Profissionais de Saúde dizem que não aguentam mais

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Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Em apenas um plantão, um médico viu 10 pacientes morrerem em uma unidade de terapia intensiva (UTI) para Covid-19 em Goiás. Uma colega de profissão perdeu a conta de quantos trabalhadores da saúde pediram afastamento ou demissão, por exaustão extrema. Para outro médico do Rio, a pandemia mostrou que ele “não tinha mais família”.

“Nunca dei tanta notícia de óbito na minha vida, nem vi tantos colegas sofrerem junto de pacientes e familiares. Parece filme de terror, e a qualquer momento a gente também pode ser acometido”, diz o médico goiano Euler Sousa e Silva, 46 anos.

Em todo o Brasil, profissionais de saúde enfrentam rotina em verdadeiros campos de guerra contra o coronavírus, que já matou quase 280 mil pessoas no país. Entre elas, estão cerca de 600 enfermeiros e 624 médicos que foram contaminados ao tentar salvar a vida de pacientes com Covid-19 em hospitais, segundo memorial virtual do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Aos que continuam na linha de frente contra o coronavírus, só resta encarar o ápice do esgotamento físico e mental que ainda atinge milhares de profissionais da saúde no segundo ano da Covid-19 no país,.

O caos deve aumentar. No país, oito em cada 10 profissionais de medicina da linha de frente veem a pandemia neste ano tão grave quanto em 2020, ou até mesmo pior. Sete em cada 10 apontam tendência de aumento de mortes.

Os dados são da primeira pesquisa nacional Os Médicos e a pandemia de Covid-19, feita pela Associação Médica Brasileira (AMB), com 3.882 trabalhadores da categoria, e divulgada no mês passado. No total, 92% deles confirmaram casos de profissionais com ao menos um problema causado pelo enfrentamento da pandemia. Veja os principais:

Ansiedade;

Estresse;

Sensação de sobrecarga;

Exaustão física ou emocional;

Mudanças bruscas de humor;

Dificuldade de concentração.

Choro, rotina dolorosa

Apesar do medo, o intensivista de Goiás mergulha na dolorosa maratona de horror todos os dias. Ele se divide entre plantões em um hospital particular de Aparecida de Goiânia e no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Brasília, e transporte de pacientes com Covid-19 em ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Já chorei na frente de colegas. Às vezes, a gente sai de perto e vai para um canto para não abalar o resto da equipe, mas teve momento que foi na frente de todo mundo, porque a gente tem fraqueza”, desabafa. Logo em seguida, cai no silêncio e chora. “Estou engasgado, cansado, não aguento mais essa carga.”

Presidente de associação que reúne 33 hospitais de alta complexidade na rede privada em Goiás, todos com leitos de Covid-19 lotados, Haikal Helou confirma que médicos estão no limite. “A pressão é constante. Tem médico tomando remédio pra dormir. Amigos psiquiatras dizem que os consultórios nunca estiveram tão cheios, principalmente de colegas”, afirma.

Os profissionais de saúde não estão livres de sentir no próprio seio da família as garras da doença. A presidente do Sindicato dos Médicos de Goiás, Franscine Leão, de 38 anos, viveu uma das piores sensações, no último dia 7, quando a irmã dela, de 35, teve o quadro de Covid-19 agravado.

Mesmo com plano de saúde, faltava vaga em um sistema à beira do colapso. A mulher ficou um dia em casa, com ventilação de oxigênio alugada pela própria família. Como o caso evoluiu rapidamente para complicações, foi necessário buscar vaga na rede hospitalar. Acabou sendo intubada em UTI para Covid-19 do hospital particular mais caro de Goiânia.

Desde que a irmã foi diagnosticada com Covid-19, em fevereiro, a médica dividiu atenção ao caso com a rotina em unidade de saúde de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, onde é constante a espera de pacientes graves por vaga em UTI. Apesar de sua irmã ter recebido alta na última sexta-feira (12/3), Leão guarda o terror na memória.

“Ano passado, já tive que escolher quem iria ficar com oxigênio e quem iria ficar com falta de ar. Não tinha ponto de oxigênio”, lembra. “Este ano isso ainda não aconteceu comigo, mas a gente tem observado que agora estão morrendo muitos pacientes jovens”, conta. “A sensação de impotência é muito grande.”

Diariamente, em todo o país, cada pessoa internada por Covid-19 exige uma intensa operação de profissionais. Cobertos pelos incômodos e imprescindíveis aparatos de proteção, eles atuam em ritmo de máquinas, para pronar (virar de bruços), sedar, intubar e, em casos mais graves, ambuzar (realizar respiração manual), além de fazer muita força para reanimar os pacientes.

“Já fiquei duas horas reanimando paciente. Em muitos, o respirador [mecânico] não entra. O pulmão fica duro igual pedra. Muitas vezes, a gente tem que ficar em pé na maca, jogando peso do nosso corpo, para conseguir fazer a massagem cardíaca efetiva. Chegou a ponto de eu ter câimbra na mão. Quando parei e declarei o óbito, estava molhada, escorrendo suor”, lembra Franscine Leão.

Segundo Franscine Leão, médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem estão exaustos, em hospitais de todo o país. “A gente está servindo para fazer atestado de óbito”, relata. “Já perdi as contas de quantos colegas estão se afastando e de enfermeiros pedindo demissão, por transtorno de ansiedade ou de estresse pós-traumático”, acrescenta.

Assim como Goiás, São Paulo e DF, o Rio de Janeiro também virou cenário de desolação para os profissionais da saúde. O médico intensivista Cláudio Chagas, de 41, ex-diretor técnico do Hospital de Campanha no Riocentro, zona oeste do Rio, disse que a pandemia provocou uma reviravolta em sua vida.

“A pandemia chegou, e a principal mudança na minha vida foi entender que ‘eu não tinha mais família’”, diz. O maior desafio dele, além de lidar com o vírus desconhecido e a dificuldade de cuidar dos doentes, foi dirigir a equipe de hospital que se dedicou exclusivamente a pacientes com Covid-19.

Para isso, enquanto fornecedores não entregavam suprimentos, teve de improvisar recursos, adaptar equipamentos e, principalmente, absorver a necessidade de cuidar dos médicos sob o comando dele.

“Aqueles que perdiam seus parentes, que saíram de casa para proteger seus parentes, aqueles que desistiram, entre outros desafios, sem esquecer que eu também tinha pessoas para cuidar em casa”, conta. Ele também é ex-chefe do CTI do Hospital Ronaldo Gazolla, referência no estado do Rio e exclusivo para pacientes de Covid-19.

Chagas perdeu o pai em setembro, mas não sabe se foi por causa de complicações da Covid-19, porque, segundo ele, o diagnóstico foi inconclusivo. “Para me ajudar e ficar perto, minha esposa, dermatologista, entrou para a equipe, e ambos passamos esse tempo preocupados com nossa filha, de 4 anos”, relata.

“O mais forte para mim foi perder meu pai, entender o quanto foi e tem sido grave o efeito devastador do vírus e a falta de expectativas de melhora num curto prazo”, conta o médico do Rio.

Ele resume a mesma frustração e falta de perspectiva dos demais profissionais de saúde de todo o país. O agravante é que a vacinação caminha a passos lentos, e a pandemia tem encontrado força, diante da falta de política nacional de enfrentamento à Covid-19, articulada com estados e municípios.

Metrópoles

 

 

 

 

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