalhou no gabinete do então deputado federal por oito meses, de dezembro de 2011 a julho de 2012. No período, Santos sacou 45% de tudo o que recebeu da Câmara dos Deputados.

Santos era motorista e uma espécie de “faz-tudo” da família Bolsonaro. “Dirigia, fazia faxina”, afirmou Santos à Folha de S.Paulo em 2019, quando o jornal publicou que o ex-funcionário comprou uma van do presidente.

Procurado pela reportagem do portal, Santos perguntou quanto receberia para dar entrevista. Após a negativa de pagamento.

– Pergunta para o Ministério Público e me fala porque eu também não sei. Eu não tenho nada para me entender com a senhora – disse Santos ao UOL

O “Portal Uol” procurou Daniel Medeiros e Nelson Rabello, mas não obteve retorno. Nascimento pediu que o contato fosse intermediado pela assessoria de Flávio Bolsonaro. Não houve resposta. A Presidência da República não respondeu aos questionamentos enviados pelo portal.

A série de reportagens também mostrou que quatro funcionários do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) sacaram 87% de seus salários em dinheiro vivo. Juntos, eles retiraram um total de R$ 570 mil.

Na lista estão Márcio Gerbatim e Andrea Siqueira Valle, revelados no ano passado pelo GLOBO e pela Revista Época.

Segundo o “Portal Uol”, a defesa do vereador disse que não irá se manifestar, porque os processos estão em sigilo. O Ministério Público do Rio investiga existência de um esquema com funcionários fantasmas e “rachadinha” na equipe do filho “02” do presidente Jair Bolsonaro.

O Globo