Pazuello ainda não destruiu a imagem das Forças Armadas

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Foto: Reprodução

Uma das perguntas mais importantes feitas por cientistas políticos nos dois últimos anos é qual o papel das Forças Armadas no governo de Jair Bolsonaro? Parte significativa desses analistas tem criticado a exagerada presença de militares na Esplanada, de tal maneira que muitos já se questionam se esse não seria um governo militar ou pelo menos um governo de generais. Apontam para o apoio maciço, antes e depois da campanha eleitoral, recebido por Bolsonaro do segmento e estranham o fato de que, diante da “condução da crise sanitária”, surjam tão poucas vozes críticas entre oficiais e praças em relação ao governo.

Muitos afirmam terem deixado as ilusões fardadas. Alguns não acreditam mais em diálogo e defendem a revisão do controle civil sobre o poder militar. Há ainda um grupo que considera Bolsonaro quase um instrumento da burocracia militar, disposto a satisfazer todas as demandas do grupo, das salariais às de poder. De fato, inacreditavelmente, até na PEC em que Bolsonaro pretendia acabar com o piso orçamentário da Saúde e da Educação, o presidente deu um jeito para manter os reajustes dos militares fora do teto de gastos.

E, por último, existem os que alertam para a falta de pesquisas que mostrem claramente o espírito dos militares diante do governo. Alegam que eles estão longe de ser um grupo monolítico, têm aspirações distintas e pensamentos que não se resumem aos do general Rocha Paiva. Se fosse o contrário, por que Rocha Paiva parou como general de brigada? Ele não recebeu a terceira estrela, apesar de ter comandado a Escola de Comando e Estado-Maior (Eceme). Seriam todos defensores da cloroquina? E acreditariam em tratamento precoce sem conprovação científica? Em meio ao agravamento da maior crise sanitária do século, Bolsonaro aparece com os generais sem máscara em reunião no Alvorada. O descaso com a Saúde pública parece não ter limites.

O grupo no entorno do presidente simboliza o que pensam os colegas? Há obstáculos para ouvir os militares. E o maior deles não é a carga ideológica que parte carrega, escancarada com o bolsonarismo. No varejo, as Forças Armadas são capazes de mostrar a qualquer interlocutor uma lista de ações e de programas com o objetivo de desmontar críticas feitas no atacado. Cuidam bem de sua comunicação. Ao mesmo tempo, são distantes do mundo civil e é difícil saber o que pensam seus integrantes, sem cair na tentação de tomar os mais barulhentos pela maioria. Depois, há o crônico desconhecimento e desinteresse da sociedade diante dos temas da Defesa Nacional.

O debate sobre as Forças se estende à adesão de oficiais ao governo. Além do prestígio, dos cargos e dos salários, seria a visão de mundo do bolsonarismo que os atrai? E o silêncio de tantos da reserva, de dezenas de milhares fora do governo? Todos pensam como o general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, que sente saudade da ditadura militar? O cientista político José Álvaro Moisés se pergunta: “Os membros do Alto Comando não estão vendo a “catástrofe sanitária? Eles têm familiares, têm amigos, que, certamente, foram afetados pela doença”. Diante da gestão do general de divisão Eduardo Pazuello (Saúde), Moisés diz: “Os militares não podem servir de anteparo à ineficiência do governo”.

São, de fato, poucos os militares que resolveram criticar abertamente a gestão de Pazuello. No mês passado, alguém no Palácio do Planalto teve a ideia de mudar a legislação para permitir que o ministro da Saúde, que é intendente, pudesse chegar à quarta estrela no Exército. Seria uma manobra – uma peixada das galáxias – sob medida para desmoralizar o generalato. Entra-se na Academia pela mesma porta. Ali, os cadetes escolhem a Arma ou Serviço. Todos estão cientes dos desafios e vantagens que cada caminho oferece ao oficial. Quem escolhe a Intendência sabe que só poderá chegar a general de divisão. Devolver Eduardo ao Exército com uma estrela a mais no ombro seria tornar realidade o apelido que deram ao ministro: Pesadelo (no Palácio, dizem que a ideia nunca existiu, que é intriga, mas, nas palavras de um general ouvido pela coluna, não falta quem tenha ideias ruins em Brasília).

O silêncio dos militares seria explicado por uma vida ao lado das mesmas pessoas e afetos que os impediria de criticar abertamente o governo com o qual muitos de seus colegas se identificam? E o comandante Edson Pujol? Por que não reage? Por que não chama Pazuello e manda que passe para reserva? Há no Exército quem reconheça que o tuíte de Villas Bôas – aquele sobre a impunidade de Lula para pressionar o Supremo – foi um erro. Se não serviu para mudar os votos do STF, como alega Villas Bôas em seu livro, era melhor então que nem existisse. Ele expôs a Força a questionamentos no presente sobre por que não fazer um tuíte igual, contra a impunidade, na véspera do julgamento de Flávio Bolsonaro, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que levou à anulação da quebra do sigilo bancário do senador? Ninguém, todavia, pretende desmentir Villas Bôas ou criticá-lo publicamente. E Pujol não tem twitter.

O motivo para tanto silêncio pode estar nas pesquisas sobre a confiança das instituições. A última delas – a da XP/Ipespe, divulgada em fevereiro – mostra que a pandemia e a gestão de Pazuello não tiveram impacto sobre a imagem das Forças Armadas. A confiança nelas oscilou um ponto para baixo, ante o dado de janeiro de 2020, passando de 63% para 62%. A série de pesquisas iniciada em 2018 revela ainda que a confiança nas Forças Armadas era de 70% em dezembro daquele ano, antes de Bolsonaro tomar posse. De lá para cá, outras instituições da República permaneceram estáveis – todas abaixo das Forças. Exceto uma: a Presidência, que chegou a ter 45% de aprovação em abril de 2019 e caiu para 34% em fevereiro de 2021.

A conclusão é: no primeiro ano de Bolsonaro, os militares sofreram mais desgaste em sua imagem do que no ano da pandemia. O comando comemora com seu capacete de teflon. Como não vê sua imagem afetada, não sente necessidade de responder às críticas, indentificadas mais com a polarização política. Só não deve esquecer o quanto a associação das Forças Armadas com um governo – seja ele qual for – é tóxica para democracia. No Alvorada, os generais de Bolsonaro acreditam ser possível se proteger do vírus sem máscaras, mas não sabem que é impossível se proteger da história. Ela contará os mortos e os feridos. Os silêncios coniventes e os afetos destruídos para o horror das gerações futuras.

Estadão

 

 

 

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