Especialista diz que não dá pra prever mais nada sobre covid no Brasil

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estarmos diante de uma pandemia da Covid-19, em março de 2020, e com os casos crescendo no Brasil, o então ministro Luiz Henrique Mandetta pediu a seus três principais auxiliares que estimassem possíveis cenários para a mortalidade pela doença. O mais pessimista foi o calculado pelo então diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis, Julio Croda: se nada fosse feito, 180 mil pessoas morreriam até o final do ano.

Naquele momento, com menos de 5 mil mortes registradas no mundo, a previsão foi considerada alarmista por ministros de Bolsonaro. O episódio é contado por Mandetta em seu livro, “Um Paciente Chamado Brasil”. Vistas de hoje, tais previsões parecem até suaves. O ano de 2020 terminou com 195 mil vítimas fatais, o país já soma 265 mil vidas perdidas para o coronavírus. E Croda já não vê mais sentido em projetar novos cenários.

— Toda previsão é baseada na taxa de contágio, que pode mudar ao longo do tempo. Quanto maior o horizonte da projeção, maiores as possibilidades de erro, porque há elementos, como novas variantes do vírus, que mudam totalmente o cenário — disse o ex-diretor do ministério, que é pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). — Foi o que aconteceu no Brasil. Para fazer qualquer previsão agora, seria preciso levar em conta a velocidade de vacinação e se as vacinas serão efetivas ou não contra as novas variantes. É muito difícil ter certeza do que vai acontecer a longo prazo.

A única estimativa que Croda arrisca fazer é a de que o número real de casos e de mortes seja de pelo menos o dobro do registrado, em razão da subnotificação provocada pela falta ou pelo manuseio equivocado dos testes para a detecção da Covid.

Para o infectologista, dos erros cometidos na pandemia, o mais grave, espécie de “pecado original” do qual decorrem todos os outros, foi a renúncia do governo federal em coordenar a ação dos estados e estabelecer uma política unificada de combate à pandemia.

Até Croda deixar o ministério, no final de março, os técnicos de sua equipe estavam elaborando um boletim com orientações para estados e municípios sobre como proceder em cada cenário de avanço do vírus em suas regiões, considerando variáveis como taxa de transmissão e ocupação de leitos de UTI. Em meados de abril, Mandetta foi demitido.

O documento jamais foi publicado e, como consequência, cada estado e município adotou seus próprios critérios, muitas vezes movidos pela pressão da opinião pública, sem considerar as recomendações de especialistas:

— Não houve um direcionamento técnico, então cada um fez o que quis. Alguns adotaram toque de recolher, lockdown de dois dias. Isso não adianta nada — reforça o infectologista, citando como exemplo Portugal, que tinha a maior taxa de transmissão do continente europeu e, após dois meses de lockdown, viu a curva de casos cair substancialmente, para o alívio do sistema de saúde do país. — Nenhuma cidade brasileira registrou isolamento social acima de 70%, como na Europa.

Isso não quer dizer que não existam exemplos positivos a serem seguidos. Croda cita locais onde foram adotadas medidas que, apesar de impopulares, ajudaram a salvar vidas. Em Minas Gerais, tanto o governador Romeu Zema (Novo) como o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) determinaram toques de recolher e o veto ao funcionamento de serviços não essenciais em diferentes ocasiões desde o início da pandemia.

Na última quinta-feira, o prefeito anunciou que “trancaria a cidade” e que não esperaria por um colapso para tomar decisões mais duras. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também adotou medidas de restrição e isolamento ao longo de 2020, e na última semana retomou a estratégia. Em Minas e na Bahia, os índices de mortalidade (mortes por 100 mil habitantes) são menores do que na média do Brasil.

— A taxa de mortalidade é o melhor indicador sobre a qualidade da resposta à Covid. Claro que é muito importante ter leitos para os doentes, mas a verdade é que dois terços dos pacientes que vão para a UTI morrem. Por isso, para evitar mortes, é muito mais eficiente reduzir a transmissão da doença do que multiplicar o número de leitos — afirma Julio Croda.

O fracasso brasileiro no combate à pandemia fica patente especialmente nesse quesito. A taxa de transmissão em território nacional oscilou ao longo de 2020, mas desde dezembro sinaliza descontrole na disseminação do vírus. No último levantamento do Imperial College de Londres, universidade britânica que compila estatísticas de diferentes países do mundo, o índice cresceu de 1,02 para 1,13 no intervalo de uma semana. Isso significa que 100 pessoas transmitem o coronavírus para outras 113 no atual quadro brasileiro.

A situação é tão preocupante que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu na última sexta-feira que sejam adotadas “medidas agressivas”. — Se o Brasil não for sério, vai continuar a afetar toda a vizinhança lá e além. Não é só sobre o Brasil.

Enquanto isso, nossas autoridades públicas ainda se digladiam sobre compras de vacina, a necessidade de fazer ou não lockdowns e até mesmo em torno dos benefícios do uso de máscaras. Nesse contexto, é compreensível que nem mesmo o mais pessimista dos infectologistas se arrisque a prever novos cenários.

O Globo 

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