ONU diz que Brasil pode dar calote em dívidas

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Foto: Anton Petrus / Getty Images

A Organização das Nações Unidas (ONU) fez um alerta nesta segunda-feira (29) para um possível risco de países em desenvolvimento não pagarem suas dívidas por conta dos efeitos fiscais da pandemia do novo coronavírus. Para António Guterres, secretário-geral do órgão, a não ser que medidas sejam tomadas, o mundo corre o risco de ter “uma outra década perdida”.

De acordo com a ONU, 42 economias que fizeram empréstimos em mercados capitais sofreram rebaixamentos soberanos desde o início da pandemia, sendo seis países desenvolvidos, 27 economias emergentes e nove países subdesenvolvidos. Somente no último ano, segundo Guterres, seis países deram calotes nas suas dívidas externas: Argentina, Belize, Equador, Líbano, Suriname e Zambia.

A ONU faz um alerta: “tais rebaixamentos aumentam os custos dos empréstimos, em especial para países em desenvolvimento, o que pode, por sua vez, aumentar o risco de mais nações terem dívidas insustentáveis”. O risco se torna ainda maior se a pandemia durar mais tempo do que o previsto.

Países que não têm dívida relevante em dólar, como o Brasil e a África do Sul, também apresentam risco de dar calote nos próximos meses. No caso do Brasil, segundo Guterres, o ponto é a redução no prazo médio das dívidas — o que pode culminar em um problema muito maior em um futuro próximo e acabar com a “ilusão de sustentabilidade” que existe por aqui. Como resultado da afirmação do secretário-geral, o dólar renovou a máxima das últimas semanas, batendo a marca de R$ 5,80.

“Há um risco real de se perder o controle da dinâmica da dívida caso não se estabilize mais rapidamente as impressões sobre o governo federal que está sofrendo crises reiteradas. A crise desta semana é a eventual saída do chanceler Ernesto Araújo e a discussão sobre isso sem dúvida eclipsa a agenda de reformas e outras medidas”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton. De fato, o ministro pediu demissão no início da tarde desta segunda-feira (29).

Para Guterres, algumas ações podem ser tomadas para evitar que os países se endividem ainda mais e causem um rombo no Fundo Monetário Internacional (FMI).

A primeira delas é o alívio da dívida. Nesse item, o secretário-geral salienta a necessidade de se fazer novos empréstimos, o que “pode levar à melhoria da qualidade de crédito” ao “financiar investimentos produtivos”, o que “pode liberar recursos, criar condições sob as quais os países podem retornar ao acesso voluntário ao mercado e reduzir custos totais de empréstimos, com impactos positivos em toda a economia”.

Outra proposta feita por Guterres é uma assistência maior oferecida para países menores e em desenvolvimento.

Segundo ele, é necessário que os governos forneçam novos financiamentos para que as nações consigam recapitalizar seus bancos multilaterais de desenvolvimento e acelerar o cronograma para reabastecimento dos fundos, além de cumprir os compromissos de assistência oficial ao desenvolvimento (ODA, na sigla em inglês). O objetivo é, também, fornecer financiamento para países em desenvolvimento para investimento em longo prazo.

O secretário também pede que o G20 estenda a Iniciativa de Suspensão da Dívida do Banco Mundial (DSSI, na sigla em inglês) para o final de junho de 2022 e inclua países de renda média, gravemente afetados pela crise.

Além disso, ele solicita que os países de renda mais alta façam investimentos mais robustos no FMI via Sales Development Representative (SDR), o que pode evitar maiores problemas nos próximos anos, segundo Guterres.

“Estou encorajado ao ver que nossa insistência na necessidade de uma nova alocação de Direitos Especiais de Saque pelo FMI, e a realocação de DES não utilizados para apoiar países vulneráveis, incluindo os de renda média, está agora ganhando aceitação generalizada. Vamos garantir que isso aconteça — e que seja gerido de forma adequada para o benefício do mundo em desenvolvimento”, disse ele.

CNN Brasil 

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