Presidente do IBGE se demite

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Foto: Licia Rubinstein / Agência O Globo

O IBGE informa que Susana Cordeiro Guerra pediu exoneração do cargo de presidente do órgão por motivos pessoais e de família. Ela continuará no cargo até a transição para o novo presidente a ser indicado.

O anúncio do instituto vem logo após o Congresso cortar ainda mais recursos e praticamente zerar o Orçamento plara o Censo Demográfico de 2021. O texto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. Se for aprovado, pode inviabilizar a pesquisa, que já deveria ter sido realizada em 2020, mas foi adiada por causa da pandemia.

Susana disse ao GLOBO que não quer falar nesse momento sobre sua saída:

– Tive que avisar ao Ministério da Economia hoje mas ainda nem comuniquei à minha família.

Ainda não há um nome para substituição, mas ela garante que haverá uma transição “com calma”.

Susana é especialista nas áreas de reforma do estado, descentralização e fortalecimento da capacidade organizacional do setor público, e já foi economista do Banco Mundial. Estava no comando do IBGE desde fevereiro de 2019.

O Censo Demográfico é realizado a cada 10 anos e é a principal radiografia da população brasileira. Estes dados ajudam o governo e outras entidades a traçarem políticas públicas, por exemplo.

A pesquisa já foi adiada do ano passado para este ano por conta da pandemia de Covid-19. Agora, a pesquisa está novamente sob risco, diante dos cortes no Orçamento.

Antes mesmo dos cortes do relator, o IBGE já havia alterado a pesquisa para fazer o Censo caber no Orçamento estabelecido pelo governo.

Segundo especialistas, o corte pode acarretar um apagão estatístico e minar políticas públicas para os próximos anos.

– O Censo de 2021 já não terá mais. Ela (Suzana) estava há 40 dias tentando negociar em Brasília, ficou completamente sozinha, não tinha o que fazer – diz o sociólogo e ex-presidente do IBGE, Simon Schwartzman.

Ele lembra que a última vez que o Censo foi adiado foi de 1990 para 1991, no governo Collor. Schwartzman avalia que na atual conjuntura ainda é possível que a pesquisa seja jogada ainda mais para frente.

O problema, segundo ele, é que quanto mais se posterga o levantamento, mas impreciso ela fica: – O Censo é marco geral a partir do qual pode interpretar outras pesquisas. Com o adiamento, a validade desses resultados ficam cada vez mais incertos.

O economista e também ex-presidente do IBGE, Sérgio Besserman Vianna, considera inadequada a realização do Censo no ano que vem, que é ano de eleição e teme que a pesquisa se perca sem verba e prioridade do governo.

– Se fizer o Censo em 2023, podem querer empurrar para 2030 ou fazer de uma forma mais simples. O pior é ficar sem um retrato do Brasil e da pandemia. Esta é a única pesquisa com amostra por territórios menores com dados sobre renda, emprego, mortalidade infantil, entre outros. Se adiar muito, perde-se a acurácia na informação – avalia o economista.

O Globo